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25 de fevereiro de 2009
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27 de fevereiro de 2009

Crise, Big Mac, mercado interno e exportações

A crise mundial vem se aprofundando nos últimos meses, reduzindo as expectativas para a economia global em 2009. No Brasil, a situação também piorou nos últimos meses.Porém oferta reduzida e as perspectivas de menor produção nos próximos meses devem ajudar a manter os preços do boi gordo em 2009. Continuo com a avaliação de que a pecuária de corte deve ser um dos setores menos afetados pela crise mundial.

A crise se amplia, no mundo e no Brasil

A crise mundial vem se aprofundando nos últimos meses, reduzindo as expectativas para a economia global em 2009. Segundo a Economist, em 2009 espera-se que o mundo decresça 1,9%. Na metade de janeiro, a previsão era uma redução de 0,9%.

No Brasil, a situação também piorou nos últimos meses. As demissões têm aumentado, com destaque na mídia para o recente caso da Embraer. Segundo estudo da Economist, publicado em 25 de fevereiro, a previsão para o Brasil em 2009 é também de decréscimo da economia. Espera-se que o PIB brasileiro decresça 0,5% em 2009. A última previsão, de janeiro desse ano, era de crescimento modesto (1,6%).

Mesmo com os estímulos do governo, entre eles redução de impostos e o PAC, o tamanho da economia brasileira em 2009 deve ser menor que 2008. Para 2010, o mesmo estudo prevê um crescimento de 3,2%, pequeno mas já iniciando uma recuperação.

Nesse cenário, em que o mundo decresce 1,9% e o Brasil 0,5%, mais uma vez as atenções se voltam para o mercado interno. No caso da carne bovina, os últimos anos foram marcados pela enorme expansão das exportações brasileiras, levando o foco de todo o setor para o comércio externo. Em 2008, com a valorização do Real, muitas empresas se voltaram com mais atenção ao mercado interno.

Índice Big Mac e as exportações brasileiras de carne bovina

Em agosto de 2008, escrevi um artigo sobre o índice Big Mac que avalia a paridade de poder de compra em inúmeros países. Naquela época, com a grande valorização do Real, o Brasil tinha um dos preços mais caros do mundo, o que servia de indicação que o mercado interno estava mais favorável que o externo, para a carne brasileira. Naquela época, a comparação da paridade de compra entre países, indicava uma valorização do Real de 33% frente ao dólar.

Em janeiro/09, a Economist publicou novamente esse estudo. Com o dólar agora na casa dos R$ 2,30, a situação melhorou muito para o Brasil, que não tem um dos sanduíches mais caros do mundo.

No entanto, vale revisar quais são os países com paridade de compra maior que o Brasil. O grande destaque continua sendo os países da UE, que trabalham com euros, e que o Brasil, desde janeiro do ano passado, exporta muito menos do que poderia, devido a restrições ligadas a rastreabilidade. Mais um lembrete de que o Brasil poderia ganhar mais, se conseguisse melhor acesso ao mercado europeu.

Os países com preços mais altos que o Brasil são:
– Suíça
– Noruega
– Suécia
– Países da região do euro

A lista continua muito parecida com a de agosto de 2008, só que agora o Real está 2% desvalorizado em relação ao dólar. Esses dados são interessantes, pela facilidade de visualização do poder de compra nos diferentes países. Observe que a Rússia tem uma paridade de poder de compra muito inferior ao Brasil nesse momento. Mais um indicativo de que deve comprar menos do Brasil em 2009, do que no ano passado.

Outro fator interessante é que utilizando-se esses dados, muitos países importantes para as exportações brasileiras de carne bovina têm suas moedas desvalorizadas frente ao dólar de forma muito mais intensa do que o Real. Exemplos: Brasil -2%, Rússia -51%, Chile -21% e Egito -34%. Em tese, quanto mais desvalorizada uma moeda for, mais fácil é para este país exportar.

Outro foco interessante para o Brasil são os 11 países considerados com grande potencial para os próximos anos, além de Brasil, Rússia, Índia e China. São os “Next Eleven” – Bangladesh, Egito, Indonésia, Irã, México, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Coréia do Sul, Turquia e Vietnã. Esses países devem representar cada vez mais uma importante fatia da carne consumida no mundo. Em 1990, apenas 1/3 da população dos países emergentes era considerada classe média. Atualmente, esse número ultrapassa os 50%. O mesmo ocorre no Brasil.

Oferta e mercado interno

O mercado interno deve ser mais uma vez, o foco da cadeia da carne em 2009. Entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil é o melhor posicionado e a Rússia a que está em pior posição. Já propuseram até a retirada do “R” da sigla dos países emergentes com maior potencial.

