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Cruzamento? Existe um pós-cruzamento!

Por Mário Saraiva G. de Macedo1

Por trabalhar a mais de dois anos junto ao Frigorífico Mercosul Ltda., que é responsável por algo em torno de 30% do abate oficial de bovinos no Rio Grande do Sul, gostaria de aproveitar esta oportunidade, para de forma simples, relatar alguns aspectos do pós cruzamento, ou seja, sobre os animais que chegam ao abate oriundos, em sua grande maioria de “cruzamentos”.

É claro que, jamais poderia falar do que ocorre no centro ou norte do Brasil, pois temos uma diversidade muito grande em tipo de produtores, sistemas de produção, clima, necessidade finaceira, etc…, embora acredite que o principal problema dos cruzamentos implementados no Brasil, seja a falta de planejamento técnico.

Muitos produtores, sem conhecerem a fundo o que significa um cruzamento e os problemas que ele pode acarretar, apenas somam as qualidades divulgadas de cada raça e imaginam ter a solução de seus problemas, que muitas vezes é de ordem gerencial e não genética. Como exemplo, posso transcrever uma conversa com um amigo, que me relatou “um mimo” de pensamento: “Esta raça é mais fértil e esta mais pesada, vou cruzá-las e terei muitos terneiros pesados, depois colocarei um Zebu, para dar rusticidade, e tu vais ver o gado que vou fazer!”

Acreditem, este pensamento norteia muita gente que não leva em consideração fatores fundamentais, como clima, condição alimentar e mercado. Temos que deixar de ver as raças e cruzamentos com o coração e sim como ferramentas de produção.

Hoje, a cadeia da carne bovina tem uma necessidade comum a todos os elos, que é atender um consumidor cada vez mais exigente, que busca produtos com qualidade constante, ou seja, um produto que sempre tenha a mesma apresentação (cor e acabamento), o mesmo sabor, maciêz, suculência. Temos, sem dúvida, muito a crescer no mercado neste sentido, guardando é claro, as diferenças regionais e a necessidade de criação desta ou daquela raça, por problemas de adaptação.

O Brasil-Central concentra o maior número de bovinos baseados na criação dos zebuínos, onde predomina com méritos o Nelore, que através de uma seleção perfeitamente dirigida, alcança índices excepcionais. Por isto, o consumidor desta região, tem o hábito de consumir carne de zebuínos e seu paladar já o identifica, bem como as características de sua apresentação.

No Sul do Brasil, onde por necessidades climáticas predominam a criação de raças européias, o consumidor também as identifica e tem parâmetros de avaliação baseados na carne produzida por estes animais.

Assim, para atender as exigências destes consumidores, a indústria esta cada vez mais buscando parceria com o produtor e associações de raças, para produzir carnes com padrão de qualidade constante. Temos exemplos no mundo inteiro, como a Carne Angus Americana, a Hereford Beef na Inglaterra, a Carne Nelore Natural no Brasil-Central, a Carne Reiter Premium (seleção de raças britânicas) e a Carne Angus Reiter Premium (certificada pela Associação Brasileira de Angus), etc…

Sabemos que o principal item utilizado na avaliação do consumidor, para definir qualidade de uma carne, é a maciez, porém para atraí-lo, é necessário uma aparência de acordo com as necessidades do consumidor. No sul, o principal atrativo é o acabamento, ou seja, a cobertura de gordura, que não permite a queima da carne pelo frio, mantendo-a com uma coloração vermelha intensa, isto se consegue com raças britânicas e suas sintéticas, que tem alta precocidade de acabamento, atingindo uma cobertura de gordura uniforme, no máximo, até os trinta meses de idade em sistema de criação a base de pastagem nativa ou cultivada. No caso da produção de Super Precoce, animais até dezoito meses de idade, através da oferta de uma suplementação energética, a base de milho, sorgo, arroz, etc. no côcho.

Penso que, padrão se faz com raças definidas, sejam zebuínas, européias ou sintéticas, pois não há um cruzamento que mantenha permanentemente a mesma produção, com o mesmo padrão de qualidade. Sempre haverá variação, a cada grau de sangue se terá uma carcaça distinta, com uma forma de acabamento, um grau de maciez, uma conformação, em fim, uma qualidade de carne distinta.

O produtor deve ter consciência de que, para obter ganho financeiro, é necessário ter, além de um gerenciamento competente, um mercado garantido para seu produto, o que somente ocorrerá, através de um produto com qualidade constante. Se quisermos garantir mercado para a carne bovina, teremos obrigatoriamente, que pensar em padrão de qualidade.

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1Mário Saraiva G. de Macedo é zootecnista pela PUC-RS – Uruguaiana

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