Mercados Futuros – 08/11/07
8 de novembro de 2007
2º Leilão Virtual Matrizes Milagrosas será dia 20 de novembro, às 20h
12 de novembro de 2007

Desempenho em confinamento de animais frutos de um programa de seleção a pasto

"A seleção para maior taxa de crescimento em ambiente restritivo resulta em decréscimo da produção de calor e diminuição da exigência de mantença e, inversamente, a seleção para taxa de crescimento em ambiente favorável poderia resultar em aumento do tamanho adulto e, conseqüentemente, aumento das exigências" (Frisch & Vercoe, 1982). A afirmação acima pode ser bastante útil para nos auxiliar a refletir sobre dois temas cruciais em programas de melhoramento: interação genótipo-ambiente, e respostas correlacionadas. O primeiro tema nos lembra que é importante que os animais sejam avaliados e selecionados em sistemas de produção semelhantes aos que eles irão se estabelecer e reproduzir. A seleção artificial (conduzida pelo homem) em ambientes "restritivos" ou "desafiadores" (ex. pastagens predominantes no Brasil), quando não conduzida unidirecionalmente para aumento de pesos, tende a atuar sobre a adaptabilidade e a eficiência produtiva.

Fernanda Varnieri Brito, Vânia Cardoso, Roberto Carvalheiro, Luiz Alberto Fries, Carlos Dario Ortiz Peña, Mario Luiz Piccoli, Vanerlei Mozaquatro Roso, Flávio Schramm Schenkel e Jorge Luiz Paiva Severo1

“A seleção para maior taxa de crescimento em ambiente restritivo resulta em decréscimo da produção de calor e diminuição da exigência de mantença e, inversamente, a seleção para taxa de crescimento em ambiente favorável poderia resultar em aumento do tamanho adulto e, conseqüentemente, aumento das exigências” (Frisch & Vercoe, 1982).

A afirmação acima pode ser bastante útil para nos auxiliar a refletir sobre dois temas cruciais em programas de melhoramento: interação genótipo-ambiente, e respostas correlacionadas. O primeiro tema nos lembra que é importante que os animais sejam avaliados e selecionados em sistemas de produção semelhantes aos que eles irão se estabelecer e reproduzir. A seleção artificial (conduzida pelo homem) em ambientes “restritivos” ou “desafiadores” (ex. pastagens predominantes no Brasil), quando não conduzida unidirecionalmente para aumento de pesos, tende a atuar sobre a adaptabilidade e a eficiência produtiva.

Por outro lado, se critérios apropriados de adaptabilidade e eficiência não forem considerados, a seleção artificial em ambientes “não restritivos” (ex. de abundância alimentar) tendem a operar quase que exclusivamente sobre a produção. Nesta última condição, se questões relacionadas ao segundo tema levantado anteriormente (respostas correlacionadas) não forem exaustivamente avaliadas, drásticas conseqüências nos programas de melhoramento podem ocorrer.

Resultados de pesquisa e experiência de campo mostram que a seleção para o aumento excessivo da produção, sobretudo em ambientes “não restritivos”, acarreta em repostas correlacionadas indesejáveis, principalmente quanto à características reprodutivas e adaptativas. O problema se torna mais agravante quando animais selecionados em ambientes de abundância alimentar (ex.: confinamento) passam, eles próprios ou seus descendentes, a ter que produzir em ambientes restritivos.

Diante das considerações acima, uma questão legítima que poderia ser levantada seria: “Mas e animais geneticamente superiores a pasto, apresentarão bom desempenho em confinamento?”. O estudo descrito a seguir foi conduzido com o objetivo de auxiliar a elucidar esta questão.

Mérito genético a pasto x desempenho em confinamento

Para a condução deste estudo foram utilizados dados de novilhos Nelore da Agropecuária Jacarezinho, nascidos nas safras “primavera”/2003 e “primavera”/2004 e confinados, respectivamente, em 2005 e 2006.

A Agropecuária Jacarezinho é uma das integrantes do programa de melhoramento da Conexão Delta G e, desde o início da década de 70, atua (entre outras atividades) na seleção de animais Nelore focada em características de interesse econômico, a partir de uma ampla base genética, com sistema de cria e recria a pasto (www.agrojacarezinho.com.br).

Além de exercer forte pressão de seleção nas fêmeas por fertilidade, o programa da Conexão Delta G é caracterizado por utilizar como critério de seleção dos animais Nelore um índice final (sobreano) composto por DEPs para as seguintes características, com suas respectivas ponderações: dias para ganhar 160 kg do nascimento ao desmame (23%), conformação no desmame (4%), precocidade no desmame (8%), musculatura no desmame (8%), dias para ganhar 240 kg pós-desmame (23%), conformação no sobreano (4%), precocidade no sobreano (8%), musculatura no sobreano (8%) e perímetro escrotal (14%).

