Definição
Dentre as alternativas disponíveis para resolver o problema de escassez de forragens no período crítico do ano, onde as forrageiras tropicais reduzem drasticamente o seu crescimento, o plantio de plantas forrageiras que se adaptam a condições de temperatura e fotoperíodo reduzidos, semeados no final do período de verão para serem pastejados, colhidos como forragem verde, fenados ou ensilados durante o inverno através de dois ou mais cortes, dependendo da planta utilizada, pode ser uma alternativa viável. Há necessidade de um nível mínimo de chuvas ou do uso da irrigação para garantir crescimento satisfatório das mesmas. É relativamente comum nos estados da região Sul, normalmente utilizando-se de plantas como a aveia e o azevém.
Proteção do Solo
Todas as culturas semeadas no período de inverno têm uma função primária de proteção do solo e de sua fauna e microflora contra a ação da insolação e demais causas de degradação e erosão. Em qualquer sistema de produção agrícola com rotação de culturas ou de integração entre agricultura e pecuária, essa deve ser uma das premissas básicas de sustentabilidade. Muitos produtores utilizam a aveia ou nabo forrageiro exclusivamente destinados à cobertura do solo, e depois de dessecada, para aumentar o teor de matéria orgânica com vistas ao plantio direto na palha de milho, soja e feijão ou outra cultura de verão.
Características Gerais
A região Sudoeste do Estado de São Paulo, principalmente o Vale do Paranapanema (especialmente os municípios de Itararé, Itaberá, Itapeva, Taquarivaí e Paranapanema), constitui a principal região produtora de trigo do estado. O maior apelo da cultura é ser um cultivo de inverno, que se encaixa no esquema de rotação de culturas e plantio direto na palha. O inverno típico desta parte do estado, com chuvas bem distribuídas e temperatura amena, favorecem o cultivo. A variedade IAC-24 é uma das predominantes. A semeadura ocorre entre março e junho e a colheita em setembro e outubro. Na maior parte das terras é feito o plantio direto e as culturas são irrigadas. Curiosamente, uma das pragas da cultura é o ataque de pombas e rolinhas, mas que normalmente não causam perdas significativas.
A alimentação com pastagens compostas por cereais de inverno possibilita produções diárias de leite de até 15 litros por vaca. O rendimento de leite por hectare pode superar 5 mil litros, durante o inverno e a primavera. Além disso, os grãos dos cereais de inverno podem substituir o milho na formulação de rações balanceadas para pequenos e grandes animais, com a vantagem de fornecerem maior concentração de proteína. Outra vantagem é que podem ser colhidas na primavera, épocas de maior escassez de milho.
Mais resistente que o trigo, a cevada é normalmente plantada em parceria com as indústrias fabricantes de cervejas, que fornecem sementes e garantem a compra da produção futura de grãos com preços pré-fixados.
A aveia preta é mais conhecida e utilizada por produtores de leite e de carne como pastagens temporárias para o período de inverno, servindo também para fenação, ensilagem e ainda cobertura morta no sistema de plantio direto na palha, mas seus grãos são utilizados exclusivamente na alimentação de pássaros. A branca e a amarela, além de terem as mesmas utilidades, são excelentes produtoras de grãos para consumo humano. O cultivar de aveia branca IAC-7, com padrão de grãos que atende a indústria, foi desenvolvido pelo Instituto Agronômico da Secretaria de Agricultura e está disponível para os produtores. Segundo a CATI, a indústria exige plantio em linhas com espaçamento de 17 a 25 cm e uma profundidade de 2 cm. O plantio deve ser feito de março a maio. A aveia necessita de água o ciclo todo, sendo mais exigente após a germinação e na floração. A colheita de grãos ocorre aproximadamente 4 meses após a semeadura, sendo mais precoce e com maior produção de palha que o trigo.
