À medida que a crise no mundo árabe se alastra, seus efeitos sobre o restante do globo vão sendo sentidos. Trata-se de importante região produtora de petróleo e altamente dependente de importações, inclusive do agronegócio. Para a cadeia produtiva da carne bovina é importante acompanhar o desenrolar da recente crise, pois nesta região estão importantes clientes dos exportadores brasileiros como o Egito que foi o 4º maior cliente para a carne brasileira em 2010.
“À medida que a crise no mundo árabe se alastra, seus efeitos sobre o restante do globo vão sendo sentidos. Trata-se de importante região produtora de petróleo e altamente dependente de importações, inclusive do agronegócio. Os altos preços dos alimentos, aliás, foram relevantes para o surto de revoltas nessa região de elevada concentração de renda e de marcante pobreza”, comentou o Professor titular da Esalq/USP e coordenador científico do Cepea, Geraldo Barros em artigo recentemente publicado no BeefPoint.
Barros completa seu pensamento lembrando que “para o agronegócio, importa saber que boa parte do crescimento esperado na demanda de alimentos na próxima década está associada aos países da África e do Oriente Médio”.
Para a cadeia produtiva da carne bovina é importante acompanhar o desenrolar da recente crise, pois nesta região estão importantes clientes dos exportadores brasileiros. Em 2010, o Egito foi o 4º maior mercado para a carne brasileira, para onde foram embarcadas 66.722 toneladas de carne in natura, que geraram uma receita de US$ 235,2 milhões e recentemente os exportadores brasileiros tiveram que redirecionar os produtos que seriam enviados ao país. As vendas à Líbia no ano passado chegaram a US$ 57,7 milhões, com um volume embarcado de 16.259 toneladas
No início de 2010 discutimos aqui no BeefPoint se a política de exportação brasileira, extremamente direcionada para os países emergentes, estava correta.
Na época, Carlos Roberto de Oliveira Jr, que atua no setor de exportação, comentou que os preços da carne brasileira já estavam muito altos e que “Rússia, Irã e Chile são mercados de altos e baixos, que podem comprar muito em uma época e fechar para a carne brasileira em seguida”.
Para Giuliano Fontolan, médico veterinário e gerente de exportação do frigorifico Bon Mart, a Rússia, principal mercado da carne bovina brasileira, é um mercado sempre instável. “Mercados como o Oriente Médio começam a importar carne da Índia, produto esse com preços bem inferiores aos da carne brasileira. Outro fator é a insegurança em recebimentos nestes mercados. O Irã, país do qual tivemos um grande aumento dos embarques, historicamente também já foi motivo de preocupação para os exportadores brasileiros. Como podemos ver os principais destinos da carne bovina brasileira são bastante instáveis tanto em preço como nos volumes de embarque, o mercado mais interessante para o Brasil ainda continua sendo a Europa, destino do qual encontramos diversas barreiras sanitárias e comerciais o que torna os volumes embarcados para a Comunidade Europeia bastante reduzidos. Este sim é um mercado que pode remunerar muito melhor pela nossa carne, mas infelizmente o Brasil não está sendo competente em negociar as mudanças necessárias para derrubar estas barreiras”.
Na última terça-feira, o diretor operacional da divisão de bovinos e food service do grupo Marfrig, James Cruden, disse que mesmo com os conflitos nos países do Oriente Médio, as vendas não foram afetadas e estão normais. “Na área de bovinos, o país com maior representatividade para a Marfrig no Oriente Médio é o Irã e está tudo habitual com eles. Mesmo no Egito tudo seguiu normal”, afirmou.
Com relação a uma oportunidade de reajustes de preços dos produtos ante uma alta do petróleo, Cruden disse que normalmente com o incremento nas cotações do petróleo, a renda da população na região aumenta e o consumo segue esse movimento. Mas, segundo ele, não dá para dizer que isso realmente vá ocorrer.
Analisando estes pontos, o foco da exportação brasileira está correto e deve ser mantido ou novos rumos devem ser pensados? Deixe sua opinião através do espaço para cartas do leitor abaixo.
