Por Alberto Pessina, engenheiro agrônomo e diretor da Agropecuária Pessina.
Sempre em meus artigos comentei que o ponto mais importante de uma economia, setor ou cadeia é a criação de uma demanda forte. Muito mais importante do que a oferta, pois sem demanda, não conseguimos alocar nossos produtos no mercado.
Assim neste artigo, procurei buscar alguns raciocínios para que possamos entender o que está acontecendo em nosso mercado e como isto nos afeta. Iniciaremos pela parte de custos, visando entender um pouco a situação atual dos confinamentos, para que possamos discutir o futuro e as perspectivas.
Custos de Engorda em confinamento:
No modelo de análise de custos proposto, abordaremos o conceito de Margem Operacional, que nada mais é do que a Receita abatida de seus (CV) Custos Variáveis (boi mago, ração, impostos sobre receita). Sendo que na questão de ração, padronizamos a dieta em todas as praças e utilizamos a cotação de milho e soja como base da ração.
Desta forma, retiramos a questão do custo fixo que varia de empresa para empresa e utilizamos a Margem Operacional (MO) para verificar quanto nos sobra para pagar o Custo Fixo (CF) e apurar o nosso Lucro (Lucro = MO-CF)
Assim, no Gráfico 1, podemos verificar que nos meses de abril, maio e junho a MO considerando as cotações dos custos nos respectivos meses e a venda da @ na BMF de Outubro, está praticamente a zero em Três das praças analisadas. Ou seja, se descontarmos o CF, o resultado é negativo na engorda em confinamento.
Gráfico 1.
Na Tabela 1, pode-se observar os preços da BMF utilizados para o cálculo dos respectivos meses em cada praça.
Produção e Demanda
Depois de olharmos a questão dos custos, que nos demonstra a situação da nossa produção de confinamentos, podemos olhar como está a nossa produção e os preços praticados. Ou seja, quanto estamos ofertando de carne ao mercado e quanto o mesmo está disposto a pagar por esta oferta.
O Gráfico 2, nos dá uma boa imagem desta situação em relação a 2015. Nele podemos observar que a produção acumulada no ano está ligeiramente superior a 2015 (2%) e, mesmo assim, os preços praticados em 2016 estão superiores. Isto nos indica que a demanda, aceitou pagar um pouco a mais no boi gordo, sendo este, suportado em parte pelo aumento de 11,6% nos volumes exportados sobre 2015, que nos auxiliam a reduzir a oferta no mercado interno. Outro fator que destacamos é a margem maior obtida no mercado externo devido à desvalorização cambial ocorrida nos últimos anos. Porém é importante observarmos que nos últimos meses, está vem reduzindo com a valorização forte do real, o que pressiona estas margens.
Gráfico 2.
Porém, este aumento de preços não está sendo suficiente para pagar os custos de engorda, conforme observado acima. Reparem que os preços praticados em Maio, Junho e Julho estão bem abaixo dos preços praticados em Outubro, ou seja, o prejuízo para aqueles que estão ofertando animais confinados nestes meses são bem maiores.
Assim, se considerarmos a oferta atual de carne e os preços praticados, podemos criar algumas hipóteses para os próximos meses:
a. Utilizando-se de uma curva de Preços x Disponibilidade de Carne projetei abaixo a Tabela 2, que nos permite avaliar qual a redução na oferta de carne e a respectiva reação nos preços.
Tabela 2.
Ou seja, observando-se a Tabela 2, percebemos que dado a relação disponibilidade de carne atual (Linha 1. – Junho/2016) os preços praticados estão ao redor de R$ 156/@. E, para que os mesmos subam para R$ 163/@, seria necessária uma redução de 11,5% na oferta total de gado (algo ao redor de 365.500 cabeças).
Assim, se considerarmos que os confinamentos representam algo ao redor de 50% da oferta no segundo semestre e desejarmos que esta redução provenha apenas destes, seria necessária uma redução de 23% na produção dos confinamentos para obtermos um preço ao redor de R$ 163/@.
A partir destes raciocínios, poderíamos refletir sobre três questões que acho importantes;
Um abraço a todos e espero ter ajudado na reflexão dos produtores.
Por Alberto Pessina, engenheiro agrônomo e diretor da Agropecuária Pessina.
8 Comments
O texto demontra que ainda precisamos nos preparar muito mais e melhor para conseguir visualizar, sob um ponto de vista tecnicamente mais consistente e sólido, alternativas factíveis para o presente e o futuro dos nossos negócios pecuários.
Excelente trabalho. Mostra de maneira clara e consistente os fundamentos do mercado de carne bovina. Não acompanho tanto o setor pecuário por estar mais envolvido com a agricultura, porém a correlação é alta e fornece indicadores muito interessantes. Parabéns ao Sr. Alberto Pessina e ao pessoal da Beefpoint pela qualidade dos trabalhos.
Há quem diga, que o mercado se ajusta. Porém, o que percebo é que há uma diminuição de consumo. E porque? Por que muitos cidadãos estão sem renda ou sem perspectiva de renda. Sem renda, não vão acessar o mercado e assim como a carne é a fonte de proteína que mais cresce quando há um incremento na renda, o inverso é verdadeiro. A meu juízo, não temos, por hora, nenhuma novidade na economia nacional. E se tudo continuar como está, continuaremos, cada dia a mais, a diminuir o potencial de consumo interno. Produção de volume, neste momento será uma briga entre poder produzir (sem prejuizo) e poder consumir (sem renda). A válvula de escape seria mesmo um aumento nas exportações. Alguém falou em abertura de mercado para os EUA. Muito bem, se isso ocorrer, chegará em boa hora. Eu particularmente, sou cético quanto a essa possibilidade. Interessante tema.