Para regiões mais frias são indicados as aveias, trigo, triticale, nabo forrageiro, ervilhaca e cevada. Para regiões quentes e secas, milheto e sorgo, porém, em regiões intermediárias, como a região de Mogi-Mirim, em SP, há o cultivo do painço como excelente alternativa para a rotação de culturas. A sua produção é toda destinada à alimentação de pássaros. Além de manter a terra produzindo na entressafra da cultura principal e garantir retorno financeiro, o cultivo do painço é de fácil manejo, tem ciclo curto, não requer altos investimentos e pode se beneficiar dos insumos aplicado à cultura principal, o algodão. Outra vantagem é a grande quantidade de palhada. São dois tipos, o “chatinho” e o “bolinha”. O primeiro plantio é feito no verão, entre março e abril, como o “bolinha”, que tem ciclo de 75 dias, menor que o “chatinho”, de inverno, que dura 90 dias e é semeado em junho ou julho. No verão a produção é mais interessante por causa das chuvas e dos dias mais longos. No inverno há a necessidade de pelo menos 20 mm de chuva. A CATI lançou recentemente dois cultivares, o AL Mogi e o AL tibagi.
O triticale, com 15% mais proteína que o milho, embora com menor teor de energia devido aos teores mais elevados de fibra e menor de gordura, pode compor a maioria das rações, desde que os preços sejam competitivos. A cultura, da mesma forma que a aveia, se presta à produção de silagem com a utilização da planta inteira ou como fornecedora de forragem verde no cocho. Silagem de grãos úmidos e feno também podem ser feitos. Quando cortado verde para silagem, o triticale permite uma rebrota, podendo resultar em mais uma colheita de grãos. Utiliza-se 60 a 65 sementes por metro linear, com espaçamento de 17 cm e profundidade de plantio de 2 a 3 cm. Como cobre totalmente o solo, o triticale ajuda no combate ao surgimento de ervas invasoras. A cultura, segundo Armando Portas, do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da CATI avança também para as regiões mogiana e norte.
Ações governamentais
A união de esforços do governo e da iniciativa privada pode resgatar a cultura do trigo definitivamente no país, já que é considerada uma das culturas universais, e que no Brasil, perdeu muito espaço nos últimos anos para produtos importados, principalmente da Argentina. O país, que no século 17 exportava trigo para Portugal e Argentina, tornou-se o maior importador do mundo desse grão. No ano passado, as importações foram de aproximadamente 7 milhões de toneladas, 80% do cereal consumido pela indústria nacional. A dependência da produção de um parceiro que enfrenta grave crise econômica motivou a indústria nacional a buscar alternativas para aumentar a produção. Uma delas, segundo Armando Portas, foi o de incentivar a CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), órgão da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Estado de São Paulo, a produzir sementes de trigo e seus congêneres, como o triticale e a aveia.
A preferência por alimentos que, além do valor nutritivo, exerçam influência sobre o bem-estar e a saúde, está fazendo crescer o mercado brasileiro para a aveia branca. Estudos recentes demonstraram que o cereal é rico em fibras e minerais, agindo como redutor do nível de colesterol.
O crescimento do plantio de soja na região também contribui para o aumento da área plantada com trigo, já que assim como o triticale, fornece boa palhada para o plantio dessa oleaginosa. O triticale é uma espécie de parente do trigo, cruzamento deste com o centeio, e são destinados à indústria de biscoito e fábricas de rações animais. Embora mais produtivo, seu preço é geralmente 25% inferior ao do trigo. Há também, desde janeiro de 2003, um conjunto de medidas que visa melhorar a qualidade do trigo brasileiro, tornando-o compatível com os padrões internacionais, atendendo as normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
COMENTÁRIOS – O aumento da área plantada com cereais de inverno, principalmente o trigo, mesmo que destinados preferencialmente para a produção de grãos, possibilita alguns ganhos indiretos para a pecuária. Primeiramente possibilita mais distribuição de informações sobre essas culturas, o que ao longo do tempo permitirá melhor uso das mesmas pelos pecuaristas. Em segundo lugar, principalmente para culturas de sequeiro, há a possibilidade de perdas significativas na produção de grãos e destinação da palhada para pastejo ou produção de feno. Os maiores investimentos em irrigação também criam uma expectativa de maior disponibilidade destes equipamentos nas propriedades em que haja também atividade pecuária. A utilização de culturas de inverno no Estado de São Paulo para fins forrageiros ainda é pouco utilizada e muito pouco pesquisada, porém, o Pólo Regional do Sudoeste Paulista, sediado em Capão Bonito, dispõe de inúmeros cultivares de aveia e cevada em teste, chegando a produzir até 50 t de matéria verde em ciclos de 120 dias de crescimento, matéria verde de excelente qualidade nutricional. O mercado de sementes ainda é um fator limitante, tanto quanto a disponibilidade de água, os custos de produção mais elevados e geadas.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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