EUA: demanda por carne bovina cai no 1º trimestre
30 de maio de 2006
Pedro Eduardo de Felício, Professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
1 de junho de 2006

Densidade energética em dietas de bovinos de corte. Uso de grãos ou gordura?

O aumento da densidade energética na dieta de bovinos de corte confinados atua de diversas maneiras em relação à ingestão de matéria seca, desempenho animal e conversão alimentar. Porém, não só o aumento, como também as fontes de ingredientes utilizadas para elevar a densidade energética da dieta vão interferir nas alterações resultantes desse processo.

O aumento da energia metabolizável da dieta através da inclusão de grãos apresenta relação direta com a ingestão de matéria seca, diminuindo a ingestão em 0,61% para cada unidade de energia metabolizável oriunda da inclusão de grãos na dieta (Figura 1).

A queda nos valores de ingestão de matéria seca de bovinos de corte confinados, em resposta ao aumento da densidade energética da dieta, é bastante consistente, sendo predominantemente uma regulação quimiostática da ingestão de alimentos, e/ou resposta às alterações ruminais devido às mudanças na dieta.

Além desses fatores, outros pontos como taxa de passagem, acidose metabólica, acidose ruminal entre outros, são responsáveis pela queda na ingestão.

Figura 1. Relação entre a ingestão de matéria seca e concentração de energia metabolizável oriunda de grãos em dietas de bovinos de corte confinados.


Fonte: adaptado de Krehbiel et al. (2006)

Por outro lado, a inclusão de volumosos na dieta leva a queda de ingestão de energia metabolizável em dietas com altos níveis de concentrado. Os valores mais altos de ingestão de energia metabolizável sem a ocorrência de distúrbios, podem ser conseguidos com a utilização de 17-25% de silagem de milho (Owens et al., 2002).

Em relação ao ganho de peso médio diário, foi observada relação quadrática entre essa característica e energia metabolizável oriunda de grãos. Houve aumento do ganho de peso, em taxas decrescentes, em resposta ao aumento da energia metabolizável oriunda de grãos. O valor máximo de desempenho foi observado com valores de 2,59 Mcal de energia metabolizável oriunda de grãos/kg de matéria seca da dieta (Figura 2).

Figura 2. Relação entre ganho de peso médio diário e concentração de energia metabolizável oriunda de grãos em dietas de bovinos de corte confinados


Fonte: adaptado de Krehbiel et al. (2006)

Segundo Woody et al. (1983), a ingestão de matéria seca permanece constante com a inclusão de até 80% de grãos na dieta, diminuindo após esse valor. As mesmas observações foram feitas em relação ao ganho de peso médio diário, sendo que a queda observada no desempenho foi devido à queda na ingestão total de matéria seca.

Já para maximização dos valores de conversão alimentar, os valores de energia metabolizável observados foram de 2,99 Mcal de energia metabolizável oriunda de grãos/kg de matéria seca da dieta (Figura 3).

Figura 3. Relação entre ganho de peso médio diário e concentração de energia metabolizável oriunda de grãos em dietas de bovinos de corte confinados


Fonte: adaptado de Krehbiel et al. (2006)

Outro fator de extrema importância no aumento da densidade energética da dieta, é a inclusão de gordura suplementar. Zinn e Plascencia (2002) avaliaram os efeitos da inclusão de gordura na dieta de bovinos de corte e, concluíram que com valores acima de 6% de inclusão de gordura suplementar levam à queda da ingestão total de alimentos e do desempenho.

A suplementação de gordura na dieta de bovinos em terminação apresenta relação direta com a ingestão de matéria seca, havendo queda de 0,26% na ingestão para cada unidade de aumento na energia metabolizável oriunda de gordura (Figura 4).

Figura 4. Relação entre ingestão de matéria seca e concentração de energia metabolizável oriunda de gordura em dietas de bovinos de corte confinados


Fonte: adaptado de Krehbiel et al. (2006)

Considerando-se somente desempenho, a inclusão de gordura suplementar apresentou relação quadrática, com o maior valor de ganho de peso sendo alcançado com 0,26 Mcal energia metabolizável oriunda de gordura/kg de matéria seca ( Figura 5)

Figura 5. Relação entre desempenho e concentração de energia metabolizável oriunda de gordura em dietas de bovinos de corte confinados


Fonte: adaptado de Krehbiel et al. (2006)

Os valores máximos encontrados para ganho de peso médio diário e conversão alimentar foram de 3,99 e 6,75% de gordura suplementar, respectivamente.

Referências bibliográficas

KREHBIEL, C.R.; CRANSTON, J.J.; McCURDY, M.P. An upper limit for caloric density of finishing diets. J. Anim. Sci., v. 84, p. E34-E39, 2006.

OWENS, F.; HINDS, M.; SODERLUND S. Roughage levels and sources in feedlot diets. Components of rumen function and disfunction as they relate to beef cattle production. Colorado State University. 2002.

WOODY, H.D.; FOX, D.G.; BLACK, J.R. Effect of diet grain content on performance of growing and finishing cattle. J. Anim. Sci., v. 57, p. 717-728, 1983.

ZINN, R.A.; PLASCENCIA, A. Influence of level and method of supplementation on the utilization of supplemental tallow fatty acids by feedlot steers. J. Anim. Sci., v. 80, p. 270, suppl.1, 2002.

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