O processo denominado pela sigla DEPh®, reproduz para todas outras características que podem ser consideradas num programa de melhoramento e que apresentem uma distribuição contínua e aproximadamente simétrica, a mesma mudança que ocorreu ao re-expressar as características de ganho de peso em dias para alcançar determinado objetivo.
Por Carlos Dario Ortiz Peña, Fernanda Varnieri Brito, Jorge Luiz Paiva Severo, Luiz Alberto Fries, Mario Luiz Piccoli, Roberto Carvalheiro, Vanerlei M. Roso, Vânia Cardoso e Flávio Schenkel²
O DEPh¹® – o futuro
O processo denominado pela sigla DEPh®, reproduz para todas outras características que podem ser consideradas num programa de melhoramento e que apresentem uma distribuição contínua e aproximadamente simétrica, a mesma mudança que ocorreu ao re-expressar as características de ganho de peso em dias para alcançar determinado objetivo.
Por exemplo, ganho do nascimento à desmama ajustado para 205 dias e ganho pós-desmama ajustado para 245 dias foram transformados em dias para ganhar 160 kg do nascimento à desmama (D160) e dias para ganhar 240 kg da desmama ao abate (D240), respectivamente, e estão em uso pelo GenSys desde 1995. Estas características, D160 e D240, foram adaptadas da prática utilizada em avicultura e suinocultura de definir critérios que estabelecem unidades de produto e procuram, através de seleção e acasalamentos, obter estas unidades no menor período de tempo e menor custo.
As características D160 e D240 representam um forte avanço em relação ao que é praticado no melhoramento de gado de corte no mundo inteiro. Garrick & Enns (2003) avaliam que as características que, como regra, são utilizadas em programas de melhoramento no mundo inteiro, representam ou as que já existem em bancos de dados ou que são fáceis de obter. Além disto, estes mesmos autores descrevem a resultante desta situação como um incremento constante de taxas de crescimento e de pesos em todas as idades, inclusive peso ao nascer e peso maduro, ambas com conseqüências negativas.
Um outro forte componente de novidade do DEPh® atende à uma forte critica feita por Garrick & Enns (2003) aos melhoristas. Eles sugerem que se mude a maneira de trabalhar e se obtenham preditores dos fenótipos e não de diferenças esperadas entre médias da progênie de diferentes touros (DEPs). Eles sustentam que “consumidores obtém satisfação de fenótipos e não de DEPs.
Os tomadores de decisão geralmente se sentem mais confortáveis interpretando desempenho ou performance fenotípica do que interpretando DEPs. Quando nós analizamos registros de pedigree ou de perfomance, nós obtemos estimativas de vários fatores, incluindo efeitos de idade, grupos contemporâneos -GC- e efeitos genéticos. Nós nos acustumamos a utilizar apenas dois destes efeitos, DEPs para efeitos diretos e para efeitos maternos. A invenção das DEPs foi uma descoberta inteligente para comunicar, para uma determinada característica, os efeitos de um touro com relação à performance de sua descendência. Isto funciona muito bem para o efeito direto de uma característica como peso à desmama ou ao sobreano mas é mais difícil de interpretar para efeitos maternos ou para algumas das características desenvolvidas mais recentemente como precocidade sexual ou “stayability”.
Seria mais útil utilizar o conhecimento dos efeitos obtidos através da MMM em conjunto com alguma outra fonte de conhecimento disponível para predizer a performance fenotípica resultante do uso de determinados touros no rebanho de um determinado criador, sob condições de manejo e produção específicos. Desta forma, a informação gerada pelas análises genéticas permitirá melhor descrever as implicações econômicas e outras conseqüências ou ramificações do uso de um determinado touro e assim propiciar que executivos do melhoramento consigam planejar e tomar decisões com maior probabilidade de acerto”.
