Dois assuntos muito importantes e ainda mal resolvidos dentro da cadeia da carne bovina continuam a ser notícias. Um muito antigo relacionado à implantação do sistema de tipificação e classificação de carcaça bovina, e o segundo mais recente relacionado com a implantação do sistema brasileiro de identificação e certificação para fins de rastreabilidade. O que impressiona em ambos os casos é a falta de empenho da cadeia, incluindo o setor público, de resolver essas duas questões.
Quanto à tipificação de carcaças, notícia desta semana diz que a pedido dos produtores o governo decidiu implantar o sistema, o que não deixa de ser uma boa iniciativa. Entretanto, a motivação do setor de abate para colaborar com a implantação do sistema é de primordial importância para que a mesma aconteça.
Alguns aspectos importantes a serem considerados em uma eventual implantação do sistema de tipificação e classificação precisam ser bem administrados. O primeiro está relacionado à origem dos recursos para a implantação do sistema. O segundo tem a ver com a necessidade das características dos diferentes tipos de carcaça chegar ao conhecimento dos consumidores logicamente através das embalagens dos cortes a serem comercializados. O terceiro seria quem vai controlar a qualidade das informações sobre a carcaça que devem chegar ao consumidor através da rotulagem. Um outro aspecto está relacionado à expectativa dos produtores em receber um adicional para as carcaças consideradas de melhor qualidade.
No Mato Grosso, tanto o custo da tipificação como esse diferencial de preço está sendo subsidiado pelo governo estadual. Acreditamos que a iniciativa do Estado de Mato Grosso foi importante para testar o sistema gerando informações importantes sobre a idade de abate e as características das carcaças de diferentes grupamentos raciais. Entretanto, parece difícil que a solução encontrada pelo referido estado para estimular a produção de bovinos classificados como precoce teria chances de ser implantada nos mesmos moldes na maioria dos estados da federação.
Em primeiro lugar porque a extensão dos subsídios seria cada vez maior e abrangeria no curto prazo todos os bovinos abatidos, com exceção das vacas descartes. O limite de quatro dentes para ser classificado como precoce nos parece muito amplo e a tendência será a exclusão da atividade daqueles que não forem capazes de produzir bovinos para abate com essa maturidade. Em segundo lugar porque a decisão política de bancar um subsídio explícito diante da penúria dos tesouros estaduais e da lei de responsabilidade fiscal será difícil de ser justificada.
Concluindo, a implantação do sistema brasileiro de tipificação de carcaça poderá não significar em aumento da remuneração do produtor em relação aos preços praticados, a não ser em casos isolados como já vem acontecendo para atendimento de nichos de mercado com exigências específicas. Entretanto, será importante para a cadeia em geral para a adoção de uma política de preços mais racional, justa e transparente, que sirva de orientação ao produtor quanto ao tipo de carcaça a ser produzida. Além disso, só com o uso as possíveis limitações do sistema poderiam ser corrigidas.
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Existe a necessidade de se incentivar sem subsídio. Pode ser até por categorias inferiores pagando pelas melhores e pelos próprios frigoríficos repassando parte do ganho pela qualidade etc.