0 Comments
Nao é questao do foco da exportacao brasileira estar correto ou nao – afinal vendemos carne ONDE PODEMOS VENDER -nao é nossa escolha – sao os mercados que compram a nossa carne – vejam que um dos mais importantes mercados hoje em dia é o explosivo Iran – um verdadeiro BARRIL DE POLVORA prestes a explodir – diria que é uma questao de tempo esta explosao! – temos a Russia com toda a sua instabilidade – temos o Egito com todos os seus problemas atuais e as demais dificuldades que certamente virao nesta indefinida transicao politica – temos Venezuela outro mercado explosivo – temos a Europa que sofre com um problema de recessao economica e uma concorrencia feroz onde de nada adianta reclamar de barreiras sanitarias etc- o que NAO temos é COMPETITIVIDADE para aumentar as nossas vendas na Uniao Europeia…. esta é a grande verdade –
desta forma temos mais é que rezar e torcer para que estes mercados sigam comprando a nossa carne e que nao tenham problemas – e claro o ideal seria pensar em novos rumos e novos mercados a serem abertos – tenho certeza que as associacoes de classe estao preocupadas e trabalhando nisto – mas com esta taxa de dolar -com este preco de boi – como recuperar a nossa competitividade???
Temos hoje os precos de carne dos mais caros do mundo -qualquer venda é feita a base de forceps depois de uma briga imensa com os compradores ,em funcao dos nossos altos precos – E o que, heroicamente ,depois de muita luta ,logramos sucesso em vender, é principalmente em decorrencia de que os nossos concorrentes mundo afora nao tem volume para entregar .nao restando outras alternativa aos importadores senao de vir comprar aqui no Brasil, que é onde existe o volume – compram chiando chorando mas compram a um preco nem sempre brilhante para os frigorificos – mas na primeira oportunidade que encontram uma oferta a um preco um pouco inferior ao nosso nos deixam de imediato –
Novos mercados sao muito dificeis de conquistar no momento -mas temos obrigatoriamente que pensar em novos rumos pois o Brasil está muito mas muito exposto na atual realidade das nossas exportacoes!
Boa tarde André. Já está mais do que provado que, ao contrário da America do Sul, a população do Oriente Médio não leva desaforo para casa e não aguenta calada por muito tempo, os desmandos de seus governos. Fico aqui pensando o que acontecerá no dia em que os iranianos acordarem e se rebelarem contra o “grande companheiro Ahmadinejad”. O Irã é hoje nosso principal importador de carne. Será interessante ver o que vai se passar então. Por isto sempre defendi a manutenção dos mercados tradicionais, ao mesmo tempo que se procura mercados emergentes.
A crise árabe pode aumentar a volatilidade, e isso é o que desejam os que especulam com commodities nos mercados virtuais. Eles lamberiam os beiços ainda mais caso a onda de protestos atingisse a China.
Mas nada como um dia após o outro. Depois das tormentas os mercados físicos voltam sempre aos seus fundamentos, e não se pode dizer que haja uma bolha no mercado da carne. Os preços estão caros devido a escassez, alta no preço de grãos e taxa de câmbio desfavorável ao importador.
“Vendemos carne onde podemos vender”, sábias palavras. Simples assim, ditas porque óbvias, por um operador de mercado. Parabéns Sr. Carlos Massotti. Com outras palavras, poderíamos tambem dizer, vendemos para quem quer comprar. Para o comerciante (industria inclusa), o ideal é comprar ( ou produzir) barato e vender caro, mas isto nem sempre é possivel. Neste momento em que o fator preço atua como um limitador de consumo, para adequar uma demanda crescente a uma produção, no máximo, estavel, fica dificil para os exportadores. Se para os traders isto já é complicado, imagine para a industria frigorífica, que mesmo com os preços em patamares inferiores já tinham dificuldades de gerar caixa. Mas vamos torcer para que nossos compradores consigam acompanhar este movimento.