Os novilhos destinados ao confinamento foram aqueles que passaram pela pressão de seleção ao desmame (estavam entre os 50% melhores ao desmame), mas que não passaram pela pressão de seleção ao sobreano (estavam entre os 50% piores ao sobreano), com relação aos contemporâneos de suas respectivas safras (P03 e P04).

Após edição, o conjunto final de dados continha informações de 1.415 novilhos, referentes ao índice final da Conexão Delta G (indF_CDG) e às seguintes características: número de dias em confinamento (Ndias), ganho médio diário de peso no confinamento (GMDconf), peso vivo (PesoS) e idade na saída do confinamento (IdadeS). A definição da saída do confinamento ocorreu conforme a avaliação visual de grau de acabamento dos animais.

Os modelos estatísticos empregados consideraram as características de confinamento como variável resposta, grupo contemporâneo ao sobreano como efeito classificatório e o indF_CDG como variável regressora (efeito(s) linear e quadrático quando significativo). Os principais resultados destas análises de regressão são ilustrados nas Figuras 1 a 4 a seguir, sendo que as amplitudes utilizadas no eixo y dos gráficos representam as amplitudes observadas nos dados avaliados.

Conforme observado, animais geneticamente superiores (a pasto) permaneceram menor tempo em confinamento (Figura 1), apresentaram maiores ganhos durante (Figura 2) e maiores pesos na saída do confinamento (Figura 3), além de serem abatidos com menor idade (Figura 4). Contrastando os desempenhos em confinamento preditos dos machos top (indF_CDG = +20) com os dos machos inferiores (indF_CDG = -20), observa-se:
• 44 dias a menos no confinamento (128-84);
• 0,38 kg a mais de GMDconf (1,64-1,26);
• 64 kg a mais de pesoS (542-478);
• 52 dias a menos de idade (769-717).

Quem confina animais é convidado a fazer as contas de quanto estas diferenças fenotípicas acima representariam em termos de diferenças econômicas!

Cabe ressaltar que diferenças quanto ao rendimento e acabamento de carcaça não foram consideradas neste estudo por falta de informação oriunda dos frigoríficos. Se elas fossem contempladas, muito possivelmente as diferenças de retorno entre os animais top e os geneticamente inferiores seriam ainda mais marcantes.

Não é por acaso que os frigoríficos estão pagando bônus para animais oriundos de programas de melhoramento que adotam critérios de seleção como o da Conexão Delta G, que levam em conta características relacionadas com composição/qualidade da carcaça.

Os resultados deste estudo estão de acordo com as considerações do zootecnista Octávio Guilherme da Cruz e Silva que, ao contrastar o desempenho em confinamento de animais com qualidade genética desconhecida com o de animais geneticamente superiores, ambos grupos sob as mesmas condições ambientais, afirmou em seu artigo que: “Dentre as muitas alternativas para a obtenção do sucesso no confinamento, uma das mais importantes, que independe de especulações, e ainda é possível conseguir valorização pela arroba, é o investimento em animais com genética de ponta. Melhor dizendo, confinar animais potencialmente mais econômicos. A valorização da genética apresenta resultados diretos e que, mesmo em momentos de baixa, nos garantem ganhos expressivos e visíveis, e são ainda maiores quando consideramos uma escala significativa de animais.”.

Figura 1. Predição do número de dias em confinamento (Ndias) em função do Índice Final utilizado pela Conexão Delta G (indF_CDG) como critério de seleção dos animais


Figura 2. Predição do ganho médio diário de peso no confinamento (GMDconf) em função do Índice Final utilizado pela Conexão Delta G (indF_CDG) como critério de seleção dos animais


Figura 3. Predição do peso vivo na saída do confinamento (pesoS) em função do Índice Final utilizado pela Conexão Delta G (indF_CDG) como critério de seleção dos animais


Figura 4. Predição da idade na saída do confinamento (idadeS) em função do Índice Final utilizado pela Conexão Delta G (indF_CDG) como critério de seleção dos animais


Referência bibliográfica:

FRISCH, J.E.; VERCOE, J.E. The effect of previous exposure to parasites on the fasting metabolism and feed intake of three cattle breeds. Energy metabolism Proceeding Symposium, v.29, p.100-103, 1982.
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1Equipe Gensys

0 Comments

  1. William Koury Filho disse:

    Parabéns a equipe Gensys pelo artigo, e por todo trabalho que desenvolvem em benefício da pecuária bovina de corte.

  2. Emerson Diezo Dias Do Vale disse:

    Segue o comentario do gpd