Alberto
Contemplas e descreve o amplo senário da Pecuária de Corte Brasileira.
Suas constatações são contundentes.
Aproximando o foco para ver claramente a realidade de Produtor e Consumidor se apresenta outro senário.
Vindo para dentro da porteira
Batemos de cara com a realidade individual que compõe o universo.
Do outro lado
No pensamento decisório de cada consumidor, que motivos o orienta na escolha de que tipo de Carne vai
Comprar?
Qual é o preço que está consciente em pagar por cada Kg de Carne?
Ele quer qualidade e pode pagar??
Ou precisa de preço para poder comprar?
Qual é o equilíbrio?
Entre oferta e demanda.
Para todos os mercados.
Vamos nos colocar em todos os lados para sentir essa realidade.
Os estudos anteriores e atuais dos fluxos de circulacao de Carne e valores
Mostram claramente os gargalos
O que é feito para evitar paralisação?
Esse diagnóstico vai ser muito evidente a cada dia.
Onde tudo
Começa na decisão de Produzir.
Que é sinônimo de investimento que necessita de remuneração e retorno compatível aos demais.
Finaliza na venda ao consumidor.
Compra e paga a carne – gerou caixa.
Que encerra o fluxo de ida da carne e
Inicia o fluxo de retorno do dinheiro.
O produtor
Precisa saber :
O que Produz
Quanto produz
Para quem
Quanto custa e
Quanto precisa ganhar.
De tudo isso o mais difícil é
Produzir.
O que é certo e verdadeiro é que
Somos Mtos consumidores de Carne.
Quanto mais tempo ficarmos sem comer e quanto mais bem apresentada, mais valor a carne terá.
Quanto mais macia e saborosa mais vontade de retornar à comprar.
Isso são verdades com certeza.
Então, fica
Quais valores ao consumidor e
Qual valor ao produtor.
Essa equação quem pode resolver?
Vou afirmar.
É o dono da matéria prima
Boi vivo.
É o legítimo fiscal e juiz de ponta a ponta
Desde sua propriedade até a gôndola ou balcão do açougue ele tem autoridade para controlar o que lhe permite viver e faz os outros viverem.
O meio são prestadores de serviço que merecem todo o valor.
Mas,
Da autoridade e liberdade tem
A responsabilidade de preço e qualidade.
Qual é o real valor ou CUSTO de produção?
Ele está perfeitamente ligado ao domínio técnico do manejo com
Solo e Planta – Produção Vegetal
( Pastagens, Forragens e Grãos )
Que se transformam em
Pecuária de Corte – Produção Animal.
Dentro de um ambiente adequado de
Instalações, Mecanização , administração sob uma adequada estrutura pessoal por funções bem definidas.
Com muita
Eficiência
Chegamos a valores que qualquer um pode vir fazer melhor se souber.
Com referência ao confinamento;
É o complemento ou a ligação entre uma excelente Pecuária de Cria e uma agricultura muito eficiente.
Antes de confinar, precisamos dominar a produção de Bovinos e vegetais
Com qualidade , custo e escala.
Primeiro mandamento;
Faturamento Máximo, por semana,
25 a 500 cab/semana
Segundo mandamento,
Escala => kg – maxima/semana.
Terceiro Mandamento.
Qualidade => R$/kg ( Valor)
Fat = Escala x Qualidade
R $ = kg x R $/kg
R $ = R $
Faturamento – Custo = Margem Op.
Quarto mandamento
Margem Operacional 30%
Custo Operacional 20%
Custo Nutricional 50%
Faturamento Bruto 100%
Nutrição total
Produzida na propriedade com
Excesso dos minerais
Forragens e Grãos.
Silagem de Milho Planta Inteira
Produtividade 60 ton/há
Custo R $ 50/ton
Investimento Operacional
R$ 3.000,00/ha
Precisamos atingir
Controle de fertilidade do solo e produção vegetal para
Converter
1 kg de fertilizante formulado em
10 kg de matéria seca que se
Transforma em um kg de boi vivo.
Com residual da matéria seca do
Esterco – fertilizante Orgânico de
Recompensa .
O balanço total de massa é
Perfeito
Com evolução Mto positiva e
Crescente.
Equilíbrio em
Todos os sentidos.
Att
Aleri João Panazzolo
Engenheiro Agrícola
O51 9997 7736
Parabéns pelo belo trabalho dá pra entender aqui que na verdade é um conjunto de fatores que está dificultando nesse momento a nossa pecuária mais tudo passa .
Não sou pecuarista, sou estudante de medicina veterinária. Leio os artigos e os comentários, aprendo muito com ambos. Obrigada.
Bom dia. Excelente colocação Pessina, você adotou um custo fixo médio para concluir os dados. Ótima linha de raciocínio e deparamos que o lucro ou prejuízo está diretamente relacionado ao custo fixo de cada projeto. Sendo que o custo fixo para marginilização do lucro ou prejuízo está intríseco a escala de produção no qual a escala de produção está relacionado ao nível administrativo/tecnológico/produtivo. Estamos passando por uma turbulência e que a gestão vai fazer sem sombra de dúvida o diferencial de cada projeto pecuário.
Perfeito Danilo, o dimensionamento adequado e a eficiência do custo fixo farão toda a diferença. Porém, em algumas praças (TO, GO e MS), a Margem operacional está tão baixa que já torna a operação de engorda, após o abatimento do Custo Fixo, negativa neste ano.