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Cultivares de milho com altos teores de óleo – uma ferramenta para nutrição de bovinos de corte

Com a proibição de utilização de produtos de origem animal na formulação de rações para ruminantes, os cultivares de milho selecionados para altos teores de óleo, passaram a ser uma boa alternativa para aumentar a densidade energética da dieta de bovinos confinados. Cultivares de milho selecionados para altos níveis de óleo apresentam 7-8% de extrato etéreo, aproximadamente o dobro dos cultivares de milho tradicionais. A substituição do milho comum (MC) por milho alto em óleo (MO) proporciona aumento da densidade energética e da quantidade de ácidos graxos insaturados na dieta. A película externa das sementes oleaginosas protege fisicamente os lipídeos da biohidrogenação ruminal, sendo essa a provável razão do aumento da deposição de ácidos graxos insaturados no tecido de bovinos de corte tratados com esses alimentos (Huerta-Leidenz et al., 1991).

Andrae et al., (2001) avaliaram a substituição do MC por MO na alimentação de bovinos de corte confinados, com a utilização de três dietas: controle – 82% MC e 12% de silagem de triticale; Alto óleo – 82% MO e 12% silagem de triticale; isoenergética – dieta com MO com a mesma quantidade de energia da dieta controle (tabela 1). Todo milho utilizado no experimento passou por processamento “dry rolling” (esmagamento grosseiro).

a – sal mineral = 97% NaCl, 3500 mg Zn/kg, 2 mg Fe/kg, 1800 mg Mn/kg, 350 mg Cu/kg, 100 mg I/kg, 90 mg Se/kg, 60 mg Co/kg.

Foram avaliados 60 animais 1/2 sangue Angus distribuídos aleatoriamente aos tratamentos, alimentados duas vezes ao dia através de um sistema eletrônico de controle. Os animais foram implantados1 com Synovex S, e abatidos após 83 dias e estimativa de espessura de gordura subcutânea de 10 mm.

Após 72 h de resfriamento foram realizadas medidas de espessura de gordura, área de olho de lombo, marmoreio, gordura renal e pélvica, maturidade fisiológica. As carcaças também foram classificadas segundo o sistema americano de classificação (USDA).

Os tratamentos não afetaram o peso e o rendimento das carcaças, a gordura de cobertura, a área de olho de lombo, a gordura renal e pélvica e a maturidade fisiológica. Apesar de não haver efeitos dos tratamentos sobre as características citadas acima, a inclusão de lipídeos na dieta através da substituição do MC por igual proporção de MO promoveu aumento na quantidade de marmoreio (5,67 vs. 5,2). Além disso, também houve uma maior percentagem de carcaças classificadas como “choice” (USDA) nos tratamentos com MO (74, 63 e 47% para os tratamentos MO, Isoenergético e Controle, respectivamente. Essas diferenças provavelmente diminuiriam com continuação da alimentação, sendo que o aumento da densidade energética e o aporte de lipídeos através da substituição do MC por MO, proporcionou maior marmoreio em um menor período de confinamento. Alguns trabalhos da literatura mostram que métodos de processamento do milho que aumentam o seu valor energético também podem levar a um aumento da proporção de carcaças classificadas como superior (acima de “select”).

Não foram observadas diferenças em relação às quantidades de colesterol no tecido adiposo de animais tratados com MO. A substituição do MC por MO promoveu alteração no perfil dos ácidos graxos na gordura intramuscular, aumentando as quantidades de ácido linoléico conjugado (CLA), de ácido araquidônico e do total de ácidos graxos polinsaturados (tabela 3). Pelo fato do ácido linoléico e araquidônico serem ácidos graxos essenciais, o aumento das suas concentrações nos tecidos, provavelmente ocorreu devido a uma maior quantidade desses ácidos disponível no intestino para absorção e deposição. O aumento das quantidades de ácido linoléico disponível no intestino, pode ocorrer devido à uma menor biohidrogenação ruminal, a um maior aporte desses na dieta, ou a uma combinação desses dois fatores.

A substituição do milho tradicional por milho com altos níveis de extrato etéreo, em dietas de bovinos de corte alimentados em confinamento, proporcionou aumento no marmoreio e na concentração de ácidos graxos insaturados do tecido adiposo intramuscular. Não ocorreram alterações em outras medidas como espessura de gordura, rendimento de carcaça e quantidade de aparas. Os cultivares de milho com altos teores de óleo passaram a ser uma boa opção para o aumento da densidade energética em dietas de ruminantes quando se deseja aumentar o marmoreio e o perfil de ácidos graxos da gordura intramuscular.

1 – experimento realizado em campo experimental da Universidade da Georgia nos Estados Unidos, onde a legislação local permite a utilização de implantes hormonais em bovinos de corte. É proibido por lei, e portanto considerado crime, o implante hormonal de bovinos no Brasil. A descrição desse manejo nesse artigo se faz necessária para avaliação técnica dos resultados.

Referências bibliográficas:

ANDRAE, J.G.; DUCKETT, S.K.; HUNT, C.W.; PRITCHARD, G.T.; OWENS, F.N. Effects of feeding high-oil corn to beef steers on carcass characteristics and meat quality. J. Anim. Sci., v.79, p. 582-588, 2001.

HUERTA-LEIDENZ, N.O.; CROSS, H.R.; LUNT, D.K.; PELTON, L.S.; JAVEL, J.W.; SMITH, S.B. Growth, carcass traits, and fatty acid profiles of adipose tissues from steers fed whole cottonseed. J. Anim. Sci., v. 69, p. 3665-3672, 1991.

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