Síntese Agropecuária BM&F – 18/09/03
18 de setembro de 2003
ABHB reativa programa Carne Pampa
22 de setembro de 2003

Custos de produção aumentaram em agosto

Os preços dos insumos pecuários tiveram aumentos acima dos índices gerais de inflação, em agosto. Na média dos sete Estados onde é feita a pesquisa de custo da produção pecuária da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil/Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CNA/Cepea-USP), a cesta com os principais insumos utilizados mensalmente na pecuária de corte (Custo Operacional Efetivo) esteve 0,71% mais cara em agosto, quando comparada a julho. Já o IGP-M de agosto teve aumento de apenas 0,38%. Com base nesses números é possível tirar duas conclusões: a produção de carne bovina está remunerando menos os produtores e a inflação nos custos pode, num segundo momento, vir a pressionar os preços da carne para o consumidor final.

Se forem levados em consideração os dados dos últimos seis meses, as perdas dos pecuaristas aumentam. De março a agosto, o conjunto de insumos pecuários (COE), considerado ponderamente de acordo com o tamanho do rebanho, acumula alta de 4,33%, enquanto o IGP-M sinaliza apenas 1,13%. Ao incluir os itens fixos demandados pela propriedade para a produção (Custo Operacional Total), a desvantagem é ainda maior, com acumulado de 4,55% nos últimos seis meses. No mesmo período, houve um aumento de apenas 1,85% no valor recebido pela arroba de boi, na média dos Estados pesquisados, ponderada pelo tamanho do rebanho.

As situações mais críticas são dos produtores de Mato Grosso do Sul, onde o aumento acumulado é de 7,54% dos últimos seis meses, e de Rondônia, elevação de de 8% dos custos pecuários. Tendo em vista a sazonalidade da oferta e do preço da arroba do boi no período, o boi gordo teve altas de apenas 0,58% em Rondônia e de 1,32% no Mato Grosso do Sul, puxadas pelas reações ocorridas em julho e, principalmente, em agosto.

A variação de custos apuradas nesta pesquisa é um forte indicativo para pecuaristas e também frigoríficos balizarem suas negociações externas, considerando-se que as elevações de custos, em algum momento, serão transferidas efetivamente para os preços do boi, ou seja, motivarão aumentos não só em função da sazonalidade da oferta.

Variações de Agosto

As variações dos custos, em agosto, foram claramente influenciadas pelos insumos demandados para atividades agrícolas da pecuária – formação e reforma de pastagens. A alta no preço do adubo foi expressiva em São Paulo, chegando a 5,94%, o que ocorreu também em quase todos os estados, em decorrência dos reajustes dos compostos nitrogenados, muito empregados para melhorar a produtividade das forrageiras. Associado a esse fator, o aumento do frete desencadeado pela elevação do óleo diesel e lubrificantes nos últimos meses também contribuiu para o encarecimento do produto entregue na fazenda.

As maiores altas dos preços dos fertilizantes foram observadas em São Paulo, Pará e Rondônia, que registraram índices de 5,94%, 4,42% e 3,68%, respectivamente. Em SP, o sal mineral também teve elevação considerável de 6%, além dos reajustes de vários outros insumos. Esse aumento generalizado no mercado paulista pode servir de prognóstico para produtores de outros estados, atentos ao possível repasse desses novos valores, nos próximos meses.

Os estados incluídos na pesquisa CNA/Cepea-USP desde março são Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Rondônia e São Paulo. Em agosto, foram incluídos o Rio Grande do Sul e novas regiões do Mato Grosso e Goiás. Juntos, os sete estados representam mais de 60% do rebanho de corte do Brasil, segundo dados de 2001 do IBGE, e quase a totalidade da produção de carne brasileira exportada.

Esse levantamento sistemático evidencia a grande diversidade de sistemas produtivos, que oferece, por sua vez, variabilidade de rendimentos inter-regionais. Os diferentes índices estaduais obtidos decorrem não só das oscilações de preços locais, mas são fortemente influenciados pelos sistemas regionais de produção, que concedem aos mesmos insumos diferentes ponderações no custo total. No Mato Grosso do Sul, por exemplo, os preços do bezerro, considerado um insumo de produção no sistema de recria em engorda, amorteceram os efeitos da alta de outros itens, como medicamentos e vacinas.