Segundo levantamento da Abrafrigo, a queda nos preços do boi e da carne no atacado, não está chegando ao consumidor final. E em alguns cortes, os preços estão sendo elevados. Se isso se corrigir, é mais um fator otimista para o mercado pecuário em 2009.

A oferta deve se manter reduzida esse ano. E com os preços atualmente negociados na BM&F para arroba do boi gordo na entressafra, o confinamento esse ano pode ser significativamente menor do que em 2008. A Assocon estima uma redução de até 20% do volume de animais confinados.

Menos confinamento, menos gado para abate, menos oferta. O que pode levar a maiores preços.

Conclusão

O cenário da economia mundial e por conseqüência a brasileira vem piorando nas últimas semanas, o que pode impactar negativamente o mercado da carne e do boi nos próximos meses.

A oferta reduzida e as perspectivas de menor produção nos próximos meses (até pela expectativa de preços mais baixos) devem ajudar a manter os preços do boi gordo em 2009.

Continuo com a avaliação de que a pecuária de corte deve ser um dos setores menos afetados pela crise mundial. E as recomendações feitas em janeiro (mais mercados e melhor marketing) continuam válidas.

Atualização em 27/02

A notícia da suspensão dos abates pelo Independência, na tarde de ontem, confirma a tendência de que a falta de crédito no mercado está afetando o fluxo de caixa dos frigoríficos, em especial os que apostaram na manutenção do dólar desvalorizado em 2008. Na semana que vem iremos publicar um novo artigo, analisando esse novo cenário.

0 Comments

  1. andre pio de faria jr. disse:

    Parabens pela análise, eu só gostaria de manifestar meu repúdio a atuação dos grandes frigórificos que tem praticado preços suicidas, a suspensão dos abates pelo Independencia só vem confirmar essa prática predatória, poucos vão sobreviver, quem viver verá.

  2. Antonio Simão Abrão Filho disse:

    E uma vergonha ser pecuarista neste pais:

    Temos que cuidar de sem terra;
    Temos que temer os indios;
    Temos que produzir carne com qualidade;
    Temos que fazer rastreamento conforme os europeus querem;
    Temos que vender o boi pelo preço que os frigorificos pagam;
    Temos que rezar para receber;

    E quando vendemos não vamos receber pois calote mudou de nome, agora é recuperação judicial.

    Presidente ao inves de mandar dinheiro pro Hugo Chaves, pro Evo Morales, pra Cuba, socorra quem produz.

  3. Edward Pereira Jr disse:

    O Brasill está com tudo na mão mesmo diante da crise mundial, infelizmente tem políticos e um Presidente que só está pensando em reeleição, e não vê que precisa apoiar a base da Cadeia de Carne, o PRODUTOR.

  4. Marco Aurélio Vasconcelos disse:

    Dentro de uma avaliação mais abrangente, o índice big mac demonstra que o nosso poder de compra está maior do que os britânicos.

    Temos uma dificuldade de exportação por falta de crédito no comércio internacional – fluxo de caixa das empresas importadoras e retração do consumo.

    No mercado interno, uma retração menos importante do preço da carne no varejo. Nossos concorrentes fortes do Mercosul passam por dificuldades clímáticas e econômicas.

    Acredito que temos um ambiente muito favorável para o crescimento econômico, se soubermos aproveitar o momento para conquistar novos mercados.

    Te parabenizo Miguel pela visão de logo prazo, mais mercado e mais marketing na carne.

    Precisamos de mais regulamentação jurídica em nosso país, que proteja o produtor no comércio com os frigoríficos. Entregamos o boi para o frigorífico quitado antecipadamente, com a nota de produtor, sem vermos o dinheiro, e ficamos somente com um romaneio, documento sem valor para dar garantias do recebimento do valor transacionado.

  5. Osvaldo Chibiaque de Lima disse:

    Miguel

    Cumprimentos pela elucidação clara dos fatos;o que ocorre é que muitas vezes o produtor parece desconhecer seu potencial. Enquanto alguns reclamam de tudo, muitos, diante das adversidades, quer climaticas, financeiras e ou de mercado, buscam alternativas capazes de remunerar melhor seus negócios. Exemplo disso é o fato de focar sua produção para mercados que remuneram melhor, optando pela Rastreabilidade, complexa, porém não impossivel já que 900 produtores, aproximadamente, no Brasil, possuem suas propriedades habilitadas para UE. O momento é de dificuldades no mundo, em todos os setores. É imperativo que cada um faça algo mais, inclusive os setores públicos, pois a vida é feita de dasafios,é urgente que tomamos atitudes diferentes, para obtermos resultados diferentes.

    Vamos a luta, homens e mulhres do campo, não desanimamos. O mundo espera e confia em cada cidadão que produz.