Por Humberto de Freitas Tavares1
Segundo notícia do jornal Valor Econômico OnLine, reproduzida no BeefPoint “Frigoríficos querem todo rebanho rastreado” , Antenor Nogueira, coordenador do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária) considera inviável rastrear os animais em todo o Brasil. “Se o país ainda não é todo livre de aftosa com vacinação, como exigir 100% de rastreabilidade?”, indaga ele. Ainda conforme a nota, Pedro de Camargo Neto, da Sociedade Rural Brasileira, considera que o Sisbov “começou errado”, ao exigir a identificação individual. A certificação da propriedade, no seu entender, reduziria os custos. “A UE exige que os países apresentem seu sistema de controle da produção. Nunca exigiu o controle individual”, concluiu Camargo.
Comentando este artigo na seção de cartas do BeefPoint “Frigoríficos querem todo rebanho rastreado” , Násser Yunes, Vice-Presidente executivo da Federação da Agricultura e Pecuária do Tocantins criticou duramente a adesão dos frigoríficos às exigências do MAPA. “As indústrias querem sair da lei de mercado, inclusive com alterações de prazo, para mais uma vez transferir o ônus ao produtor”. Segundo ele, isto é típico dos defensores de reservas de mercado, pois “exigir rastreabilidade do rebanho nacional ou da zona livre de febre aftosa é a mesma coisa de desobrigá-los de diferenciar ou remunerar pelo custo pago pelo produtor”.
Parece que as coisas finalmente começam a clarear. Estas manifestações espelham fielmente o que pensa a absoluta maioria dos fornecedores de bois gordos para exportação e para os nichos mais exigentes do nosso mercado interno. Esperemos que outras entidades afins revejam seus posicionamentos equivocados, ou então que desçam de cima do muro, e passem finalmente para o lado do pecuarista de corte, unindo-se a estes importantes representantes da nossa classe para derrubar a nefasta obrigatoriedade de se rastrear individualmente cada boi de corte do Brasil, do nascimento ao abate. Basta!
Mais que a eliminação de uma ordenação delirante, perversa e entreguista — fruto de um terrível equívoco endossado por Pratini de Morais, ministro do governo anterior — desejamos que a cadeia da carne (produtores, frigoríficos e traders) se una ao MAPA e ao Ministério do Desenvolvimento para defender, de modo concertante e cristalino, os interesses comerciais brasileiros e a alta qualidade de nosso produto. Para que se tenha idéia do voluntarismo e do amadorismo dos responsáveis pelo Sisbov, notícias de hoje “Missão vai a Bruxelas discutir rastreabilidade” dão conta de que “uma missão brasileira vai a Bruxelas, em setembro, discutir a rastreabilidade dos bovinos com membros da União Européia”. Segundo Antenor Nogueira “a viagem será necessária porque não existe a certeza da exigência européia…”. Seria cômico, se não fosse trágico.
É preciso deixar claro que a rastreabilidade por lotes, praticada há muitas décadas e paulatinamente aperfeiçoada pelos órgãos estaduais de defesa sanitária em consonância com os frigoríficos (exportadores ou não) e com o Serviço de Inspeção Federal, dá ao consumidor as garantias de origem e de qualidade necessárias e plenamente suficientes.
Por este sistema, o comprador pode encontrar em cada corte a informação de que a mercadoria é fruto do abate, com inspeção do SIF, de um boi (ou vaca) de X meses de idade, raça Y, da Fazenda W, do proprietário Z, ocorrido no dia A no Frigorífico B.
Se, todavia, este cliente fizer questão de saber que o boi era filho da “Malhada”, e de receber um histórico com as datas de todas as vacinações e de todos os combates a moscas/bernes/vermes, com informação sobre o medicamento/defensivo usado, princípio ativo, data de aquisição e número da nota fiscal, tudo isso atestado (e assistido?) por fiscais (e inspetores de fiscais!) qualificados na forma da lei, não haverá nenhum problema. Basta que ele arque com os custos adicionais em que incorrerão os fornecedores e os frigoríficos que se disponham a atendê-lo. Alguém se habilita?
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1Humberto de Freitas Tavares é criador e invernista
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Parabéns!
Gostei de ler esta reportagem, pois noto que muitos mandam fazer rastreabilidade, mas de forma irresponsável, não conhecendo como funciona o manejo na prática.
Se existe caminho mais prático para o criador, porque querer identificar, animal por animal, só para penalizar quem produz.