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Segundo analistas, a demanda reprimida no período de crise será um dos motores do consumo em 2018, em meio à projeção de melhora do mercado de trabalho, redução do endividamento das famílias e lenta retomada da oferta de crédito.
Apesar dessa expectativa, ainda não será neste ano que o consumo voltará aos níveis pré-crise. Na recessão, os rendimentos caíram de maneira brusca e ainda não estão totalmente recuperados. Além disso, o desemprego continuará elevado, impedindo uma retomada mais pujante, e consumidores e instituições financeiras estão mais cautelosos na hora de tomar e conceder empréstimos.
A pesquisa “Retrospectiva 2017 e Expectativas 2018 dos Consumidores”, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), mostra que 85% dos brasileiros tiveram de fazer cortes e ajustes no orçamento ao longo do ano passado. As ações mais adotadas foram cortar refeições fora de casa (63%), compras de vestuário, calçados e acessórios (56%), itens supérfluos de supermercado (49%) e idas a bares e baladas (48%). Olhando para este ano, 58% acreditam que sua vida financeira vai melhorar.
“A mudança que está acontecendo é para as pessoas que estão empregadas. Para aqueles que perderam o trabalho, o consumo sumiu e não volta. Mas há uma mudança de perspectiva em quem estava vendo o copo meio vazio e passa a ver o copo meio cheio”, afirma Marcel Motta, diretor-geral da Euromonitor no Brasil. Segundo ele, durante a recessão e com o medo da demissão, a população empregada, mesmo com renda, passou a ter mais cautela, reduzindo a compra de produtos mais caros e mais dependentes de crédito.
Em alimentos, Motta destaca que essa crise foi diferente, pois quem se manteve empregado teve o poder de compra preservado, devido à queda da inflação a partir de 2016. Uma mudança de hábito relevante foi o corte de refeições fora do lar e o crescimento de categorias que replicam dentro de casa a experiência de comer fora, como o café em cápsulas e as cervejas especiais. A expectativa é que esses hábitos não se revertam e que o consumo fora de casa comece a voltar.
Tiago Oliveira, gerente da Kantar Worldpanel, destaca que a retomada de hábitos de consumo será lenta. “A queda do rendimento da população foi brusca o suficiente para que, mesmo em 2018, isso não se recupere 100%”, afirma. Ele lembra que, em 2016, no auge da crise, 51% das famílias chegaram a ficar com gastos acima dos rendimentos, uma situação atípica, porque normalmente renda e gastos andam juntos.
Oliveira conta que há produtos que foram cortados, mas já recuperaram o nível de consumo pré-crise, caso da manteiga, leite fermentado, água mineral e antissépticos bucais. Outros seguem em queda de consumo contínua, a exemplo da sobremesa pronta, do petit suisse, bebidas a base de soja e refrigerantes. Já algumas categorias voltaram a crescer, sem recuperar o nível pré-crise, como os óleos culinários especiais, iogurte, cremes para o corpo e congelados.
Fonte: Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.