O Brasil é o país onde a técnica de transferência de embriões em bovinos mais evoluiu nos últimos 10 anos. Nas estatísticas de 2002 do IETS (International Embryo Transfer Society), o Brasil já figura como o 2o colocado em aplicação da técnica. Embora experimentando apreciável crescimento, a utilização da tecnologia de embriões, visando a multiplicação de genótipos superiores é pequena, ao considerar-se que o País possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo (cerca de 190 milhões de cabeças – 2004).
Nos últimos anos a pecuária de corte brasileira apresentou notável crescimento. A situação atual da pecuária de corte no Brasil coloca nosso país em destaque neste setor no contexto mundial. Além de possuir o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, alcançamos recentemente a posição de maior exportador mundial de carne. Uma análise mais ampla dos mercados interno e externo parece apontar em situações opostas, numa primeira impressão.
De um lado temos uma demanda crescente do mercado externo. Nosso chamado “boi verde” encontra cada vez mais consumidores nos diferentes cantos do mundo. Porém internamente uma situação pressiona a pecuária de corte em sentido contrário. Com valorização e demanda crescente de propriedades para a produção de grãos, é crescente e inevitável a perda de áreas originalmente de pastagens para a agricultura. Estima-se que nos próximos 5 anos, mais de 15 milhões de hectares de pastagens se tornarão áreas de cultivo de soja, milho, algodão e outros. Em resumo, o Brasil terá que produzir mais carne numa área menor. Estas forças aparentemente opostas apontam para uma mesma direção: aumento de produtividade. O melhoramento genético é uma das ferramentas que pode auxiliar nesta melhoria de produtividade.
Houve incremento principalmente no mercado interno, mas principalmente no mercado internacional. Além de barreiras alfandegárias, falta de estrutura para exportações etc, um dos pontos de estrangulamento na ampliação do mercado internacional é a disponibilidade de animais com carcaças de qualidade. Para se alcançar as exigências impostas pelo mercado internacional, a genética dos animais é uma característica de suma importância. O melhoramento genético dos rebanhos é condição primordial para produção de carne em quantidade e principalmente em qualidade. As tecnologias associadas á reprodução apresentam grande impacto nos sistemas de criação, no ganho genético e também na disseminação de genes de animais considerados superiores.
A utilização de matrizes e reprodutores de elevada e comprovada qualidade genética e zootécnica vão condicionar o tipo de produto e o mercado ao qual será destinada a produção. O desenvolvimento de tecnologias que visam aumentar a oferta de animais de genética de qualidade diferenciada pode, sem dúvida, contribuir no sentido de melhorar as características dos produtos de pecuária de corte e simultaneamente permitir a um número maior de criadores o acesso a reprodutores que possam realmente atuar como melhoradores dos planteís.
O custo de implantação e manutenção do programa de transferência de embriões é a principal limitação para uma maior difusão desta técnica. Com os custos e resultados atuais, a transferência de embriões somente vai apresentar relação custo-benefício viável em rebanhos cujos animais tenham um grande valor comercial, para que o valor dos produtos possa compensar os custos de produção.
Antes de iniciar qualquer programa de Tecnologia de Embriões uma ampla análise da relação custo benefício deve ser elaborada, no sentido de se estabelecer as reais perspectivas de sucesso econômico desta atividade. A seguir será apresentado e discutido o acompanhamento de custos de um programa de transferência de embriões durante o período de um ano.
Neste período foram realizadas 49 colheitas de embrião. Os resultados do programa neste período foram 386 embriões totais e 268 estruturas viáveis. Uma média 7,72 ± 5,91 estruturas totais/coleta e de 5,58 ± 4,24 embriões viáveis/coleta.
O custo de produção dos embriões foi obtido somando-se o valor médio para a mão-de-obra (Técnico que executa o procedimentos de colheita e transferência de embriões) com os gastos com todos os materiais de consumo (tabela 1).
