A crise financeira mundial traz muitas incertezas para o produtor agrícola, mas pode ser ainda pior para pequenas e médias empresas do agronegócio. O setor pode passar por uma situação bem diferente da vivida nos últimos anos, quando produtores romperam contratos com "tradings" e fornecedores de insumos devido à valorização das commodities na hora da colheita.
A crise financeira mundial traz muitas incertezas para o produtor agrícola, mas pode ser ainda pior para pequenas e médias empresas do agronegócio. O setor pode passar por uma situação bem diferente da vivida nos últimos anos, quando produtores romperam contratos com “tradings” e fornecedores de insumos devido à valorização das commodities na hora da colheita.
As torneiras do crédito fecharam e essa falta de liquidez pode levar alguns cerealistas e fornecedores de insumos a romper contratos com produtores; pequenos frigoríficos devem fechar as portas; e usinas de açúcar e de álcool, endividadas, podem ser incorporadas por outras.
“Acendeu a luz amarela e pode haver inadimplência de compradores”, diz Anderson Galvão, da consultoria Céleres, de Uberlândia (MG). Algumas trocas de soja por insumos foram feitas com valor de US$ 23 por saca no Centro-Oeste. Para março do próximo ano, as negociações de Chicago indicam valores próximos a US$ 16. Se essas empresas compradoras e fornecedoras de insumos não “travaram” (garantiram) esses mesmos valores para o período da safra, vão ter problemas para arcar com a diferença.
A falta de crédito afetará também pequenos frigoríficos. Com a situação adversa, os pecuaristas vão preferir receber menos pelo boi e entregá-lo aos grandes frigoríficos ou apenas vender à vista para os pequenos estabelecimentos. Para comprar à vista, os pequenos vão recorrer aos bancos, mas não encontrarão crédito. “Se a crise for muito séria e perdurar, muitos poderão fechar as portas”, diz José Vicente Ferraz, da AgraFNP.
Outro setor que está endividado, e deve sofrer com a falta de crédito, é o sucroalcooleiro. “O setor vai ter problemas, e as fusões, que estavam previstas para daqui a três ou quatro anos, devem ocorrer bem antes”, diz o secretário de Agricultura paulista, João Sampaio. Um analista do setor sucroalcooleiro diz que o problema é que as usinas fizeram muitos investimentos nos últimos anos devido às expectativas de crescimento da demanda. Agora, ao buscarem renovações para esses empréstimos, não terão dinheiro novo para isso.
Há um consenso de que essa crise será seguida de uma recessão, o que deve afetar todos os setores da economia. Uma das vantagens do agronegócio é que o setor será o último a ser afetado, o que pode dar tempo para que empresas e produtores busquem melhores ajustes.
“Esse setor [o agronegócio] será o último a pagar a conta”, diz o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Já houve queda nos preços, o fator especulação saiu do mercado e, mesmo que haja redução de demanda, a comida será a última a ser afetada, afirma Stephanes.
O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues concorda que os alimentos podem ser o último setor a ser afetado, mas, diante dessa crise financeira, com reflexos graves na oferta de crédito, o produtor deve “botar as barbas de molho”. O pior dos mundos, na avaliação do ex-ministro, será se a crise se alastrar e tiver reflexos também nos preços dos alimentos. O produtor estará plantando uma safra cara, sem crédito e com preços baixos.
Na avaliação de Geraldo Sant´Ana Barros, coordenador científico do Cepea e professor da Esalq/USP. O setor terá problema de financiamento porque as empresas estão reduzindo sua exposição no Brasil. Não tanto pela situação brasileira, mas pela falta de recursos.
A matéria é de Mauro Zafalon, publicada no jornal Folha de S.Paulo, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.