Por Fernando Penteado Cardoso1
Um amigo, gerente de criatório de seleção de Nelore, me informou haver conseguido a manutenção de peso nos 90 dias seguintes a desmama durante a seca, considerando esse resultado muito bom. Ao agradecer a informação, dei-lhe os parabéns e manifestei que, a meu ver, a meta deveria ser mais ambiciosa.
Cortar o leite materno, separar da mãe e mudar o bezerro de pasto, tudo ao mesmo tempo, seria um verdadeiro atentado.
Já conseguiram minimizar o estresse da separação e da mudança de ambiente, seja desmamando sem afastamento (do outro lado de uma cerca), seja retirando as mães e deixando as crias, -ao lado de madrinhas, – nos pastos a que já estão acostumados.
Todavia é dramático tirar a proteína altamente digestiva do leite, mesmo que pouca, não a substituindo por outro alimento igualmente de alto valor protéico e de boa digestibilidade.
É praticamente impossível que os pastos na estação seca venham ser suficientes para essa fase crítica da criação.
Os fenos de capins, mesmo de alta qualidade, contendo 6/8 % de proteína bruta-PB dificilmente suprirão a necessidade alimentar do crescimento dos bezerros que ainda ruminam mal, mas, surpreendentemente, mastigam bem.
Fugindo da superalimentação, condenável por mascarar as características individuais, não me parece artificial simular, durante a seca, a qualidade da forragem que obteriam nas águas, quando os bezerros disporiam, em pastoreio seletivo, de broto verde de capim, já em estágio de maturação que não contenha excesso de água, nem mais provoque distúrbio digestivo.
Dois sistemas poderiam ser delineados para a desmama na seca, simulando um bom pasto de verão: 1 – feno de gramínea, mais feno de leguminosa, ambos de boa qualidade; 2 – feno de gramínea de boa qualidade, mais uma pequena quantidade de suplemento concentrado, em dieta própria para ruminantes e não para monogástricos. Refiro-me a rolão de feno, deixado in loco, para consumo junto com pastoreio da rebrota do capim pré-adubado. É prático e econômico.
A sub-alimentação dos bezerros recém desmamados me faz lembrar a estatística de que as pessoas estão ficando mais altas, ano após ano. A explicação óbvia está na melhor alimentação dos bebês e na primeira infância, à base de leite em pó, frutas e vitaminas.
Essa situação esclarece também o porque do abate após os 3 anos, explicável em parte pelo lento crescimento dos bezerros e dos garrotes, sujeitos à fome dos pastos de terra fraca com seca periódica. Se quisermos abater com menos idade ha que aproveitar os estágios de crescimento que melhor convertem alimento em massa corpórea, evitando interrupção do ganho de peso.
Pode haver dúvida com relação à filosofia do melhoramento do Nelore. Tratar bem do bezerro não seria um artificialismo, selecionando os de melhor desempenho nesse ambiente favorável de alimentação?
A resposta depende da visão que se tem da pecuária de corte no futuro. Será que iremos daqui ha alguns anos nos contentar com o abate tardio? Será que a pecuária não vai evoluir para um abate antecipado?
Na minha visão, a busca da eficiência e do menor custo será inevitável para atender a um mercado em evolução, decorrente das crescentes necessidades alimentares do homem, tanto pelo numero de consumidores, como pelas maiores exigências que acompanham a elevação do nível de vida.
Ninguém segura o progresso! Daí eu opinar que devemos perseguir um programa de melhoramento em que os melhores bois são os fiquem prontos para abate, – em peso e acabamento, – na menor idade possível, sem artificialismos de superalimentação e cocheira.
Os reprodutores devem, então, ser capazes de transmitir geneticamente essas características.
Minha palavra final ao dedicado gerente: “vá em frente, proporcione alimentação de ruminantes aos bezerros recém-desmamados para um GPD médio de 500g e retenha para reprodução os que mostrarem o melhor desempenho. Sempre a pasto, ao natural”.
Disse-lhe ainda: “Fique certo de uma coisa: os filhos dos atuais pecuaristas vão querer fazer melhor que seus pais. Ninguém segura o progresso!”
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1Fernando Penteado Cardoso, Engenheiro Agrônomo Sênior, Agrolida