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De Copenhague não virá sequer chocolate

O problema da mudança climática envolve um clássico problema de falhas do mercado, talvez a maior delas em toda a história da humanidade: aqueles que geram prejuízos a terceiros ao emitirem gases de efeito estufa usualmente não pagam por este dano. Por outro lado, a conta da mitigação do risco ambiental - do jeito em as coisas vão se ajustando - denuncia um não menos clássico problema de justiça distributiva, que, igualmente, pode ser o maior da história da humanidade: os países e regiões mais pobres do planeta devem - mantidas as "soluções" que estão sendo atualmente desenhadas - arcar com lado mais vermelho da despesa.

Ideologia!
Eu quero uma prá viver
Ideologia!
Eu quero uma prá viver…
(Cazuza/Frejat, “Ideologia”)

O problema da mudança climática envolve um clássico problema de falhas do mercado, talvez a maior delas em toda a história da humanidade: aqueles que geram prejuízos a terceiros ao emitirem gases de efeito estufa usualmente não pagam por este dano. Por outro lado, a conta da mitigação do risco ambiental – do jeito em as coisas vão se ajustando – denuncia um não menos clássico problema de justiça distributiva, que, igualmente, pode ser o maior da história da humanidade: os países e regiões mais pobres do planeta devem – mantidas as “soluções” que estão sendo atualmente desenhadas – arcar com lado mais vermelho da despesa.

A ideologia não é a luz do mundo. A luz pressupõe razão; a ideologia – bem ao contrário do que queriam Cazuza e Frejat – desenvolve-se com o semblante de um Anjo Negro; nasce da escuridão e das paixões que nos consomem; é inimiga visceral da vida. Seguramente ninguém é tão racional que não possa ser arrebatado por “uma ideologia para viver”, mas isto não torna a ideologia luminosa ou sequer lhe isenta do obscurantismo inato que marcou a sua história: apenas comprova que a ideologia é perigosa demais para ser cantada em prosa e verso inocentemente.

A nova ideologia – forjada no final do último milênio – tem o singelo nome de ecolatria: aqui, o meio-ambiente passou a ser um valor absoluto maior que a vida humana; a ecolatria é o assassino de aluguel da utopia da justiça e da igualdade.

Por quê? Bom, antes um pouco de economia.

Qualquer atividade econômica pode gerar, em algum momento, um fenômeno conhecido como “externalidades”: são fatores que não são capturados pelo mercado no sistema de preços e conseqüentemente, não aparecem explicitamente no cálculo da formação da renda, mas que contribuem para a sua formação ou redução. Assim, suponha que uma empresa ABC decida investir pesadamente na formação do seu quadro de pessoal. Depois de terminado o período de treinamento, uma desagradável surpresa: o seu principal concorrente, a empresa XYZ contrata os funcionários mais qualificados no treinamento conduzido pela empresa ABC. A externalidade foi positiva para XYZ, pois não investiu um centavo no treinamento dos funcionários, que agora mais qualificados, passam a integrar os seus quadros. Em outras palavras, XYZ recebeu um subsídio de ABC. Da mesma forma, se o meu vizinho faz um “gato” e consegue energia “de graça” (?) para iluminar a sua casa, as pessoas que pagam o seu consumo de energia, estão sendo lesadas no bolso: estão arcando com o custo de vida do meu vizinho. Na chincha: o meu vizinho está impondo uma externalidade negativa na renda dos usuários de energia adimplentes.

Ora, no debate sobre a questão ambiental da Região Amazônica existe claramente um ônus que está pesando sobremaneira nos habitantes e nas empresas que operam na Região. Se – apenas para seguir a linha de raciocínio dos ecólatras – a Região é “patrimônio da humanidade” e por isso o “planeta” pode restringir a atividade econômica aqui na Região, ou mesmo impedi-la em nome do meio- ambiente, imputando o ônus da mitigação do risco climático ou da preservação da biodiversidade, ou ainda da redução do desmatamento somente sobre as empresas e os trabalhadores que laboram na Região, as externalidades positivas e negativas não estão se cancelando.

A Amazônia gera uma externalidade positiva para o mundo – e nada recebe por isto; por outro lado, o custo do ajuste recai tão somente na Região, pois ao reduzir ou tornar mais onerosa a atividade econômica na Região, o resto do mundo está nos impondo uma forma de regulação regressiva e altamente gravosa. Não é sequer uma externalidade negativa (se assim o fosse, ela seria necessariamente involuntária, pois um fenômeno técnico!). A regulação regressiva é uma forma de colonialismo verde, uma patologia, um assédio econômico. O resultado líquido é um subsídio da Amazônia para o resto do mundo.

