"A seleção para maior taxa de crescimento em ambiente restritivo resulta em decréscimo da produção de calor e diminuição da exigência de mantença e, inversamente, a seleção para taxa de crescimento em ambiente favorável poderia resultar em aumento do tamanho adulto e, conseqüentemente, aumento das exigências" (Frisch & Vercoe, 1982). A afirmação acima pode ser bastante útil para nos auxiliar a refletir sobre dois temas cruciais em programas de melhoramento: interação genótipo-ambiente, e respostas correlacionadas. O primeiro tema nos lembra que é importante que os animais sejam avaliados e selecionados em sistemas de produção semelhantes aos que eles irão se estabelecer e reproduzir. A seleção artificial (conduzida pelo homem) em ambientes "restritivos" ou "desafiadores" (ex. pastagens predominantes no Brasil), quando não conduzida unidirecionalmente para aumento de pesos, tende a atuar sobre a adaptabilidade e a eficiência produtiva.
Fernanda Varnieri Brito, Vânia Cardoso, Roberto Carvalheiro, Luiz Alberto Fries, Carlos Dario Ortiz Peña, Mario Luiz Piccoli, Vanerlei Mozaquatro Roso, Flávio Schramm Schenkel e Jorge Luiz Paiva Severo1
“A seleção para maior taxa de crescimento em ambiente restritivo resulta em decréscimo da produção de calor e diminuição da exigência de mantença e, inversamente, a seleção para taxa de crescimento em ambiente favorável poderia resultar em aumento do tamanho adulto e, conseqüentemente, aumento das exigências” (Frisch & Vercoe, 1982).
A afirmação acima pode ser bastante útil para nos auxiliar a refletir sobre dois temas cruciais em programas de melhoramento: interação genótipo-ambiente, e respostas correlacionadas. O primeiro tema nos lembra que é importante que os animais sejam avaliados e selecionados em sistemas de produção semelhantes aos que eles irão se estabelecer e reproduzir. A seleção artificial (conduzida pelo homem) em ambientes “restritivos” ou “desafiadores” (ex. pastagens predominantes no Brasil), quando não conduzida unidirecionalmente para aumento de pesos, tende a atuar sobre a adaptabilidade e a eficiência produtiva.
Por outro lado, se critérios apropriados de adaptabilidade e eficiência não forem considerados, a seleção artificial em ambientes “não restritivos” (ex. de abundância alimentar) tendem a operar quase que exclusivamente sobre a produção. Nesta última condição, se questões relacionadas ao segundo tema levantado anteriormente (respostas correlacionadas) não forem exaustivamente avaliadas, drásticas conseqüências nos programas de melhoramento podem ocorrer.
Resultados de pesquisa e experiência de campo mostram que a seleção para o aumento excessivo da produção, sobretudo em ambientes “não restritivos”, acarreta em repostas correlacionadas indesejáveis, principalmente quanto à características reprodutivas e adaptativas. O problema se torna mais agravante quando animais selecionados em ambientes de abundância alimentar (ex.: confinamento) passam, eles próprios ou seus descendentes, a ter que produzir em ambientes restritivos.
Diante das considerações acima, uma questão legítima que poderia ser levantada seria: “Mas e animais geneticamente superiores a pasto, apresentarão bom desempenho em confinamento?”. O estudo descrito a seguir foi conduzido com o objetivo de auxiliar a elucidar esta questão.
Mérito genético a pasto x desempenho em confinamento
Para a condução deste estudo foram utilizados dados de novilhos Nelore da Agropecuária Jacarezinho, nascidos nas safras “primavera”/2003 e “primavera”/2004 e confinados, respectivamente, em 2005 e 2006.
A Agropecuária Jacarezinho é uma das integrantes do programa de melhoramento da Conexão Delta G e, desde o início da década de 70, atua (entre outras atividades) na seleção de animais Nelore focada em características de interesse econômico, a partir de uma ampla base genética, com sistema de cria e recria a pasto (www.agrojacarezinho.com.br).
