Durante e após a crise instalada na União Européia, gerada pelo aparecimento de vários casos da encefalopatia espongiforme bovina (EEB), também conhecida como doença da ‘vaca louca’, a França divulgou a informação de que era um dos maiores defensores da segurança alimentar e que tinha estabelecido normas mais rígidas que as impostas pela regulamentação da Comissão Européia para combater a doença. No entanto, uma inspeção feita pela Comissão detectou várias deficiências na aplicação das medidas de proteção contra as encefalopatias espongiformes transmissíveis neste país.
O Departamento Veterinário e de Alimentação da Comissão realizou em setembro do ano passado uma inspeção na França. Esta inspeção mostrou que, apesar do país estar cumprindo com as medidas de vigilância epidemiológica, há deficiências nas medidas de erradicação. O informativo divulgado pela Comissão destaca a proibição das farinhas de carne e osso na alimentação animal, que não é totalmente efetiva, além de não haver um bom cumprimento das condições de recolhimento e destruição dos materiais específicos de risco.
Entre outras coisas, o informativo divulgou as seguintes deficiências:
– A qualidade e a eficácia dos controles oficiais na proibição das farinhas varia significativamente entre as regiões do país, sendo detectada uma falta de harmonização entre estas;
– Falta de um padrão nas medidas que devem ser aplicadas nos estabelecimentos que utilizavam farinha de carne e osso antes da proibição. As ações aplicadas variam muito, tendo locais onde a linha de produção foi cuidadosamente analisada e limpa, e outros, onde nenhuma providência foi tomada neste sentido. Inclusive, existem casos em que a própria empresa decidiu o que deveria ser feito para solucionar este problema;
– As amostragens na alimentação animal, feitas pela Direção Geral de Alimentação da França, foram consideradas insuficientes. O programa de amostragem foi realizado com um baixo número de amostras, técnicas deficientes de amostragem e com falta de objetivos, de forma que seria difícil detectar até grandes casos em que as normas não foram cumpridas. Além disso, foi detectada ausência total de coordenação entre as amostragens feitas por esta Direção Geral e as feitas pela Direção Geral de Luta contra Fraudes;
– Os controles deficientes não são capazes de assegurar a separação das linhas de produção dos estabelecimentos que utilizam proteínas animais elaboradas daqueles que não utilizam este produto;
– Não é possível assegurar que todos os considerados “Materiais Específicos de Risco” são recolhidos e destruídos, como é estabelecido pelas normas;
– A norma que determina que todos os animais nascidos na mesma propriedade um ano antes do nascimento de um caso de animal com EEB devem ser destruídos não está sendo cumprida de forma correta;
– Os controles feitos nos matadouros são insuficientes, de forma que não há garantia de que os animais são comercializados apenas após terem apresentado resultado negativo nos testes;
– As amostras recolhidas dos animais mortos nas propriedades não têm uma distribuição geográfica e temporal, de forma que não são representativas do conjunto do país, nem tampouco contínuas no tempo.
O resultado desta inspeção tem sido utilizado pelos pecuaristas britânicos para ressaltar a hipocrisia das autoridades francesas. De um lado, estão se opondo às importações de carne britânica, alegando falta de segurança na mesma, enquanto que de outro, estão demonstrado que o seu sistema de combate à EEB tem grandes deficiências.
Fonte: Agrodigital.com, adaptado por Equipe BeefPoint