0 Comments

  1. Enaldo Oliveira Carvalho disse:

    Mais uma vez o prof. Mário Ramos nos contempla com um excelente artigo.
    Justamente nesse período em que todas as atenções da mídia se voltam para a questão ambiental, e o que é pior, com viés ideológico, onde apenas um lado aparece com a razão e a solução. O discurso conservacionista ganha espaço em detrimento do desenvolvimento econômico e tecnológico de milhões de brasileiros que vivem e trabalham na Região Norte do país.
    Pelo visto nas negociações de Copenhague, a única que irá realmente avançar será a exigência de dsematamento zero na Amazônia, pois conta com o apoio do próprio governo brasileiro, que segue a cartilha das ONG´s estrangeiras. E assim continuamos com o subsídio ambiental para o resto do mundo. Os países ricos não agradecem, mas gostam do presente.

  2. Fernando Penteado Cardoso disse:

    O autor refere-se a: “…redução do desmatamento somente sobre ….os trabalhadores que laboram na Região [amazônica]”.

    Vejam como está correto:

    -As lavouras “no toco”, igualmente viáveis, são bastante raras hoje em dia pelo tipo de mão de obra envolvida para semear com matraca, para depois fazer a colheita manual. Ainda são praticadas por “posseiros”, que fazem novas derrubadas a cada dois anos quando o terreno cultivado se torna praguejado de invasoras, com redução da área que a família pode plantar, tratar e colher. Segundo o Min. Roberto Rodrigues, em recente depoimento no Senado Federal, existem 500.000 famílias na Amazônia vivendo neste sistema tradicional de “derrubar, queimar, plantar duas safras e deixar virar capoeira”, sempre escolhendo a mata mais alta onde a terra é mais fértil e dá menos rebrota (juquira), como já faziam os índios com sua mandioca.

    -Os pequenos agricultores da Amazônia, conhecidos por safristas ou posseiros, derrubam e queimam pequenas áreas todos os anos, não porque o solo tenha perdido a fertilidade, mas porque a infestação por ervas daninhas reduz a dimensão da área que podem cuidar. Uma pequena família é capaz de derrubar, plantar, fazer a limpeza e colher arroz, mandioca ou milho em cerca de 10 ha, tendo o machado, a foice e o facão por ferramentas. Depois de dois anos, sua capacidade se reduz 2 ou 3 ha, quando o terreno se torna praguejado, requerendo capinas a enxada. A colheita se torna insuficiente para seu sustento e comércio, não havendo melhor solução do que fazer nova abertura. (Março 2003)

  3. walterlan rodrigues disse:

    Professor Mario Ramos, gostei da sua colocação sobre a Amazonia quando o Sr. diz que:
    A AMAZONIA GERA UMA EXTERNALIDADE POSITIVA PARA O MUNDO” explicando de uma for-
    ma muito clara que o mundo se beneficia de nossas florestas e não paga nada por isto e ainda interfere atravez das ONGs, dos ambientalistas e Mincs da vida, na vida de nós produtores que temos de obedecer as leis ambientais sob as penas do rigor da lei.

    Aproveitando seu artigo, gostaria de pegar uma deixa na EXTERNALIDADE POSITIVA,para
    afirmar com toda a segurança de que O PETRÓLEO GERA UMA EXTERNALIDADE NEGATIVA –
    PARA O MUNDO, pois ao contrário da Amazonia que não recebe nenhum benefício pelo bem que causa, ele, o petroleo, só fica com os benefícios.

    Não seria este o momento de se discutir os royaltes que se pagam e vão se pagar pelo fa-
    moso PRE SAL e pelo petróleo que se está produzindo em beneficio daqueles (agropecuaris-
    tas) que são obrigados por força de lei a proteger os mananciais, as encostas de morros e etc.?

    O que temos visto é que os governadores estão muito interessados nos royaltes do pré sal
    mas ninguém quer abrir mão destes recursos para aplicar em meio ambiente. Os políticos querem mais dinheiro para apresentarem espetáculos como este de agora em Brasilia.

    Será que não é hora de discutirmos EXTERNALIDADES? Parabens professor Mario gostaria
    de ter sido seu aluno.

  4. cristiano fleury carvalho santos disse:

    Concordo com o Sr Walterlan Rodrigues.