Em mais um dia em que a crise entre Rússia e Ucrânia dominou as negociações, os preços dos grãos encerraram a sessão de ontem na bolsa de Chicago com alta expressiva. Com o desempenho, trigo e soja alcançaram seu maior patamar em quase dez anos.
O trigo liderou as altas: o contrato para entrega em maio, o vencimento mais ativo, subiu 3,78% (32,25 centavos de dólar), a US$ 8,8475 o bushel, seu maior valor desde o fim de novembro de 2012, segundo o Valor Data. A avaliação de momento é que, com a crise, os investidores estão em busca de um novo teto para os preços futuros dos grãos.
Em discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o chanceler da Ucrânia, Dmytro Kuleba, criticou a decisão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de reconhecer a independência de Donetsk e Luhansk, regiões separatistas do leste ucraniano. “Putin negou o direito da Ucrânia de existir”, disse Kuleba, acrescentando que o governo do país não planeja nenhuma operação militar na área.
Rússia e Ucrânia são o primeiro e o terceiro principais países exportadores de trigo, respectivamente (no geral, a União Europeia lidera os embarques). Ao todo, russos e ucranianos deverão despachar 59 milhões de toneladas nesta safra 2021/22, quase um terço do total previsto para a temporada, de acordo com dados recentes do Departamento de Agricultura americano (USDA).
Também por isso, o impasse é um grande gatilho para as especulações de preços, avalia o analista Dan Hueber. Ele lembra que a tensão não é uma “novidade” para o mercado, uma vez que Putin vem aumentando a temperatura da crise gradativamente nos últimos meses. “Nada realmente mudou no cenário global de grãos neste momento”, lembrou, em relatório.
Sob a influência do trigo, o milho para maio avançou 1,3% (8,75 centavos de dólar), a US$ 6,8125 o bushel. Sem grandes novidades nos fundamentos, o cereal não teve fôlego para altas mais expressivas na sessão, embora a crise no Mar Negro também possa afetar o quadro de oferta e demanda do milho – Ucrânia e Rússia deverão responder por cerca de 20% dos embarques mundiais em 2021/22.
Por fim, a soja atingiu sua maior cotação desde setembro de 2012 em Chicago. Ontem, o contrato para maio, o mais negociado atualmente, fechou em alta de 2,2% (36 centavos de dólar), a US$ 16,710 o bushel.
A quebra de safra no Sul do Brasil, Argentina e Paraguai, causada pela estiagem que atingiu essas regiões a partir do fim do ano passado, tem puxado para cima os preços da oleaginosa no mercado internacional. Em 2022, a valorização já chega a 25%.
A crise entre Rússia e Ucrânia também tem reflexos sobre as cotações da soja, e uma das razões é o fato de a Ucrânia ser a maior produtora e exportadora mundial do óleo de girassol. Segundo a Reuters, a região do Mar Negro responde por 60% da produção e 76% do fornecimento global.
O cenário atual indica restrição de oferta dos concorrentes do óleo de girassol nesta safra 2021/22. No caso da soja, o aperto deve-se principalmente aos problemas climáticos na América do Sul, e, no do óleo de palma, ela é causada pela decisão do governo da Indonésia de restringir os embarques do país em virtude da quebra de safra.
Fonte: Valor Econômico.