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11 de janeiro de 2006

Crise em 2005, e em 2006?

O período de início de ano é um momento muito propício a reflexão, análise e planejamento. O ano de 2005 foi um ano difícil para a cadeia da carne. Até mesmo o recorde das exportações não foi capaz de garantir a renda do produtor. Consumo interno estagnado, dólar desvalorizado, aumento dos custos e concentração da indústria frigorífica frearam as esperanças por melhores preços. Para piorar tivemos casos de aftosa no MS e uma novela ainda por resolver no PR.

Para esse ano as previsões são um pouco melhores, graças a expectativa de crescimento do país e possível valorização do dólar. Há chances do consumo interno aumentar com a Copa do Mundo. Mas não é de se esperar uma reversão dos preços do boi gordo no curto prazo. O abate de fêmeas tem aumentado muito, mas ainda não dá para afirmar com certeza que o rebanho diminuiu. E, principalmente, que a produção vai diminuir.

Com o atual cenário de dificuldades e incertezas, está mais comum encontrar produtores descontentes e desanimados. O descontentamento é positivo, pois só há mudança quando algo incomoda. Por outro lado, o desânimo é muito prejudicial, pois pode levar a crer que não há saída além da lamentação paralisante.

Vale a pena analisar mais a fundo o cenário da cadeia da carne brasileira. O setor tem passado por uma evolução, mas de forma diferente em cada elo. Os especialistas em gestão da cadeia de suprimentos identificaram três possíveis estágios em uma empresa ou setor. O primeiro estágio é a busca por eficiência na produção, o segundo se caracteriza pelo aperfeiçoamento das relações de compra e o terceiro pela gestão de seus fornecedores e clientes de forma integrada e interdependente.

Nos dias de hoje, o pecuarista está no 1o estágio, se aperfeiçoando cada vez mais na produção. É essa eficiência que vem gerando o aumento da produção brasileira de carne. Muito pouco tem sido feito na melhoria das relações com clientes e fornecedores. A maneira que se vende e compra gado muito pouco mudou.

No lado dos frigoríficos, a evolução está cada vez maior no segundo estágio, que é a habilidade do departamento de compras. Com a concentração e profissionalização dos frigoríficos, um dos setores que mais evoluiu foi o de compras. Com plantas espalhadas por inúmeros estados brasileiros, comunicação constante, analistas de mercado, operadores na BM&F e construção de confinamentos, os frigoríficos têm uma capacidade cada vez maior de comprar bem, ou seja, comprar barato.

Ainda existe a possibilidade (sob investigação) de formação de cartel, que favoreceria ainda mais a “habilidade” em comprar bem (barato). Mesmo que não se comprove a existência de um cartel de frigoríficos, está claro que a capacidade de comprar bem, por parte dos frigoríficos, está muito maior do que a capacidade de se vender bem, por parte dos pecuaristas. E essa diferença só tem aumentado.

Um parênteses. O terceiro estágio da gestão da cadeia de suprimentos (ou supply chain management – SCM em inglês) é a gestão da cadeia. Nesse sistema, os envolvidos na produção trabalham de forma relativamente interdependente, buscando ganhar a concorrência com outros produtos (de outras cadeias de suprimentos). O que estimulou o surgimento desse sistema? A necessidade urgente, de alguns setores como o de automóveis, de se adequarem frente a concorrência cada vez maior, uma globalização mais acelerada e um consumidor mais exigente e informado. Nada disso é novidade para a cadeia da carne, mas ainda estamos longe de caminharmos para esse terceiro estágio.

Voltando a situação atual da cadeia da carne, vale lembrar a frase de Albert Einstein: “A definição de insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar um resultado diferente”. Hoje em dia, com as mudanças do consumidor e maior concorrência já criaram uma nova versão para a frase: “Fazer sempre a mesma coisa e esperar o mesmo (bom) resultado é loucura”. Portanto, se os produtores buscam resultados diferentes em 2006, o que será feito de diferente?

Para finalizar fica a frase de um dos maiores empresários do mundo. Um conselho poderia parecer tolo, mas que vale a pena pensar a respeito, vindo de quem veio. “Ouvi dizer que o país está entrando em crise. Comunico formalmente que o Wal-Mart não fará parte desse movimento”, Sam Walton, fundador do Wal-Mart, maior varejista do mundo, com faturamento anual de mais de US$ 285 bilhões.

0 Comments

  1. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Miguel,

    Muito bom e oportuno o seu artigo, e quero responder a sua pergunta com a frase que todos nós vamos ter a crise que queremos ter. É curto e grosso mas para mim uma verdade que permite aos elos da cadeia mudar radicalmente o seu comportamento e assim, o cenário.

    Até um certo ponto já tem vários produtores de gado que recebem preços diferenciados dos frigoríficos para os seus produtos, também diferenciados.

    Tem frigoríficos que conseguem sobrepreços para a venda de carne e seus derivados no mercado interno e externo, mas o triste é que são ainda casos isolados.