Vantagens do DEPh® em relação às DEPs
As DEPs representam o melhor critério de seleção quando se quer aumentar a média de produção de alguma característica selecionada. Contudo, o melhoramento genético animal, principalmente quando aplicado a bovinos de corte no Brasil, precisa utilizar instrumentos que permitam obter uma melhoria na qualidade do produto. O Brasil já é o maior exportador de carne bovina e grande parte do mercado foi conquistado devido a fatores externos ou ao preço baixo do nosso produto. Precisamos agora de outros instrumentos, que nos permitam identificar reprodutores que produzam carne de melhor qualidade e consistemente de melhor qualidade. Como veremos a seguir, para alcançar este novo paradigma, é que o critério DEPh® foi delineado.
Como primeiro exemplo, podemos utilizar a característica gordura de cobertura em bovinos da raça Nelore. Pode-se supor que, no futuro, mesmo com o uso ótimo de cruzamentos, a contribuição genética desta raça para os novilhos sendo abatidos no país deva se situar ao redor de 60%. Características deste tipo apresentam baixa herdabilidade e portanto é necessário que o Nelore seja selecionado para produzir uma carcaça recoberta por fina camada de gordura, para protejê-la nos túneis de resfriamento e assim retardar e/ou evitar a ocorrência do fenômeno chamado de “cold shortening”.
Contudo, não se deve aumentar o total de gordura de cobertura do Nelore, pois isto encareceria o processo de produção e, de fato, o Nelore já possui gordura total intermediária entre taurinos britânicos e taurinos continentais. Ou seja, se usarmos medidas de ultrassom para medir gordura de cobertura e calcularmos DEPs, seguidas de forte seleção, talvez só obteremos novilhos com mais gordura localizada, mais ineficientes na utilização do alimento, mas não com melhor (“melhor” aqui significa um “mínimo uniforme” e não “mais”) cobertura de gordura e portanto, melhor carne no prato do consumidor.
O exemplo a seguir pode ser entendido como escores visuais para uma característica indicadora de qualidade (eles são dados para uma série de características – como no sistema CPMUT) atribuídos a 6 produtos de cada um de 3 diferentes touros. Ou então, as séries de números podem ser entendidas como medidas feitas sobre a linha dorso-lombar de três animais. Nas duas situações, os valores podem ser interpretados como escores numa escala de 1 a 6 ou então como mm de gordura de cobertura.
Para os três touros, com distribuições muito distintas, a média aritmética é a mesma. Mas o touro A tem uma distribuição de valores uniforme; o touro B tem metade dos produtos concentrados num extremo superior e outra metade no extremo inferior; e o touro C tem valores muito uniformes, centrados ao redor da média. A média harmônica se aproxima mais da média aritmética quando a distribuição é mais uniforme (touro C) e se aproxima mais do menor valor quando ela é mais desuniforme (touro B).
As DEPs teriam o mesmo defeito do observado para as médias aritméticas: no caso, as DEPs dos três touros teriam o valor de 0,0 (penúltima linha do quadro a seguir). Enquanto isto, os DEPh® seguiriam uma ordem de mérito similar a dada pela média harmônica, com os touros ordenados por maior e mais uniforme produção (última linha do quadro a seguir).
Recentes valorizações da qualidade/homogeneidade pelo mercado
Os critérios e premiações estabelecidos no PQB do Independência, que fará história por estar premiando justamente homogeneidade dos produtos, pode ser obtido no site (http://www.independencia.com.br/pqbi_homogeneidade.php – homo).
Outro programa mundial de qualidade bovina, justamente o da Carne Angus Certificada (CAB), decidiu em 07 de setembro de 2006 começar a premiar “valores ótimos” e descontos para valores extremos nas duas pontas (ver https://beefpoint.com.br/?actA=7&areaID=15&secaoID=151¬iciaID=31253).
Referências bibliográficas
GARRICK, D.J.;ENNS, R.M. 2003. How best to achieve genetic change?
www.sbmaonline.org.br/simposio/trabalhos/vp06.pdf
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¹O desenvolvimento, testes e aplicações do DEPh® foram realizados pela Equipe do GenSys
²Equipe do GenSys
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Parabenizo os autores deste trabalho.
Precisamos encontrar os reprodutores com maior Prepotência Genética para os “alvos fenotípicos” das características de importância econômica.
A tese do “quanto maior melhor” não condiz com uma pecuária de produção de carne com qualidade.
José da Rocha Cavalcanti
Nelore Irca – São Miguel do Araguaia, Goiás