Por Emilio Salani1
O tempo passa e o cenário mundial de problemas com sanidade animal se repete: novos casos de gripe de aves no Vietnã – sendo que em março o país declarou eliminado o surto da doença; suspeita de novo caso de vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina-EEB) nos Estados Unidos, o que fez com que o preço da carne bovina no mercado de futuros de Chicago tivesse a maior queda dos últimos seis meses; foco de febre aftosa encontrado em junho no Pará, que colocou o Brasil no circuito de países que atualmente enfrentam problemas sanitários. No nosso caso, porém, a situação é menos dramática. Rússia e Argentina embargaram as importações de carne bovina do Brasil por conta do foco, mas já voltaram a comprar. Já para os norte-americanos, as perdas são incalculáveis, pois muitos mercados fecharam totalmente as portas para os seus produtos. É o caso do Japão.
O que esses casos nos dizem? Que nenhum país está livre desses males. Vejam o exemplo dos norte-americanos e do Brasil. Os Estados Unidos detêm um dos melhores sistemas de defesa sanitária do mundo e erradicaram a febre aftosa de seu território há décadas. No entanto, enfrentam problemas com a doença da vaca louca. O Brasil, por sua vez, nunca registrou nenhum caso da Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), mas ainda trabalha pela erradicação da febre aftosa.
O essencial, portanto, é ter sistemas de defesa sanitária estruturados, capazes de evitar o aparecimento das doenças ou, na pior das hipóteses, controlá-las o mais rápido possível. É necessário também intensificar a fiscalização dos produtos e, no caso da pecuária, incrementar e modernizar os programas de controle sanitário contra aftosa, raiva, brucelose, tuberculose e outras doenças, chegando mais perto da erradicação ou controle dessas enfermidades consideradas de terceiro mundo.
É o que está sendo feito com a febre aftosa, inclusive em nível continental. A par das medidas internas de controle da doença, em março foi criado o Grupo Interamericano de Erradicação da Febre Aftosa (GIEFA), que reúne representantes de todos os países das Américas e trabalha em conjunto para erradicar a febre aftosa do continente americano em menos de uma década. Para tanto, o investimento em sanidade animal precisa ser sólido, bem como a união dos países e de todos os setores envolvidos com a cadeia de produção animal.
Essa união, aliás, é fundamental para toda a cadeia e pode evitar casos como o do Pará, por exemplo. Vejam que mesmo sem exportar carne para o mercado interno ou externo, o ocorrido gerou prejuízo de US$ 36 milhões devido à suspensão das importações de carne feitas pela Rússia e Argentina e trouxe também problemas ao Mato Grosso, que por ser estado vizinho ao Pará teve suas exportações de carne bovina, suína e de aves suspensas pela Rússia. Fica evidente a importância do conceito regional dos sistemas de defesa sanitária. Assim como o Mato Grosso foi penalizado pelo foco de aftosa no Pará, o Brasil já enfrentou adversidades com focos na Bolívia, Paraguai e Argentina.
A indústria veterinária fecha questão e apóia – mais do que isso: participa ativamente – de todas as iniciativas para o combate às doenças que acometem nossa pecuária. Para tanto, focamos o nosso trabalho na oferta de produtos da mais alta qualidade para assegurar a sanidade dos rebanhos.
O eficiente controle sanitário gera vários benefícios. Entre eles, impede barreiras comerciais impostas aos produtos brasileiros e atende as exigências dos consumidores mais criteriosos, preocupados com a segurança alimentar. Sem contar que garante benefícios no comércio internacional de outras commodities do agronegócio.
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1Emilio Salani é presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan).
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Muito bom o artigo esse é o ponto positivo, o negativo é que as autoridades governamentais não estão nem um pouco preocupadas com a estrutuaração do sistema de defesa agropecuária, pois há grande falta de profissionais, baixos salários e desmotivação do pessoal. A população deve ser informada de tal situação, pois quem perde é quem paga a conta.