    Sugiro que o BeefPoint faça um Workshop eletrônico sobre o que precisa mudar, onde buscar o conhecimento e tecnologia.

    Qual é o papel do estado no assunto de fiscalização, e qual pode ser a contribuição das instituições de pesquisas e universidades?

    O que vamos fazer com os Certificadores, o SISBOV?

    Está na hora de bater martelo, resolver os problemas e acreditar em nossas possibilidades como produtor e processador.

    Chega de lamentações, mãos a obra.

    Um abraço,

    Louis.

  2. Mario Roberto Villela Mattosinhos disse:

    Como consultor em agropecuária, posso afirmar que todo esse processo negativo na rentabilidade por que hoje passa a pecuária só nos faz refletir e alertar a quem possa interessar que sem profissionalismo, sem valorização de profissionais da área, sem união da classe, não aceitar opinião de quem está mais próximo de conceitos renovadores, achar que diminuindo investimentos em melhoria genética, repondo animais baratos sem qualidade de carcaça e achar que é o dono verdade, com certeza, vai continuar amargando prejuízo.

    A classe pecuarista é uma miscigenação de culturas antigas com conceito renovador, antigas com conceito do passado, novas com conceito inovador e novas sem conhecimento e conceito nenhum, mas com a arrogância de quem sabe tudo. Posso afirmar com segurança, a maioria quer levar vantagem sobre tudo e todos, porém, “toda regra tem sua exceção”, não estou generalizando.

    Os empresários de frigoríficos, enxergando e sabendo de tudo isso, se prepararam e estão se preparando ainda mais para que situações adversas que existem criem mecanismos que revertam em benefício próprio, e quando me refiro a isso, é num todo.

    Não temos nenhum órgão fiscalizador que forneça informações mais concretas aos pecuaristas, com relação à saúde financeira, padrão na “limpeza de carcaças”, seriedade na aferição das balanças, razão real de preços menores se ainda batemos recordes em exportação (mesmo com focos de aftosa), responsabilidade fitossanitária (seja do governo ou de alguns pecuaristas), e por aí vai…

    Lembrem-se, a rentabilidade caiu porque vínhamos de uma @ crescente, “lenta mas crescente”, com os custos ultrapassando as margens de rentabilidade e animais criados e com reposição feita na sua grande maioria na @ de 12 anos atrás.

    Como os pecuaristas, as empresas fornecedoras de matéria prima e alimentação bovina terão que realinhar seus lucros, mantendo qualidade e quantidade em vendas, nunca esquecendo que ainda temos uma das melhores e mais barata carne do mundo.

    Como todos, eu também dependo de uma recuperação rápida e crescente da pecuária.

    Porque senão, como será 2006?

  3. Antonio Luiz Junqueira Caldas Filho disse:

    Agora todo mundo fica querendo valorizar o dólar, como se fosse a solução para os problemas do preço da carne e outros…

    Não acho que o preço esteja ruim e sim o custo muito alto.

    O governo ou é cego ou é sem vergonha. Várias pesquisas na área econômica mostram que taxas e impostos controlados pelo governo subiram várias vezes mais do que o setor privado.

    Acho que só nos resta rezar….rss

    Antonio Luiz

    JC Agropecuária – SP

  4. fábio andreazza disse:

    Prezado Miguel da Rocha,

    É gratificante perceber que existem pessoas com grande lucidez como o Sr. demonstra em seu artigo. Tentarei, não com o mesmo brilho intelectual, contribuir com sua análise, buscando mostrar que existe sim oportunidades nascentes em meio a crise.

    A cartelização ou concentração da indústria frigorífica abre a oportunidade mercadológica para os produtores rurais buscarem uma integração para frente (em busca do consumidor final), através do foco em clientes ou em produtos, pois dificilmente consumidores diferenciados serão supridos pela grande indústria. Este consumidor diferenciado não são apenas as famosas boutiques de carne, mas os tradicionais açougues ou pequenas redes que hoje encontram-se também massacrados pela grande e concentrada indústria. Eles também estão em busca de alternativas de suprimento.

    Aqui em RO, vários pecuaristas se uniram para formar uma cooperativa de abate de bovinos, buscando exatamente esses nichos de mercado. O novo pecuarista que sobreviverá e ganhará dinheiro neste novo modelo de mercado será aquele que, como Sam Walton declara, que não entrará em crise. Pelo contrário, sairá dela renovado e mais capacitado empresarialmente.

  5. Ovídio Carlos de Brito disse:

    Miguel,

    Achei o editorial excelente. Talvez o fazer o NOVO seja a capacidade dos pecuaristas se integrarem e se unirem visando metas setoriais.

    Um abração

    Ovídio

  6. Adriano Apolinário Leão de Oliveira disse:

    Artigos como este deveriam chegar constantemente a todos os produtores no mesmo dia e na mesma hora…simplesmente perfeito. Parabéns.

  7. Eduardo Miori disse:

    Caro Miguel,

    Excelente seu artigo abrangendo os principais aspectos da atual situação por que passa o pecuarista.

