Ultimamente tenho observado um certo celeuma sobre diferenças entre animais “cruzados”,e animais oriundos de “cruzamento industrial”. Como esta diferenciação parece-me já ter sido bem estabelecida, vou-me dedicar aqui ao desdobramento da polêmica inicial: cruzamento industrial é viável (ou desejável) como produtor de carne ?
Faz-se necessário esclarecer que não sou zootecnista, nem veterinário, nem agrônomo. Carece-me portanto embasamento técnico. A análise e sugestões que faço são de ordem gerencial, e fruto de observação ao longo dos anos.
Para poder concluir (ou sugerir), parto de três premissas:
Premissa no 1 – Adaptabilidade:
Qual a conclusão ?
Que importou-se 130 vezes mais animais de raças européias que de raças zebuínas. No entanto, existem no Brasil quatro vezes mais zebuínos que europeus. É como se cada europeu importado ao longo de 450 anos tivesse gerado 40 outros. E no caso do zebu, é como de cada zebu importado ao longo de 150 anos tivesse gerado 20.317 outros.
Quando se constata que o ZEBU teve um aproveitamento 508 vezes maior que as raças européias, ainda será necessário discutir-se qual é melhor adaptado e mais recomendável para o Brasil ?
Premissa no 2 – Heterose:
Não existe nada mais eficiente para produção de carne, que a heterose – popularmente conhecida como “choque de sangue”. No caso específico do Brasil, isto é desejável prioritariamente via fêmeas zebuinas e machos taurinos.
Premissa no 3 – Meio:
Animais de alta performance demandam alimentação com alto poder nutritivo, desde o aleitamento até o abate. Isto equivale a se dizer: vacas com alta habilidade materna, suplementação mineral de bom nível, e pastos de boa qualidade (ou confinamento).
Se criados a pasto, leve em conta que um 1/2 sangue zebuíno/taurino (europeu), não tem a mesma rusticidade que um zebuíno, entendendo-se por rusticidade, neste caso: resistência a calor, e a deslocamento a grandes distâncias.
Poderia alongar-me em outras “premissas”, mas creio não ser necessário, e podemos passar para as conclusões, ou….
Sugestões:
(1) Para produção de carne, o ideal é o F1 oriundo de cruzamento de raça zebuína com raça taurina, desde que suas condições de criação e o clima de sua fazenda (meio) permitam o deslanche total da potencialidade deste cruzamento.
(2) Caso não, obtenha heterose entre zebuínos mesmo, optando por raças de alta performance, como Nelore e Tabapuã.
(3) Embora eu seja adepto da heterose (cruzamento) para eficiente produção de carne, deve ficar claro que o conceito de raça pura é vital, já que delas é que obteremos os F1, sempre.
(4) Se as fêmeas forem zebuínas, escolha raças com alta aptidão materna como a Tabapuã (a mais alta HMMP entre as raças zebuínas – dados ABCZ/Embrapa/MAPA), Guzerá, etc. Quanto ao macho taurino, escolha raça produtora de carne, que não dê bezerros muito pesados ao nascimento.
(5) Se for o inverso, ou seja, as fêmeas forem taurinas e os machos zebuínos, então tome-se a mesma precaução com a aptidão materna das matrizes, e no caso dos machos zebuínos na linha alta, escolha raças de alta performance como Nelore e Tabapuã (o mais alto Total Materno, e a maior precocidade entre as raças zebuínas – dados ABCZ/Embrapa/MAPA).
(6) Exceto se sua fazenda for em região de clima temperado (Sul) e com pastos pequenos, não use taurinos em monta natural, e sim em inseminação artificial – sob pena de obter baixo índice de fertilidade. As raças taurinas não foram selecionadas para alta performance em clima quente e distâncias longas, de forma que é pouco recomendável afrontar-se a natureza e aptidão dessas raças..
(7) A polêmica do que fazer com as fêmeas F1 é estéril. Assim como os machos, devem ir para o corte. Dúvidas a este respeito ?
Veja o desempenho das fêmeas F1 oriundas de 4 cruzamentos, tendo Tabapuã e Nelore na linha baixa, e Aberdeen Angus e Blonde D’Aquitaine na linha alta acessando o site www.aguamilagrosa.com.br e entrando no tópico (10) Projeto TAB 57.
Ou entre no site www.campboi.com.br e leia sobre o programa “teenbeef”.
(8) Não contrarie a natureza. Via de regra, ela acerta mais do que você. E, aproveitando, ouça também o palpite de seus peões. Às vezes, eles acertam mais do que nós.
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O senhor Ortenblad, não obstante sua inegável experiência, tradição e serviços prestados à pecuária brasileira, claramente “puxou sardinha” para o Tabapuã, raça que cria e na qual investe pesado à anos. Compreensível.
A experiência que tenho, tanto como criador de zebuínos (Nelore) como de taurinos (Limousin) no Centroeste do Brasil, com calor, sêca de 100 dias por estação e todas as demais intempéries locais, largamente conhecidas por pecuaristas da região, comprova que os resultados obtidos com o cruzamento industrial no meu negócio se tornaram imprescindíveis para a minha continuidade na atividade.
Como o senhor Ortenblad, não sou veterinário nem zootecnista. Mas Administrador de Empresas. De análises de custos, retorno de capital investido e rentabilidade, modestamente entendo.
E digo com toda certeza do mundo: o cruzamento veio para ficar no Brasil. Assim como antes chegou e ficou na Austrália, Estados Unidos, Argentina Uruguai e tantos outros países produtores e exportadores de carne do mundo que investem pesado em pesquisa e melhoria de resultado na atividade.
Digo mais: é a mais poderosa, mais barata e mais rápida ferramenta existente atualmente para o aumento da performance produtiva em uma propriedade.
Hoje pode-se escolher: colocar na sua vacada zebuína um touro europeu PO, nacional e adaptado por R$3000,00 em média ou iniciar um longo, caro e penoso processo de melhoramento genético zebuíno, pagando por conta de vacas reconhecidamente melhoradoras de DEPS como precocidade sexual e acabamento de carcaça, R$ 30.000, 40.000, 80.000, 120.000, 1.000.000,00 (!!!!!!!!!!?????????).
Além disso, torna-se desnecessário dizer que o surgimento do cruzamento industrial foi o que finalmente tirou do marasmo a criação de gado de elite zebuíno no Brasil, e acordou os selecionadores nacionais (pelo menos a grande maioria deles…) para atentarem e direcionarem maior pressão seletiva para características até então não devidamente valorizadas, como a precocidade sexual nas fêmeas.
Nem falarei aqui da consanguinidade do gado de elite Nelore….
De minha parte, invisto nos dois lados: pois quanto melhores e mais precoces forem os indivíduos zebuínos e taurinos, melhor a heterose. Como bem disse o sr. Ortenblad, não se pode contestar a natureza! Quer prova melhor da eficiência do choque de heterose do que nossas brasileiríssimas mulatas? É só ligar na Globo durantre o carnaval……
Um forte abraço aos amigos pecuaristas e parabéns ao BeefPoint pela qualidade do site!
Sr. Carlos,
Um dos melhores produtos de cruzamento é aquele filho da vaca 1/2 sangue de tamanho médio e com boa habilidade materna com sêmen de touros Tabapuã. Portanto, tenho o direito de discordar totalmente de sua teoria.
Os trabalhos da EMBRAPA demonstram que os cruzados são em média 20% mais produtivos que os Zebuínos quando o grau de sangue desses tém pelo menos 50% de tropicalizadas (zebuíno ou taurinos adaptados).