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Crítica da França sobre acordo Mercosul-UE é interna, diz Araújo

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse nesta terça-feira que as críticas de membros do governo francês ao acordo de livre-comércio Mercosul-União Europeia são voltadas “ao público interno.

Hoje, a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, disse em entrevista a uma TV local que a França “não está pronta” para aderir ao acordo.

Já o ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, declarou que ainda é preciso observar se os termos acertados no acordo comercial. “As linhas vermelhas que nós desenhamos para o acordo são firmes”, disse Le Drian, segundo a agência Reuters, acrescentando que o governo da França examinará os detalhes do acordo antes de determinar se apoiará a ratificação em seu Parlamento.

Em entrevista coletiva na sede do Itamaraty, em Brasília, Araújo respondeu que o acordo não está pronto para ser ratificado pelos parlamentos europeus e dos países do Mercosul. “Esse tipo de declaração da porta-voz visa muito o público interno. Não é o caso de reagir a essas declarações”, afirmou. “No momento, nenhum país está pronto para ratificar dentro da questão constitucional.”

Ele afirmou ainda que a questão ambiental, levantada pelos europeus como motivo de desconfiança em relação ao Brasil, também é uma preocupação brasileira em relação à Europa – que, segundo ele, não está liberando as verbas prometidas no Acordo de Paris.

“O meio ambiente, colocam como se fosse um tema europeu apenas, mas é nosso também”, afirmou. “A grande maioria dos países europeus tem um uso de agrotóxico por hectare maior que o Brasil. Também queremos que isso seja feito de maneira sustentável.” O ministro considera que “a grande crise em termos de problema sanitário surgiu na Europa, que foi a [doença da] vaca louca”. “Também esperamos ver implementados inclusive os compromissos deles, que são os países de desenvolvidos, como desembolso de recursos para financiamento de energias renováveis, esse tipo de coisa”, afirmou.

Nesta terça-feira, a porta-voz do governo francês comunicou que o governo analisará os detalhes para decidir e solicitará garantias dos países do Mercosul para que o pacto não prejudique agricultores franceses, enquanto eurodeputados do próprio partido do presidente Emmanuel Macron alertaram que vão observar aspectos relacionados ao controle do desmatamento na Amazônia como condição para apoiarem a ratificação.

“Vamos observar com atenção e, com base nestes detalhes, vamos decidir”, disse. “Não posso dizer que hoje vamos ratificar o Mercosul […]. A França, no momento, não está pronta para ratificar.”

Araújo ainda afirmou que o governo não decidiu se poderá implementar os termos do acordo tão logo o Congresso Nacional o ratifique -se o fizer-, ou se terá que esperar que os parlamentos de todos os membros do bloco o façam.

“Juridicamente, na UE, isso [a adesão individual de países] não é possível”, disse. “No Mercosul, é juridicamente possível. Mas ainda não está decidido politicamente sobre se isso vai acontecer.”

Segundo o chanceler, o governo brasileiro ainda vai conversar com os outros três parceiros de bloco (Argentina, Uruguai e Paraguai) para buscar uma posição comum sobre o tema. Nos bastidores, é clara a preferência brasileira pela possibilidade de implementação individual do acordo, mas o ministro não quis externá-la.

“Vamos conversar com os outros três sócios para que haja um interesse comum”, afirmou. O assunto “pode surgir na cúpula do Mercosul daqui a duas semanas, em Santa Fé, pode ser conversado”.

O ministro disse que dificilmente o acordo será ratificado pelo congresso argentino antes das eleições presidenciais em outubro. Ele foi questionado, então, sobre a possibilidade de um governo kirchnerista assumir o poder e se contrapor ao tratado.

“É claríssimo o empenho que o governo argentino com o presidente Macri tem com esse acordo. O empenho do governo argentino foi absolutamente fundamental, juntamente com a disposição negociadora do Brasil”, afirmou. “Cabe aos argentinos levar isso em conta no momento da decisão. Se existem determinados candidatos que colocam em risco esse acordo, as pessoas levarão isso em conta.”

Macri é candidato à reeleição, com o apoio explícito de Bolsonaro, que já disse temer que o retorno de Cristina Kirchner ao poder poderia levar à criação de uma “nova Venezuela” na América do Sul.

A ex-presidente argentina é candidata a vice na chapa de Alberto Fernández, que foi seu chefe de gabinete.

Segundo uma pesquisa do Instituto Isonomia, um dos mais importantes do país, a chapa Fernández-Cristina está com 45% das intenções de voto para a eleição de outubro, em empate técnico com Macri, que tem 43%.

Fonte: Valor Econômico.

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