O volume de recursos de crédito rural desembolsado pelas instituições financeiras aos produtores continuou a crescer em setembro e alcançou R$ 115,9 bilhões desde o início do ano-safra, em julho. O montante é 22,6% superior ao registrado no primeiro trimestre da temporada passada, quando foram liberados R$ 94,5 bilhões, segundo levantamento feito pelo Valor a partir de informações do Banco Central.
O aumento dos desembolsos foi puxado pelas operações de custeio. De julho a setembro, produtores rurais contrataram R$ 80,2 bilhões para a compra de insumos, que estão com preços bem maiores que no ano passado, e outras operações da safra. Nos três primeiros meses de 2021/22, foram R$ 51,7 bilhões.
A área de produção agrícola e pecuária onde esses recursos serão aplicados diminuiu drasticamente – de 43,8 milhões de hectares, de julho a setembro de 2021, para 14,7 milhões neste ano. O número de contratos de custeio, no entanto, subiu para 355,5 mil.
A queda ocorreu entre os médios produtores. Os dados mostram que os recursos de custeio do Pronamp foram aplicados em 10,1 milhões de hectares no ano passado e em apenas 3,7 milhões agora. Contratos entre R$ 200 mil e R$ 300 mil haviam financiado 24,2 milhões de hectares nesse período da safra 2021/22, e agora custearam 1,2 milhão.
Já o ritmo de contratações para investimentos, comercialização e industrialização ficou abaixo do observado no trimestre inicial da safra 2021/22, com desempenhos 17%, 14% e 21% menores, respectivamente. Os desembolsos nessas categorias ficaram em R$ 23,1 bilhões, R$ 6,7 bilhões e R$ 5,6 bilhões neste ano.
As Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) foram a principal fonte dos desembolsos aos produtores rurais, cooperativas e agroindústrias até o fim de setembro, com R$ 32,4 bilhões. Na sequência aparecem a poupança rural subvencionada e os recursos obrigatórios, com R$ 26 bilhões e R$ 25,8 bilhões, respectivamente.
Em setembro, as cooperativas de crédito mantiveram a vantagem sobre os bancos privados nos valores desembolsados. No primeiro trimestre da safra, as cooperativas emprestaram R$ 24,2 bilhões, 22% a mais que o segmento liderado por Bradesco, Santander e Itaú. A dianteira no mercado segue com os bancos públicos – o Banco do Brasil liberou R$ 57,1 bilhões no período.
Segundo apurou o Ministério da Agricultura no início desta semana, ainda estão disponíveis R$ 224,84 bilhões dos R$ 336,5 bilhões de crédito rural programados no início da temporada. O montante total anunciado no lançamento do Plano Safra 2022/23 foi de R$ 340,88 bilhões.
Segundo a Pasta, dos R$ 79,9 bilhões em recursos controlados sem equalização que estão programados, restam R$ 48,74 bilhões para as instituições financeiras emprestarem. Já os recursos controlados equalizáveis, como os captados na poupança rural de bancos e cooperativas, somam R$ 73,07 bilhões – a programação inicial nessa categoria foi de R$ 111,44 bilhões. Também restam ao menos R$ 103,03 bilhões em recursos livres, que não são controlados nem recebem subvenção, de uma alocação total de R$ 145,18 bilhões.
Dos R$ 111,4 bilhões de recursos equalizados disponíveis, R$ 47,5 bilhões estavam no BB até a metade de setembro para abastecer linhas de custeio, investimento e comercialização. Sicoob (R$ 24 bilhões), BNDES (R$ 19,8 bilhões) e Sicredi (R$ 14,9 bilhões) aparecem na sequência. O maior saldo até então era para o custeio empresarial (R$ 25,8 bilhões). Já programas de microcrédito e de financiamento para a compra de caminhonetes de carga e motocicletas pelo Pronaf estavam no fim.
Os dados do balanço de desembolso levam em conta valores registrados até 5 de outubro na matriz de crédito rural concedido do Banco Central. Recentemente, o sistema foi alterado, passando a ter atualização diária, à medida que ocorre a liberação dos financiamentos nas instituições financeiras. A mudança pode resultar em divergências de levantamentos e da base de comparação.
Fonte: Valor Econômico.