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15 de julho de 2016
Mercado físico do boi gordo –15-07-2016
15 de julho de 2016

Crise, demanda fraca e o mercado de carne. O que esperar do segundo semestre? – Por Alberto Pessina

Por Alberto Pessina, engenheiro agrônomo e diretor da Agropecuária Pessina.

Sempre em meus artigos comentei que o ponto mais importante de uma economia, setor ou cadeia é a criação de uma demanda forte. Muito mais importante do que a oferta, pois sem demanda, não conseguimos alocar nossos produtos no mercado.

Assim neste artigo, procurei buscar alguns raciocínios para que possamos entender o que está acontecendo em nosso mercado e como isto nos afeta. Iniciaremos pela parte de custos, visando entender um pouco a situação atual dos confinamentos, para que possamos discutir o futuro e as perspectivas.

Custos de Engorda em confinamento:

No modelo de análise de custos proposto, abordaremos o conceito de Margem Operacional, que nada mais é do que a Receita abatida de seus (CV) Custos Variáveis (boi mago, ração, impostos sobre receita). Sendo que na questão de ração, padronizamos a dieta em todas as praças e utilizamos a cotação de milho e soja como base da ração.

Desta forma, retiramos a questão do custo fixo que varia de empresa para empresa e utilizamos a Margem Operacional (MO) para verificar quanto nos sobra para pagar o Custo Fixo (CF) e apurar o nosso Lucro (Lucro = MO-CF)

Assim, no Gráfico 1, podemos verificar que nos meses de abril, maio e junho a MO considerando as cotações dos custos nos respectivos meses e a venda da @ na BMF de Outubro, está praticamente a zero em Três das praças analisadas. Ou seja, se descontarmos o CF, o resultado é negativo na engorda em confinamento.

Gráfico 1.

fig1

Na Tabela 1, pode-se observar os preços da BMF utilizados para o cálculo dos respectivos meses em cada praça.

Captura de Tela 2016-07-15 às 14.59.20

Produção e Demanda

Depois de olharmos a questão dos custos, que nos demonstra a situação da nossa produção de confinamentos, podemos olhar como está a nossa produção e os preços praticados. Ou seja, quanto estamos ofertando de carne ao mercado e quanto o mesmo está disposto a pagar por esta oferta.

O Gráfico 2, nos dá uma boa imagem desta situação em relação a 2015. Nele podemos observar que a produção acumulada no ano está ligeiramente superior a 2015 (2%) e, mesmo assim, os preços praticados em 2016 estão superiores. Isto nos indica que a demanda, aceitou pagar um pouco a mais no boi gordo, sendo este, suportado em parte pelo aumento de 11,6% nos volumes exportados sobre 2015, que nos auxiliam a reduzir a oferta no mercado interno. Outro fator que destacamos é a margem maior obtida no mercado externo devido à desvalorização cambial ocorrida nos últimos anos. Porém é importante observarmos que nos últimos meses, está vem reduzindo com a valorização forte do real, o que pressiona estas margens.

Gráfico 2.

Fig 2

Porém, este aumento de preços não está sendo suficiente para pagar os custos de engorda, conforme observado acima. Reparem que os preços praticados em Maio, Junho e Julho estão bem abaixo dos preços praticados em Outubro, ou seja, o prejuízo para aqueles que estão ofertando animais confinados nestes meses são bem maiores.

Assim, se considerarmos a oferta atual de carne e os preços praticados, podemos criar algumas hipóteses para os próximos meses:

  1. Confinamentos aumentam a oferta no segundo semestre – nesta situação, e dado a demanda fraca e a valorização do Real, dificilmente teríamos preços maiores do que os praticados atualmente. Somente uma exportação bem mais fortes, seria capaz de permitir alguma alta. Fato este que não parece muito provável, com os nossos principais países importadores sofrendo com a queda nos preços do petróleo. Neste cenário, diria até que os preços podem cair mais que os atuais.
  2. Confinamentos mantem a oferta no segundo semestre – nesta situação, apenas um aumento na demanda pelas exportações, poderiam trazer alguma pressão nos preços. Mesmo assim, acredito que está não seria suficiente, para remunerar a atual situação de custos
  3. Confinamentos reduzem a oferta do segundo semestre – nesta situação, provavelmente a curva de demanda seria pressionada pelo lado da menor disponibilidade de carne no mercado, o que permitiria um aumento nos preços. A grande questão seria: Qual a necessidade de redução na oferta para permitir uma alta significativa nos preços?

a. Utilizando-se de uma curva de Preços x Disponibilidade de Carne projetei abaixo a Tabela 2, que nos permite avaliar qual a redução na oferta de carne e a respectiva reação nos preços.