O custo médio de manutenção das receptoras levou em consideração vários aspectos. O tempo médio de permanência de cada animal foi calculado da seguinte forma: o início deste período foi o dia da inovulação e o final poderia ter sido retorno ao estro (repetição de cio após inovulação) ou diagnóstico negativo de gestação. Tanto na entrada como na saída os animais foram pesados em balanças eletrônicas para cálculo da variação de peso.
O valor da manutenção mensal foi elaborado considerando os principais custos referentes às receptoras. Além da hospedagem, considerada pelo valor médio regional praticado na Região para arrendamento de propriedades, num valor relativo a unidade animal (cabeças), foram contabilizados outros custos. O valor da mineralização foi obtido pelo valor do kg da mistura mineral utilizada, no caso R$ 0,68/kg, num consumo diário médio de 70g/animal/dia. Isto levou a um consumo mensal de 2,1kg, e um valor mensal relativo a este item de R$1,42/animal/mês.
Os demais valores que compõem os custos das receptoras estão determinados na tabela 3. O custo de manutenção levou em consideração o valor mensal, multiplicado pelo período médio de permanência dos animais até o diagnóstico de gestação.
O valor médio das receptoras foi obtido pelo peso vivo das mesmas, dividido por 30. Com isto calculou-se o peso arrobas (@). Conforme informações do mercado foi estipulado para os cálculos um valor de R$52,00/@.
O valor médio do índice da Caderneta de Poupança utilizado na correção dos valores inicialmente investidos foi de 0,69%/mês. Para a correção do valor, este índice foi multiplicado pelo tempo médio de permanência em meses das receptoras.
Na elaboração destes custos deve estar incluído o custo de produção de cada embrião, que depende dos valores gastos para a produção e do resultado médio em embriões viáveis/colheita. A taxa de gestação destes embriões também é de suma importância. O valor dos embriões representa o maior valor que compõe o custo da gestação.
Os custos de manutenção das receptoras também é de grande importância. Quando se utilizam novilhas nesta categoria, uma característica importante para reduzir o custo de manutenção está relacionada a variação de peso das mesmas. Provavelmente vacas não exibiriam tal característica, ou mesmo com a intensidade revelada.
A correta observação de cios, assim como o diagnóstico precoce de gestação podem auxiliar sobremaneira na utilização racional das receptoras. Com estas características animais não gestantes ficam mais rapidamente disponíveis para colocação de um novo embrião, reduzindo o tempo de permanência no programa e os custos de manutenção.
Vale ressaltar que os custos apresentados acima se referem ao valor de cada gestação e não de cada produto. Para o custo dos produtos deveria ser considerada além dos custos de gestação, a incidência de perdas deste o diagnóstico até o parto, os custos de manutenção das receptoras até este evento, a incidência de problemas de parto e a taxa de nascidos vivos. Sem dúvida um grande número de variáveis que devem ser analisadas para que o cálculo do valor de cada produto seja o maior reflexo possível da realidade.
2 Comments
Caros amigos, material de ótima qualidade e de real valor para nós, técnicos e pecuarístas, pois com esta detalhada descrição dos custos da Transferência de Embriões Bovinos, podemos avaliar a viabilidade da técnica para o melhoramento da pecuária,mesmo que defasada pelo tempo, pois os valores, brilhantemente relacionados pelo professor CARLÃO, são referentes ao ano de 2004.
Parabéns ao AgriPoint e se não fosse pedir muito, gostaria de saber qual será o próximo curso ministrado pelo Dr. Carlos A. C. Fernandes, conhecido também como professor Carlão de Alfenas e diretor da BIOTRAN.
Atenciosamente!
Rodrigo Ribeiro Miranda
Médico Veterinário
Belo Horizonte – MG
Resposta do autor:
Caro Rodrigo,
Obrigado pelos elogios ao artigo. Precisamos sim reformula-lo e atualizá-lo. A realidade mudou bastante, temos o advento da FIV etc. Talvez um outro comparando estas duas tecnologias que podem inclusive ser complementares.
Sobre os cursos, está acontecendo um “on-line”no beefpoint. Os presenciais você pode conferir no site: http://www.biotran.com.br
Grande abraço
gostaria de saber qual o valor medio de implantação de semem do nelore sexado