As entidades goianas de pecuaristas estão reivindicando dos frigoríficos que definam a contrapartida que oferecerão aos criadores e invernistas pela rastreabilidade dos seus rebanhos, já que não estão legalmente obrigados a adotá-la. Eles argumentam que são os frigoríficos que necessitam de bovinos rastreados para poderem exportar carne para a União Européia. Para buscar um acordo, representantes dos dois setores se encontraram na terça-feira passada (06), quando analisaram preliminarmente a pauta de reivindicações dos pecuaristas, que inclui vários outros pontos, além da rastreabilidade.
Participaram do encontro, pelos pecuaristas, o presidente da Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), Macel Caixeta, o presidente da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), Maurício Faria, e o coordenador do Fórum Nacional da Pecuária de Corte, Antenor Nogueira. Representando os frigoríficos, compareceram apenas o diretor-superintendente do Goiascarne, Rodrigo Siqueira, e o presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes (Sindicarne), José Magno Pato. Diante do baixo comparecimento da indústria, ficou decidido que as entidades de produtores apresentarão por escrito uma proposta detalhada para que o Sindicarne possa debatê-la previamente com os frigoríficos.
Pauta
Caixeta diz que, em relação à rastreabilidade, os frigoríficos, quando muito, se comprometem a cobrir os custos, mas os pecuaristas preferem um porcentual de aumento no preço da arroba. “Até porque, conforme a tecnologia utilizada, os custos da rastreabilidade diferem de produtor para produtor, o que inviabiliza a adoção de uma taxa fixa a ser paga pelos frigoríficos”, argumenta o presidente da Faeg. Para Antenor Nogueira, se os frigoríficos não se dispuserem a remunerar o produtor pelo boi rastreado terão grande dificuldade para cumprir seus contratos de exportação de carne para a Europa.
Mas além da rastreabilidade, os pecuaristas querem negociar com os frigoríficos forma de comercialização, com pesagem tradicional de carcaça, ou do animal vivo na fazenda ou no frigorífico, com 12 horas de jejum; adoção da classificação e tipificação de carcaça; estabelecimento de um padrão de limpeza da carcaça; transparência na pesagem; classificação do couro e parceria no marketing da carne goiana. Mauricio Faria diz que o atual sistema de comercialização não estimula o desenvolvimento da pecuária de corte.
Couro
Faria reclama, também, que o produtor não é remunerado pelo couro, que fica como subproduto para o frigorífico. Segundo ele, um animal de bom porte produz couro de até 40 quilos, que é repassado aos curtumes por até R$ 2,50 o quilo. “Isso significa que o produtor perde, em dinheiro, o equivalente a mais de duas arrobas em cada boi”, diz o presidente da SGPA, acrescentando que o fato explica porque o pecuarista demonstra pouco interesse em produzir couro de qualidade.
De acordo com Antenor Nogueira, o País produz anualmente cerca de 34 milhões de couros, dos quais 12%, o equivalente a mais de R$ 6 bilhões, se perdem devido à marcação a fogo em lugar inadequado, cortes de arame e outros defeitos provocados por bernes e carrapatos.
O presidente do Sindicarne, José Magno Pato, elogia a iniciativa de negociação, mas considera inconsistentes algumas das propostas dos pecuaristas. Segundo ele, a remuneração da rastreabilidade, por exemplo, deve ser definida pelo mercado e não em reuniões de lideranças.
Quanto ao couro, ele diz que a questão é discutível, mas assegura que o produtor já recebe remuneração, tendo em vista que o frigorífico define a cotação da arroba de carne levando em conta o valor dos subprodutos na composição do preço do boi. Sobre a limpeza de carcaça, afirma que um ou outro frigorífico pode ser mais exigente, mas de um modo geral ela é definida pela inspeção oficial.
Fonte: O Popular/GO (por Edimilson de Souza Lima), adaptado por Equipe BeefPoint