Por Daniel de Castro Rodrigues1
O uso da cultura do arroz (oryza sativa L.) para abertura de áreas, renovação ou formação de pastagens a muito vem sendo utilizado pelos produtores como uma forma de integrar lavoura e pecuária. A amortização do capital investido com a venda dos grãos e a produção de leite ou carne na pastagem formada após a colheita, tem sido uma alternativa extremamente interessante para a pequena e média propriedade, permitindo maior eficiência no uso da terra durante o ano.
Segundo Kluthcouski et al. (1991), a integração lavoura-pecuária é baseada em um conjunto de técnicas que fundamentam-se em etapas interdependentes e seqüenciais que, uma vez aplicadas, resultarão não só na reforma da pastagem, como também na produção simultânea de grãos, enfatizando-se a auto-sustentação da agricultura e a recuperação das características físico-químicas do solo.
O sistema Barreirão aprimorado pela Embrapa Arroz e Feijão a partir dos anos 80 preconiza a associação de pastagens com culturas anuais, principalmente arroz de sequeiro, milho e o sorgo. Nesse sistema, as sementes da pastagem (de preferência gramíneas do gênero brachiaria) são misturadas ao adubo utilizado na adubação de plantio da cultura de interesse. Esse sistema foi amplamente utilizado por produtores de arroz e pecuaristas para a abertura de novas áreas e formação de suas pastagens. No entanto, os novos cultivares de arroz disponibilizados no mercado (mais produtivos, porém de porte mais baixo) podem apresentar problemas de competitividade com a pastagem, reduzindo a produtividade e ocasionando problemas na colheita.
No caso do milho e sorgo, destinados a produção de grãos, muitos produtores alegam que em determinadas condições de clima e solo, o capim se desenvolve muito depressa, competindo sobremaneira com a cultura ocasionando os mesmos problemas já citados nas lavouras de arroz. Para essas duas culturas (milho e sorgo) recomenda-se a Sistema “Santa Fé”, tecnologia desenvolvida pela Embrapa Arroz e Feijão (ver artigo Integração Lavoura-Pecuária).
Uma maneira interessante de diminuir a competição arroz-pasto e eventuais problemas de colheita é a semeadura do capim em “pós-emergência” da do arroz. Nesse sistema, o produtor deve realizar o preparo do solo de preferência com aração profunda, e 20 a 30 dias após a emergência da cultura, plantar o capim nas entrelinhas do arroz (Figura 1).
Alguns cuidados devem ser tomados pelo produtor durante o plantio do capim:
– As sementes do capim devem ser sadias e livre de sementes de invasoras;
– Evitar plantios muito tardios do capim. O plantio entre 20 a 30 dias após a emergência do arroz tem mostrado resultados promissores no campo. O trânsito de máquinas na lavoura após esse período pode causar danos mecânicos as plantas;
– Não plantar o capim com solo muito úmido. Em determinados condições e tipos de solo, o trânsito de máquinas danifica a lavoura;
Procedendo dessa maneira, logo as plantas de arroz sombreiam as plântulas do capim, retardando seu crescimento e diminuindo ou evitando problemas de competição e na colheita. Ressalta-se que plantios muito antecipados podem aumentar a competição arroz-pasto e plantios tardios podem ocasionar danos mecânicos às lavouras com o trânsito de máquinas.
Após a colheita do arroz, o pasto que estava sombreado passa a emitir novas folhas e perfilhos podendo ser utilizada em poucos dias. (Figura 2)
O plantio associado arroz-pasto é mais uma ferramenta para o produtor que busca a integração lavoura-pecuária e como conseqüência racionalização do uso da terra. O estudo das características da propriedade bem como o planejamento das etapas de produção são pontos importantes para se alcançar boas produtividades de arroz e um pasto de qualidade, proporcionando inúmeras vantagens ao produtor/pecuarista, pois com a venda dos grãos o investimento feito na formação ou renovação da pastagem retorna parcial ou totalmente em curto prazo (Yokoyama et al. 1995).
Literatura citada
KLUTHCOUSKI, J.;PACHECO, A.R.; TEIXEIRA, S.M.; OLIVEIRA, E.T. de. Renovação de pastagens do cerrado com arroz: I. Sistema Barreirão. Goiânia: EMBRAPA – CNPAF, 1991. 20p. (EMBRAPA – CNPAF. Documento, 33)
YOKOYAMA, L.P. ; KLUTHCOUSKI, J.; OLIVEIRA, I.P. et al. Sistema Barreirão: Análise de custo/benefício e necessidade de máquinas e implementos agrícolas. Goiânia: EMPRAPA – CNPAF, 1995. 31 p. (EMBRAPA-CNPAF. Documento, 56).
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1Daniel de Castro Rodrigues, M.S em Ciência Animal e Pastagem, Consultor Integração Lavoura-Pecuária, Fazenda Santa Clara – Goiás