Tabela 2.

Captura de Tela 2016-07-15 às 15.01.03

Ou seja, observando-se a Tabela 2, percebemos que dado a relação disponibilidade de carne atual (Linha 1. – Junho/2016) os preços praticados estão ao redor de R$ 156/@. E, para que os mesmos subam para R$ 163/@, seria necessária uma redução de 11,5% na oferta total de gado (algo ao redor de 365.500 cabeças).

Assim, se considerarmos que os confinamentos representam algo ao redor de 50% da oferta no segundo semestre e desejarmos que esta redução provenha apenas destes, seria necessária uma redução de 23% na produção dos confinamentos para obtermos um preço ao redor de R$ 163/@.

A partir destes raciocínios, poderíamos refletir sobre três questões que acho importantes;

  1. Será que está redução de 23% ocorrerá na produção?
  2. R$ 163/@ pagariam os custos de confinamento para incentivar a produção ou seria necessário uma redução maior na oferta para gerar preços que viabilizem a produção?
  3. O que o Brasil precisa fazer para aumentar a demanda pela carne bovina?

Um abraço a todos e espero ter ajudado na reflexão dos produtores.

Por Alberto Pessina, engenheiro agrônomo e diretor da Agropecuária Pessina.

8 Comments

  1. Walter Magalhães Jr disse:

    O texto demontra que ainda precisamos nos preparar muito mais e melhor para conseguir visualizar, sob um ponto de vista tecnicamente mais consistente e sólido, alternativas factíveis para o presente e o futuro dos nossos negócios pecuários.

  2. Eduardo Lima Porto disse:

    Excelente trabalho. Mostra de maneira clara e consistente os fundamentos do mercado de carne bovina. Não acompanho tanto o setor pecuário por estar mais envolvido com a agricultura, porém a correlação é alta e fornece indicadores muito interessantes. Parabéns ao Sr. Alberto Pessina e ao pessoal da Beefpoint pela qualidade dos trabalhos.

  3. Fernando Gonçalves disse:

    Há quem diga, que o mercado se ajusta. Porém, o que percebo é que há uma diminuição de consumo. E porque? Por que muitos cidadãos estão sem renda ou sem perspectiva de renda. Sem renda, não vão acessar o mercado e assim como a carne é a fonte de proteína que mais cresce quando há um incremento na renda, o inverso é verdadeiro. A meu juízo, não temos, por hora, nenhuma novidade na economia nacional. E se tudo continuar como está, continuaremos, cada dia a mais, a diminuir o potencial de consumo interno. Produção de volume, neste momento será uma briga entre poder produzir (sem prejuizo) e poder consumir (sem renda). A válvula de escape seria mesmo um aumento nas exportações. Alguém falou em abertura de mercado para os EUA. Muito bem, se isso ocorrer, chegará em boa hora. Eu particularmente, sou cético quanto a essa possibilidade. Interessante tema.

  4. Aleri João Panazzolo disse:

    Alberto
    Contemplas e descreve o amplo senário da Pecuária de Corte Brasileira.
    Suas constatações são contundentes.
    Aproximando o foco para ver claramente a realidade de Produtor e Consumidor se apresenta outro senário.
    Vindo para dentro da porteira
    Batemos de cara com a realidade individual que compõe o universo.
    Do outro lado
    No pensamento decisório de cada consumidor, que motivos o orienta na escolha de que tipo de Carne vai
    Comprar?

    Qual é o preço que está consciente em pagar por cada Kg de Carne?
    Ele quer qualidade e pode pagar??
    Ou precisa de preço para poder comprar?

    Qual é o equilíbrio?
    Entre oferta e demanda.
    Para todos os mercados.

    Vamos nos colocar em todos os lados para sentir essa realidade.

    Os estudos anteriores e atuais dos fluxos de circulacao de Carne e valores
    Mostram claramente os gargalos
    O que é feito para evitar paralisação?
    Esse diagnóstico vai ser muito evidente a cada dia.
    Onde tudo
    Começa na decisão de Produzir.
    Que é sinônimo de investimento que necessita de remuneração e retorno compatível aos demais.

    Finaliza na venda ao consumidor.
    Compra e paga a carne – gerou caixa.
    Que encerra o fluxo de ida da carne e
    Inicia o fluxo de retorno do dinheiro.

