Novos tempos para a carne
11 de dezembro de 2008
Mercados Futuros – 12/12/08
15 de dezembro de 2008

Demanda retraída favorece pressão dos frigoríficos e indicador tem forte recuo

A pressão sobre os preços de boi gordo se intensificou nesta semana, e o indicador Esalq/BM&FBovespa à vista teve recuo de 6,47%, sendo cotado a R$ 79,86/@ na última quinta-feira. O indicador a prazo foi cotado a R$ 81,05/@, acumulando desvalorização de 6,42% na semana.

A pressão sobre os preços de boi gordo se intensificou nesta semana, e o indicador Esalq/BM&FBovespa à vista teve recuo de 6,47%, sendo cotado a R$ 79,86/@ na última quinta-feira. O indicador a prazo foi cotado a R$ 81,05/@, acumulando desvalorização de 6,42% na semana.

Gráfico 1. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo

Tabela 1. Principais indicadores, Esalq/BM&F, relação de troca, câmbio

Os frigoríficos continuam pressionando os preços para baixo e com escalas alongadas, muitos permanecem fora das compras. Alguns compradores reportam que as compras melhoraram em relação ao final do mês de novembro. Mas de maneira geral o volume de negócios ainda é pequeno, sendo apenas suficiente para atender a necessidade atual das indústrias, que enfrentam um período de demanda retraída.

Apesar dos pecuaristas relutarem em entregar lotes no preços atuais a arroba do boi gordo assumiu tendência de baixa e os preços têm recuado na maioria das praças pecuárias do Brasil. Desde o início de dezembro o indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo a prazo já recuou 7,95%.

Todos os setores da economia já sentem os efeitos da falta de crédito, reflexo da crise internacional. Com isso a cada dia mais empresas tem enfrentado problemas financeiros como dificuldades para conseguir capital de giro, quitar empréstimos e financiamentos e pagar fornecedores.

Um exemplo claro é a dificuldade que o setor de lácteos tem enfrentado. A crise econômica que se agravou neste fim de ano, na verdade, apenas deixou aparente uma série de dificuldades financeiras que as empresas de lácteos vinham enfrentando desde que a oferta de leite no País disparou e o preço despencou.

Na indústria de carnes os problemas não são muito diferentes, assim, neste momento de crédito difícil, os frigoríficos não podem descuidar da eficiência para minimizar perdas e conseguir melhorar as margens que seguem apertadas.

A produção de frangos também já começa a sentir esses reflexos. As exportações brasileiras do produto recuaram e pressionam as cotações internas, de acordo com números preliminares levantados pela Associação Brasileira dos Produtores de Pintos de Corte (Apinco). José Carlos Godoy, secretário-executivo da entidade, acredita que a exportação de carne de frango deve apresentar forte retração. Para a Apinco, o “ideal” seria reduzir a produção. A recomendação da entidade para regular o mercado é o descarte de matrizes.

Ontem a BM&FBovespa apresentou um reajuste positivo que não foi suficiente para equilibrar as baixas consecutivas. Na semana, os contratos que vencem em dezembro/08, tiveram variação negativa de R$ 3,89, fechando a R$ 78,22/@ no pregão do último dia 11. Janeiro/09 fechou a R$ 74,59/@, com desvalorização acumulada de R$ 4,85. A maior variação da semana ocorreu nos contratos para maio/09 (-R$ 4,90), que fecharam a R$ 73,60/@.

Gráfico 2. Indicador Esalq/BM&FBovespa e contratos futuros de boi gordo (valores à vista), em 04/12/08 e 11/12/08

O mercado de reposição segue em baixa, com pouca procura e poucos negócios sendo realizados. O indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista foi cotado, nesta quinta-feira, a R$ 653,81/cabeça, com queda de 3,80% na semana. Com o boi gordo apresentando forte desvalorização a relação de troca recuou para 1:2,02.

