Durante o período seco do ano (maio-outubro) os produtores sofrem com a falta de pastos, e a maneira para aliviar a escassez de alimento se encontra no fornecimento de silagem ou feno para os animais. Porém, temos observado em algumas propriedades, que a silagem que foi produzida em fevereiro e março já se encontra no fim e ainda temos pelo menos 40 dias de seca, o que leva ao “desespero” por comida dentro da fazenda.
Diante deste fato, os produtores que não fazem opção pelo “capim BR” (localizado na margem das rodovias) na maioria das vezes compram de feno. Quando essa opção for adotada alguns cuidados em relação a qualidade do feno devem ser observados, pois nesta época do ano, o preço se eleva (lei da oferta e procura) o que poderá aumentar o custo da dieta dos animais. Algumas empresas produtoras de feno chegaram a comercializar seus produtos (Tifton 85) durante o mês de agosto à R$ 0,70/kg, onde este preço inviabiliza qualquer sistema de produção. Além deste fator, determinadas cooperativas tentam enfiar “guela abaixo” qualquer tipo de feno a seus cooperados, na tentativa de ser o salvador da pátria devido a escassez de alimento na propriedade.
Algumas dicas que devem ser observadas no lote para não comprar feno por palha (Foto 1):
a- Os fardos devem apresentar elevada quantidade de folhas e pouco caule;
b- Deve ser de cor verde marcante. Feno com aparência amarelada e/ou marrom, podem ter sofrido elevado tempo de secagem no campo ou a armazenagem não foi adequada.
c- Os fardos não devem conter material estranho, como plantas daninhas;
d- O odor deve ser agradável e de boa flexibilidade. Feno mofado, com outros odores, empoeirado e excessivamente seco devem ser evitados.
Ao optar pelo conhecimento da composição química do feno, o técnico não deve se basear somente em teores de proteína bruta (PB), geralmente o mais comum, e como os comerciantes de feno têm realizado suas propagandas. Os valores de nitrogênio ligado a parede celular (NIDA), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), bem como a digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS) também devem ser conhecidos, pois estas análises apresentam baixo custo e ainda dispomos de vários laboratórios no Brasil de fácil acesso.
Os teores de PB até podem estar dentro dos níveis que achamos tolerantes para determinadas espécies de forrageiras, porém, é necessário saber se essa proteína estará disponível para o animal. Quando analisamos um determinado alimento, consideramos que sua qualidade é função da sua composição, mas também é importante conhecer qual a disponibilidade biológica que este nutriente tem para o animal que for ingeri-lo. No caso dos fenos, podem ocorrer reações não enzimáticas entre os carboidratos solúveis e grupos aminas dos aminoácidos, resultando em compostos denominados produtos de reação de Maillard. A formação de produtos de Maillard em fenos superaquecidos promove diminuição acentuada na digestibilidade da proteína, uma vez que se pode observar aumento considerável nos teores de nitrogênio ligado a parede celular (NIDA), o qual não é disponível para os microrganismos do rúmen. Portanto, o aumento de NIDA ocorre com o decréscimo de proteína solúvel (frações B1 e B2) e elevação na quantidade de proteína alterada pelo calor (fração C, modelo de Cornell).
Em relação a análise de fibra, é importante ressaltar que no caso dos capins do gênero Cynodon (Coastcross, Tifton 85, Estrelas) os teores de FDN apresentados são geralmente elevados (65-70 % MS), o que é normal para as gramíneas de clima tropical, porém, estas espécies apresentam uma particularidade de possuir a fibra mais digestível em relação a outros gêneros. Para estas forrageiras o teor de FDN não deve ser o parâmetro ideal para rejeitar um lote de feno, devendo ser analisadas outras características do fardo.
Portanto, no momento de adquirir feno para a propriedade, vários fatores devem ser considerados em conjunto, como análises sensitivas (cor, odor, tato) e químicas do lote conforme foi comentado anteriormente. Feno é um alimento que não se compra por telefone, como geralmente é feito com concentrados (farelo de soja, milho e etc.), que têm poucas variações em sua composição química.