A observação mais localizada dos índices de custo mostra que em regiões onde a tecnificação é menor, como norte de Goiás e sul do Mato Grosso do Sul, por exemplo, os custos tenderam à estabilidade, ou mesmo a uma leve redução, tendo em vista justamente a menor utilização de insumos. Já nas regiões de pecuária mais tecnificada, o uso intensivo de itens para suplementação e medicamentos torna mais cara a produção da carne, exigindo um maior desembolso do pecuarista.

Relações de troca no mercado paulista

Sal Mineral – O suplemento mineral aumentou 6,1% em agosto, em relação a julho, em São Paulo. Essa elevação foi puxada pelo aumento do fosfato bicálcico, principal fonte de fósforo para os minerais. Para o boi gordo, a média dos preços de agosto ficou 4,03% acima da verificada em julho, em São Paulo. O poder de compra do pecuarista frente a este insumo, em agosto, foi melhor do que no mesmo período do ano passado. Em agosto de 2002, era necessária 0,58 arroba de boi para comprar um saco de sal mineral de 30 quilos. Em agosto deste ano, a relação é de 0,50 arroba, o que representa ganhos de 13,8% no poder de compra, nos últimos 12 meses. No acumulado do ano, a elevação passa dos 30%.

Bezerro – O pecuarista especializado na engorda vem ganhando continuamente na relação de troca de boi por bezerro, em detrimento do produtor de cria e recria. Um bezerro nelore, pesando cerca de 180 quilos, equivalia a cerca de 8,12 arrobas de boi, em agosto 2001, caindo para 7,54 arrobas, em agosto/02. No último mês, caiu para 6,71 arrobas. Comparando as trocas nos meses de agosto, de 2001 para este ano, a relação do invernista melhorou 17,3%.

Rio Grande do Sul

A inclusão do Rio Grande do Sul na pesquisa CNA/Cepea-USP agrega particularidades que interferem, inevitavelmente, nas variações calculadas. A composição genética do rebanho, manejo da pastagem, gastos com mão-de-obra e suplementação mineral são algumas dessas características específicas da região. O gado nelore deixa de ser a raça predominante no seu sistema de criação extensiva, dando lugar aos cruzamentos industriais com diferentes raças européias e zebuínas. Embora estas características pareçam, à primeira vista, um fator positivo para o produtor gaúcho, a variedade de cruzamentos pode dificultar a formação de lotes padronizados, reduzindo o valor do quilo vivo pago ao produtor.

Na maior parte do estado, a pastagem vem de campos nativos, compostos por diversos gêneros de forragens, a exemplo do capim forquilha, eliminando os gastos para sua formação inicial. Os períodos de estiagem não são a maior preocupação do pecuarista, mas o rigor das baixas temperaturas do inverno, que exige investimento para a formação de áreas de pastoreio com forragens que suportam as geadas. O preparo das áreas e o plantio de trevo, aveia preta e outros cultivos para pastoreio demandam recursos semelhantes aos investimentos para recuperação de pastagens em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Goiás.

Embora o Rio Grande do Sul utilize pastagens nativas, é cada vez maior a necessidade de tratamento das áreas de pastoreio, devido à redução da produtividade dos campos nativos e ao avanço do capim anoni. Esta forrageira se expande de forma agressiva e dificulta ganhos de peso, entre outros problemas que causa ao rebanho. Os gastos com a suplementação situam-se, em média, ao redor dos 7% dos gastos efetivos, enquanto que, em outros Estados, esses gastos não ficam abaixo de 15%. O solo permite administrar níveis menores de fósforo para o rebanho, mas as despesas trabalhistas típicas da região aumentam os dispêndios com mão-de-obra. Além dos limites mínimos do piso salarial serem determinados por leis regionais, o pecuarista gaúcho têm gastos adicionais com o rancho – pagamento geralmente em espécie para alimentação dos trabalhadores – que chega a aumentar em 25% os custos da mão-de-obra.

Fonte: Assessoria de imprensa do Cepea (por Ana Paula Silva), adaptado por Equipe BeefPoint

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