Gráfico 3. Indicador Esalq/BM&FBovespa bezerro MS à vista x relação de troca (boi gordo de 16,5@ por bezerros)

No atacado da carne bovina em São Paulo, os preços recuaram durante a semana. Segundo o Boletim Intercarnes, as ofertas permanecem com volumes regulares suprindo demanda fraca e irregular. Nesta quinta-feira, o traseiro foi cotado a R$ 6,80, o dianteiro a R$ 3,60 e a ponta de agulha a R$ 4,00. O equivalente físico foi cotado a R$ 77,82/@. O spread (diferença) entre indicador de boi gordo e equivalente físico ficou em R$ 2,04/@.

Tabela 2. Cotações do atacado da carne bovina

Gráfico 4. Indicador Esalq/BM&FBovespa boi gordo à vista x equivalente físico

O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR) subiu 0,55% na primeira quadrissemana de dezembro, segundo o Instituto de Economia Agrícola, ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (IEA/Apta/SAA). O aumento foi “puxado” pelos produtos vegetais (alta de 1,44%), já que o índice dos produtos de origem animal apresentou variação negativa de 1,65%.

Conforme os pesquisadores, a subida dos preços da carne de frango (4,23%) pode ser a conseqüência esperada de maior demanda, derivada da alta dos preços da carne bovina no varejo, cenário que levou o consumidor a optar por fonte de proteína mais barata.

0 Comments

  1. Murilo Borges disse:

    A desvalorizacao para o produtor é de mais que 30%, no meu caso na ultima quinzena do mes de novembro eu abati um lote de vaca a R$ 76,00 e hoje se eu quiser abater o valor pago e de R$ 60 isso da uma desvalorizacao de 27%, nada desvalorizou tanto assim nesta crise imposta pelos frigorificos e os atravessadores.

    A minha pergunta é o seguinte, quem esta ganhando com isso, nós temos que nos unir porque a carne não desvalorizou para o consumir os 30% que desvalorizou para o produtor, todo mundo fala da importancia das exportações, mas esquece da força do nosso mercado interno na minha cidade o quilo da rez casada não desvalorizou tanto assim e o preço para o consumidor final não teve nenhuma desvalorizacao e consumo esta muito bom, se nos nao estivermos exportando agora, se abaixar o preco para o consumidor final, 15% a 20%, com certeza nós resolveremos o problema da demanda, eu proponho que todos nós produtores, a pensar na ideia de propor as nossas entidades classistas, sindicatos e associacoes de criarmos uma Agência Reguladora do Mercado da Carne, igual existe a anel, anatel, anac, porque o nosso setor da pecuaria e agricultura, nao aguenta pagar essa conta mais uma vez, e digo mais a maioria das propriedades de pecuaria do meu estado, das pessoas que sao somente pecuarista esta totalmente degradada.

  2. Felipe Moreira disse:

    Com as incertezas tomando o mercado, a politica de redução de custos chega ao setor que tenta se precaver de um tombo no futuro.

    Com a materia prima sendo quase 85% dos custos da produção, seu recuo nessa ultima semana mostra que a aposta em escalas reduzidas tem sustentação lógica.

    Porém o impacto para a produção primária da cadeia produtiva é certeza juntamente com o prenúncio falta de credito ainda no primeiro trimestre de 2009. Cabe ao pecuarista a inteligente decisão de também reduzir seus custos de produção para mantermos nossa eficiencia e competitividade internacional.

  3. LURIVAL ANTONIO ERCOLIN disse:

    Não existe uma explicação consistente para a estabilidade do mercado de bovinos que impera atualmente. Foi somente alguns meses de alta, e os produtos essenciais a manutenção dos bovinos, dispararam de preços, tais como ração; sal mineral; adubos, reposição, etc.

    Com a queda drástica que assola a pecuaria nestes ultimos 30 dias, o custo de produção, folha de pagamento. reposição, etc, continua.

    O consumidor, continua pagando o preço que desenvolia a prespectiva de reposição junto a pecuaria, dos anos preteritos. Foi apenas um sonho. Uma noite passageira, que ao acordar no dia seguinte, tudo tinha sido mudado, preços menores, na epoca da venda dos investimentos, sem garantia de retorno.