Além de exercer forte pressão de seleção nas fêmeas por fertilidade, o programa da Conexão Delta G é caracterizado por utilizar como critério de seleção dos animais Nelore um índice final (sobreano) composto por DEPs para as seguintes características, com suas respectivas ponderações: dias para ganhar 160 kg do nascimento ao desmame (23%), conformação no desmame (4%), precocidade no desmame (8%), musculatura no desmame (8%), dias para ganhar 240 kg pós-desmame (23%), conformação no sobreano (4%), precocidade no sobreano (8%), musculatura no sobreano (8%) e perímetro escrotal (14%).
Os novilhos destinados ao confinamento foram aqueles que passaram pela pressão de seleção ao desmame (estavam entre os 50% melhores ao desmame), mas que não passaram pela pressão de seleção ao sobreano (estavam entre os 50% piores ao sobreano), com relação aos contemporâneos de suas respectivas safras (P03 e P04).
Após edição, o conjunto final de dados continha informações de 1.415 novilhos, referentes ao índice final da Conexão Delta G (indF_CDG) e às seguintes características: número de dias em confinamento (Ndias), ganho médio diário de peso no confinamento (GMDconf), peso vivo (PesoS) e idade na saída do confinamento (IdadeS). A definição da saída do confinamento ocorreu conforme a avaliação visual de grau de acabamento dos animais.
Os modelos estatísticos empregados consideraram as características de confinamento como variável resposta, grupo contemporâneo ao sobreano como efeito classificatório e o indF_CDG como variável regressora (efeito(s) linear e quadrático quando significativo). Os principais resultados destas análises de regressão são ilustrados nas Figuras 1 a 4 a seguir, sendo que as amplitudes utilizadas no eixo y dos gráficos representam as amplitudes observadas nos dados avaliados.
Conforme observado, animais geneticamente superiores (a pasto) permaneceram menor tempo em confinamento (Figura 1), apresentaram maiores ganhos durante (Figura 2) e maiores pesos na saída do confinamento (Figura 3), além de serem abatidos com menor idade (Figura 4). Contrastando os desempenhos em confinamento preditos dos machos top (indF_CDG = +20) com os dos machos inferiores (indF_CDG = -20), observa-se:
• 44 dias a menos no confinamento (128-84);
• 0,38 kg a mais de GMDconf (1,64-1,26);
• 64 kg a mais de pesoS (542-478);
• 52 dias a menos de idade (769-717).
Quem confina animais é convidado a fazer as contas de quanto estas diferenças fenotípicas acima representariam em termos de diferenças econômicas!
Cabe ressaltar que diferenças quanto ao rendimento e acabamento de carcaça não foram consideradas neste estudo por falta de informação oriunda dos frigoríficos. Se elas fossem contempladas, muito possivelmente as diferenças de retorno entre os animais top e os geneticamente inferiores seriam ainda mais marcantes.
Não é por acaso que os frigoríficos estão pagando bônus para animais oriundos de programas de melhoramento que adotam critérios de seleção como o da Conexão Delta G, que levam em conta características relacionadas com composição/qualidade da carcaça.
Os resultados deste estudo estão de acordo com as considerações do zootecnista Octávio Guilherme da Cruz e Silva que, ao contrastar o desempenho em confinamento de animais com qualidade genética desconhecida com o de animais geneticamente superiores, ambos grupos sob as mesmas condições ambientais, afirmou em seu artigo que: “Dentre as muitas alternativas para a obtenção do sucesso no confinamento, uma das mais importantes, que independe de especulações, e ainda é possível conseguir valorização pela arroba, é o investimento em animais com genética de ponta. Melhor dizendo, confinar animais potencialmente mais econômicos. A valorização da genética apresenta resultados diretos e que, mesmo em momentos de baixa, nos garantem ganhos expressivos e visíveis, e são ainda maiores quando consideramos uma escala significativa de animais.”.
Figura 1. Predição do número de dias em confinamento (Ndias) em função do Índice Final utilizado pela Conexão Delta G (indF_CDG) como critério de seleção dos animais
FRISCH, J.E.; VERCOE, J.E. The effect of previous exposure to parasites on the fasting metabolism and feed intake of three cattle breeds. Energy metabolism Proceeding Symposium, v.29, p.100-103, 1982.
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1Equipe Gensys
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Parabéns a equipe Gensys pelo artigo, e por todo trabalho que desenvolvem em benefício da pecuária bovina de corte.
Segue o comentario do gpd