    Será certamente através da discussão dos pontos mencionados que iremos melhorar nosso posicionamento dentro da cadeia de suprimentos.

    Os frigoríficos saíram na frente, o que é natural já que estão mais próximos do consumidor final.

    Só nos resta correr atrás, aproveitando ao máximo todas as oportunidades que surgirem.

    Certificação e rastreabilidade já são exigências indiscutíveis para quem quiser aumentar o valor de seu produto. Não há como adiar sua implantação.

    Para 2006 me parece oportuna uma maior atuação dos pecuaristas no mercado futuro no sentido de contribuir no processo de formação de preços e de reduzir a possibilidade de manipulação pelos compradores.

    Portanto há bastante que fazer e quanto antes começarmos melhor.

    Afinal, como disse Milton Friedman, não existe almoço grátis.

    Um abraço

    Eduardo Miori

  8. josé eduardo coimbra disse:

    Amigos,

    Acompanhando sistematicamente as análises sobre a situação da pecuária nacional, noto um vício generalizado: o de atribuir aos fatores conjunturais a responsabilidade pela crise do negócio pecuária. Dólar, aftosa, aumento dos custos, tímido consumo interno, embargos e a ação predatória dos frigoríficos formam um pano de fundo que ofuscam a visão do produtor. O enfoque geralmente recebe o viés da desgraça.

    A análise do Miguel foi brilhante principalmente no que diz respeito à postura do produtor: atitude ou lamentação frente a crise? Sim, está faltando atitude por parte de nós produtores principalmente porque o viés da desgraça alimenta nossa lamentação.

    A realidade é capital: há menos demanda do que capacidade instalada, e o nosso cliente atua como nosso principal “concorrente”.

    Não tem jeito! Temos três saídas principais:

    1- Aumentar a demanda

    Difícil, dependemos, por exemplo, de Políticas Macro-Econômicas e a carne bovina vem perdendo espaço para o frango – a participação da carne de frango representa hoje algo em torno de 40% do consumo de proteína animal… e aumentando. Há Marketing da Carne Bovina?

    2- Diminuir a capacidade instalada

    Difícil também, a inércia que levaria à diminuição do rebanho nacional obedece a ciclos que podem levar 4, 5 ou 6 anos. Temos que esperar que o nosso vizinho agüente menos do que nós e saia do mercado.

    3- Investir na Gestão do Negócio

    Diminuir custos, aumentar a produtividade, aperfeiçoar e racionalizar a operação, investir em novas tecnologias e buscar vantagem competitiva são alguns dos vários caminhos a serem perseguidos. Lembro que esta opção exige atitude para a mudança, quebra de paradigmas e coragem.

    É claro que a visão sobre esses 3 fatores é muito mais abrangente e complexa e não caberia aqui o detalhamento, o objetivo é ilustrar ao colega pecuarista o quanto distante da atuação dele está o aumento da demanda ou a diminuição da capacidade instalada. Em contrapartida, o Gerenciamento do Negócio está ao alcance.

    Devo concluir sugerindo a seguinte reflexão:

    Estou eu, pecuarista, esperando que a demanda aumente e que haja escassez de produto me posicionado entre aqueles que estão lamentando baseados no viés da desgraça como pano de fundo? Ou entre aquele que traduzem a crise em celeiro de oportunidades, buscando novas alternativas para tornar o próprio negócio rentável?

  9. Tobias Kfoury disse:

    Caro amigo Dr. Miguel Cavalcanti,

    Estou fazendo alguns estudos em Goiânia e acho que a arroba do boi gordo deve subir 20% ao longo do ano (nominal), o que não seria tão animador, uma vez que a inflação deva girar em torno de 5% e o restante deste crescimento dar-se-á pelo aumento provável do dólar e dos custos. Então, o lucro do pecuarista deve manter-se praticamente o mesmo, ou seja, passando dificuldades para se manter no mercado.

    Não sei se faz o mesmo entendimento meu. Gostaria de saber sua opinião sobre a taxa de valorização da carne bovina, passando de média de R$50,00 para R$ 60,05 em dezembro/2006.

  10. Ricardo Vinhas disse:

    Prezado Miguel,

    Parabéns pela análise!

    Necessitamos sim discutir mais a fundo a cadeia de carne onde temos um lado que se organizou e realiza o seu lucro em cima da classe produtora, como se a cadeia fosse desconectada.

    Nós pecuaristas, temos nossa responsabilidade, pois infelizmente no decorrer deste período, não nos preocupamos com a nossa falta de representatividade, desta forma fomos conduzidos a situação atual.

    Devemos sim nos unir, mas na busca de novas lideranças que falem nossa língua e defendam nossos ideais. Este processo será lento a caminha penoso como está sendo no momento, mas sairemos deste processo revigorados e com maior consciência de nossas responsabilidades.

    A nossa falta de representatividade é uma questão cultural que teremos que evoluir e amadurecer. Desta forma encontraremos a saída para a crise, sempre ressaltando que crise leva à mudanças e à oportunidades.

    Feliz 2006 a toda a classe produtora deste pais!