    Até onde o pecuarista aguenta.

    Vamos para 2009, beirando o fundo do poço novamente.

    Não podemos ter muitas esperanças. Mas vamos lutar.

  4. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Da reunião de apresentação dos resultados do 3T do Marfrig nos vêm informações que os press releases plantados nunca fornecem:

    (…) Alexandre Robarts:

    Você poderia talvez nos dar uma visão de como está indo hoje em dia o seu negócio para a Rússia, e como está vendo no curto prazo a perspectiva lá?

    Marcos Antônio Molina dos Santos:

    Todo último trimestre, novembro e dezembro, a Rússia pára. É natural a Rússia parar novembro e dezembro. O que nós fizemos? Fizemos uma exportação para Rússia até setembro, um pouco em outubro, e novembro e dezembro nós praticamente estamos com zero de contrato com Rússia, direcionando, por exemplo, para Irã e a Venezuela, o corte dianteiro que vai para Rússia. E também uma colocação no mercado interno.

    Já há três anos que a Rússia chega a novembro e dezembro, e também dezembro tem o inverno lá, que congela o porto e não tem desembarque, e nos últimos dois anos teve uma queda de preços da Rússia, então, antecedendo isso, já não colocamos contratos para novembro e dezembro.

    E naturalmente, com essa crise, eu acredito que o mercado russo também aproveitou um pouco para tentar baixar mais os preços. É uma situação normal de mercado, a Rússia não compra em novembro e dezembro, e mais a crise, então eles estão fazendo um “terrorismo” para baixar preço.

    Mas nós estamos bem confortáveis na posição de Rússia, não temos praticamente, na parte de bovinos, nada de contratos, na parte de suínos temos alguma coisa, mas pouca coisa. E acreditamos que Rússia, como todo ano, depois do dia 15 de janeiro eles voltam às compras.

    (…)

    Lucas Tambelini:

    Com essa queda do preço do petróleo, e a Rússia parando, o preço em USD, porque lógico que a gente vai ter esse efeito positivo do câmbio, mas em USD a gente pode esperar uma diminuição do preço médio de exportação na casa de 15% a 20%?

    Marcos Antônio Molina dos Santos:

    Eu acredito que vai haver uma diminuição do preço, mas também você tem em USD uma diminuição do custo da arroba aqui, tanto na Argentina como no Uruguai.

    Esperamos que a gente consiga fazer esse equilíbrio. Então, por exemplo, no Uruguai, que o quilo do gado lá estava US$3,80, hoje está US$2,40, em menos de 60 dias.

    Então, o principal é o seguinte: hoje, com a crise, eu acredito que é mais difícil você ter venda e liquidez, e a compra da matéria-prima vai ficar mais fácil, e a gente tem que ser muito ágil e rápido para manter as margens. Eu acho que quando a Empresa tem uma marca boa, bem distribuída, bem posicionada nos mercados e com clientes fiéis, e clientes que são líquidos, a gente tem muito para ganhar, aproveitar a crise para, não digo aumentar as margens de lucro, mas no mínimo manter.

    (…)

    Mais detalhes em

    http://www.mzweb.com.br/marfrig/web/arquivos/MARFRIG_TRANSC_20081125_PORT.pdf

  5. Julio M. Tatsch disse:

    Parabenizo tardiamente o colega pecuarista, Sr. Humberto de Freitas Tavares, pela reprodução da análise do diretor presidente do Marfrig.

    Realmente é um texto auto explicativo.

    Os pecuaristas foram e continuam sendo os eleitos para pagar a conta da “festa da pecuária”, ou simplesmente transferindo seu patrimônio aos frigoríficos e demais entes da cadeia produtiva, através da venda abaixo do custo de produção.

    Agora quem não tenta mudar esta situação ou mudando a si próprio, faz por merecer o destino traçado pelos outros.