Na última década o cruzamento industrial de bovinos tornou-se uma estratégia para produção de carne nos diferentes sistemas produtivos no Brasil. Isto ocorreu em função, principalmente, do aumento da prática de inseminação artificial, e, consequentemente, pela possibilidade e acessibilidade a sêmen de touros de uma ampla variedade de raças.
O cruzamento entre raças visa explorar as diferenças, de modo a encontrar combinações (cruzas) que melhor se ajustem ao tipo de produção (cria, recria ou engorda), bem como condições ambientais e exigências de mercado de cada região. O cruzamento com raças Britânicas permite animais com precocidade sexual, férteis, boa habilidade materna e menor tamanho adulto da vaca, fatores condicionantes a boa eficiência reprodutiva do rebanho. Por outro lado, raças continentais (Francesas, Italianas, Alemãs) originam animais com maior velocidade de ganho de peso, maior conversão alimentar, maior peso de carcaça, e, consequentemente, maior peso adulto. Isto desloca a eficiência do processo produtivo para terminação, com possíveis perdas na cria, pois, além da manutenção de vacas mais pesadas no rebanho, aumentam os riscos de distocias e natimortos. Desta forma, este artigo tem como objetivo apresentar alternativas de cruzamentos com animais Nelore.
Os resultados aqui apresentados são oriundos de 14 anos de pesquisas realizadas na Estação experimental do IAPAR em Paranavaí, publicados por Cubas et al. (2001) e Perotto et al. (2001). Nestes trabalhos, foram avaliadas algumas características de desempenho como peso ao nascimento (PN), peso a desmama (PD), ganho médio diário do nascimento a desmama (GMD-ND) (Cubas et al., 2001), ganho de peso da desmama aos 12 meses (GMD-12) e peso aos 12 meses (P-12) (Perotto et al., 2001). Foram comparados os seguintes grupos genéticos: Nelore (Nelore), Guzerá-Nelore (GN), Red Angus-Nelore (RN) e Marchigiana-Nelore (MN), sendo que o método usado para acasalamento foi de inseminação artificial com sêmen de 97 touros (40 Nelore, 19 Guzerá, 17 Red Angus e 21 Marchigiana). Para avaliações de PN, PD e P-12 foram amostrados 721, 686 e 634 animais, respectivamente. As vacas foram mantidas em pastagens de brachiaria com suplementação no período seco com capim-napier e cana de açúcar picados, acesso a banco de proteína com leguminosas e mineral protéico. A desmama foi realizada aos sete meses.
Os resultados médios obtidos em ambos os trabalhos são apresentados na tabela 1.
Tabela 1: Comparação entre os diferentes grupos genéticos
Os resultados indicam que os cruzamentos não alteram o peso ao nascer, exceto para bezerros do grupo MN, que apresentaram peso ao nascer estatisticamente superior às demais raças. As diferenças entre os grupamentos genéticos foram marcantes para PD e P-12, destacando-se os cruzamentos com raças européias.
Tabela 2: Comparação entre machos (M) e fêmeas (F) dos diferentes grupos genéticos
Os aurores também descrevem interações entre sexo e grupamento genético (tabela 2). Os bezerros machos Nelore, GN, RN e MN desmamaram com 15,2, 12,8, 9,2 e 3,1 kg, respectivamente, a mais que as fêmeas. As diferenças entre machos e fêmeas nos dois últimos grupos não foram relevantes. Os autores relatam que os efeitos do sexo, ou melhor, dimorfismo sexual, são menores nos cruzamentos com raças pesadas, devido à menor capacidade da vaca Nelore suprir as exigências nutricionais de bezerros machos oriundos de cruzamento com raças pesadas.
Os machos foram significativamente mais pesados que as fêmeas aos 12 meses de idade, sendo que para N, GN, RN e MN estas diferenças foram de 17,5, 15,1, 25,6 e 10,1 kg, respectivamente. As maiores diferenças entre machos e fêmeas ocorreram nos cruzamentos RN, principalmente pelo maior efeito do dimorfismo sexual, devido à maior precocidade sexual do Red Angus. Por outro lado, animais MN apresentaram menores diferenças, pois até um ano de idade os machos não puderam manifestar completamente o seu potencial de crescimento, devendo-se ao fato de que o Marchigiana é sexualmente mais tardio que o Red Angus.
Os autores concluem que, com base nos dados obtidos nos dois trabalhos, cruzamentos de vacas Nelore com raças especializadas para corte são opções disponíveis aos criadores, possibilitando melhorias no desempenho do rebanho.
Comentário BeefPoint: existem dezenas de raças no mercado, com características para precocidade, ganho de peso, rusticidade, etc.. As diferenças entre estas raças são inúmeras, devendo o produtor e técnico estarem atentos para as que melhor se ajustem às condições e objetivos da propriedade. Neste artigo, não foi nossa intenção defender uma ou outra raça, mas sim demonstrar os benefícios do cruzamento entre zebuínos e taurinos, e as diferenças entre Raças Britânicas e Continentais.
Referências bibliográficas:
Cubas, A. C., Perotto, D., et al. Desempenho até a desmama de bezerros Nelore e cruzas com Nelore. Revista da Sociedade brasileira de Zootecnia v. 30(3), p. 694-701. 2001
Perotto, D., Cubas, A. C., et al. Ganho de peso da desmama aos 12 meses e peso aos 12 meses de bovinos Nelore e cruzas com nelore. Revista da Sociedade brasileira de Zootecnia v. 30(3), p. 730-735. 2001
1 Comment
Sou criador de gado nelore,na regiao semiarida do nordeste. Gostaria de fazer um cruzamento com outra raca,para obter o melhor rendimento de peso, precocidade e resistencia. qual o reprodutor da raca bovina ideal jogar em cima da vaca nelore. atenciosamente,
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