    O produtor
    Precisa saber :
    O que Produz
    Quanto produz
    Para quem
    Quanto custa e
    Quanto precisa ganhar.

    De tudo isso o mais difícil é
    Produzir.

    O que é certo e verdadeiro é que
    Somos Mtos consumidores de Carne.
    Quanto mais tempo ficarmos sem comer e quanto mais bem apresentada, mais valor a carne terá.
    Quanto mais macia e saborosa mais vontade de retornar à comprar.
    Isso são verdades com certeza.

    Então, fica
    Quais valores ao consumidor e
    Qual valor ao produtor.

    Essa equação quem pode resolver?
    Vou afirmar.
    É o dono da matéria prima
    Boi vivo.
    É o legítimo fiscal e juiz de ponta a ponta
    Desde sua propriedade até a gôndola ou balcão do açougue ele tem autoridade para controlar o que lhe permite viver e faz os outros viverem.

    O meio são prestadores de serviço que merecem todo o valor.

    Mas,
    Da autoridade e liberdade tem
    A responsabilidade de preço e qualidade.

    Qual é o real valor ou CUSTO de produção?

    Ele está perfeitamente ligado ao domínio técnico do manejo com
    Solo e Planta – Produção Vegetal
    ( Pastagens, Forragens e Grãos )
    Que se transformam em
    Pecuária de Corte – Produção Animal.
    Dentro de um ambiente adequado de
    Instalações, Mecanização , administração sob uma adequada estrutura pessoal por funções bem definidas.

    Com muita
    Eficiência

    Chegamos a valores que qualquer um pode vir fazer melhor se souber.

    Com referência ao confinamento;
    É o complemento ou a ligação entre uma excelente Pecuária de Cria e uma agricultura muito eficiente.

    Antes de confinar, precisamos dominar a produção de Bovinos e vegetais
    Com qualidade , custo e escala.

    Primeiro mandamento;
    Faturamento Máximo, por semana,
    25 a 500 cab/semana

    Segundo mandamento,
    Escala => kg – maxima/semana.

    Terceiro Mandamento.
    Qualidade => R$/kg ( Valor)

    Fat = Escala x Qualidade
    R $ = kg x R $/kg
    R $ = R $

    Faturamento – Custo = Margem Op.

    Quarto mandamento

    Margem Operacional 30%
    Custo Operacional 20%
    Custo Nutricional 50%

    Faturamento Bruto 100%

    Nutrição total
    Produzida na propriedade com
    Excesso dos minerais
    Forragens e Grãos.

    Silagem de Milho Planta Inteira
    Produtividade 60 ton/há
    Custo R $ 50/ton
    Investimento Operacional
    R$ 3.000,00/ha

    Precisamos atingir
    Controle de fertilidade do solo e produção vegetal para
    Converter
    1 kg de fertilizante formulado em
    10 kg de matéria seca que se
    Transforma em um kg de boi vivo.
    Com residual da matéria seca do
    Esterco – fertilizante Orgânico de
    Recompensa .

    O balanço total de massa é
    Perfeito
    Com evolução Mto positiva e
    Crescente.

    Equilíbrio em
    Todos os sentidos.

    Att

    Aleri João Panazzolo
    Engenheiro Agrícola
    O51 9997 7736

  5. Jack walison disse:

    Parabéns pelo belo trabalho dá pra entender aqui que na verdade é um conjunto de fatores que está dificultando nesse momento a nossa pecuária mais tudo passa .

  6. Larissa Vital disse:

    Não sou pecuarista, sou estudante de medicina veterinária. Leio os artigos e os comentários, aprendo muito com ambos. Obrigada.

  7. Danilo Ferreira Martins disse:

    Bom dia. Excelente colocação Pessina, você adotou um custo fixo médio para concluir os dados. Ótima linha de raciocínio e deparamos que o lucro ou prejuízo está diretamente relacionado ao custo fixo de cada projeto. Sendo que o custo fixo para marginilização do lucro ou prejuízo está intríseco a escala de produção no qual a escala de produção está relacionado ao nível administrativo/tecnológico/produtivo. Estamos passando por uma turbulência e que a gestão vai fazer sem sombra de dúvida o diferencial de cada projeto pecuário.

    • Alberto O`Farrill Vannini Pessina disse:

      Perfeito Danilo, o dimensionamento adequado e a eficiência do custo fixo farão toda a diferença. Porém, em algumas praças (TO, GO e MS), a Margem operacional está tão baixa que já torna a operação de engorda, após o abatimento do Custo Fixo, negativa neste ano.