A linha de financiamento em EGF (Empréstimo do Governo Federal) para a estocagem do couro somente será liberada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), via Poupança Rural do Banco do Brasil, quando os curtumes brasileiros, representados pelo Centro das Indústrias de Curtume do Brasil (CICB), adotarem o sistema de classificação do couro e passarem a remunerar o produtor brasileiro pelas peças fornecidas aos frigoríficos na venda do boi.
A decisão foi anunciada terça-feira (16), ao presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, pelo ministro Pratini de Moraes, ao tomar conhecimento do rompimento do compromisso acertado entre CICB e CNA, tendo em vista que o pagamento de EGF está diretamente relacionado à existência de um preço mínimo pago pelo produto.
No Brasil, os frigoríficos não remuneram o produtor pelo couro, adotando o sistema de comercialização chamado “bica corrida”, que é a retirada da peça e venda do produto pelo seu peso, independente da qualidade que apresenta. Este sistema desestimula o pecuarista a cuidar do couro do animal, cujos defeitos são ocasionados pela presença de bernes, parasitas, problemas no transporte, uso de pregos e arames farpados nas cercas ou marca a fogo em local inadequado. Sem um sistema de classificação do produto, o preço do couro brasileiro sofre uma desvalorização de quase 50% no mercado dos países concorrentes. Enquanto o preço pago pelo produto brasileiro fica entre US$ 25 e US$ 30, o preço médio obtido pelos demais países produtores, como os Estados Unidos, é de US$ 60. Assim, no total, o prejuízo do setor chega a US$ 1 bilhão por ano.
O vice-presidente do CICB, Arnaldo Frizzo, explica que os curtumes já tomam os cuidados necessários, que também devem ser adotados pelos frigoríficos. “Somos clientes dessas indústrias, que precisam agir como intermediários na relação entre curtume e pecuarista”, avalia. Para o dirigente, essa remuneração diferenciada deve ser repassada aos produtores. “Se isso acontecer, toda a cadeia produtiva será melhor capitalizada”, completa.
“O Brasil perde, anualmente, mais de 10% do couro encaminhado às indústrias devido aos defeitos do produto”, diz Nogueira, defendendo a imediata adoção do sistema de classificação elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo esta metodologia, o produtor receberia R$ 7,00 pela pele classificada como C; R$ 11,00 pela pele classificada como B e R$ 14,00 pela pele do tipo A. “Basta uma remuneração, mesmo pequena, ao pecuarista, para que ele ofereça um produto de melhor qualidade”, argumenta o presidente do Fórum.
Ele reclama da atitude dos curtumes, “que já haviam se comprometido a remunerar o produtor conforme a classificação da Embrapa”. O País produz, atualmente, 34 milhões de peças de couro por ano, exportando 16 milhões de peças e utilizando 18 milhões no mercado interno. Para Antenor Nogueira, “é inaceitável que o Brasil, que tem uma pecuária avançada e compete com as grandes nações produtoras do mundo, seja o único país produtor pecuário a não dar importância à remuneração do couro e à conseqüente melhoria de qualidade do produto.
Fonte: Departamento de Comunicação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e Jornal do Comércio/RS, adaptado por Equipe BeefPoint