Até os anos 50 os estudos sobre o cerrado se limitavam a avaliações botânicas e a alguns experimentos em 7 Lagoas/MG, que mostravam a extrema deficiência de cálcio e a resposta a fósforo, que aumentava a produção, mas em níveis muito aquém das colheitas em terra virgem de mata alta.
Feuer, da Universidade de Cornell-EU, a serviço de firma de consultoria contratada pelo engenheiro agrônomo Bernardo Sayão para avaliar os solos da região da nova capital Brasília, estudou os aspectos geológicos e pedológicos das terras fracas do Brasil Central, vindo a prever seu aproveitamento para agricultura.
Todavia, quem pela primeira vez comprovou que tais solos poderiam vir a proporcionar altas produtividades, foi a equipe do IRI, da organização Rockefeller, em Matão S/P. Estudavam a recuperação das terras esgotadas de cafezais decadentes, primitivamente muito férteis de mata alta, mas encontravam dificuldade em reproduzir as colheitas anteriores. Seja pelo relacionamento com Feuer, seja por criatividade científica, o pesquisador Collin McClung, devidamente apoiado pelo Diretor do IRI Jerome Harrington, iniciou em 1955, uma série de experimentos em vasos, com terra pobre de cerrado, tratando-as com N, K, P, Ca, Mg, S e micro-elementos com ênfase para o Zn.
As respostas obtidas foram tão animadoras que deram origem a uma série de testes de validação em escala semicomercial em fazendas localizadas em Matão, Pirassununga e Morro Agudo, utilizando como indicadores o algodão, o milho e a soja. Nessa fase muito colaborou o IAC-Instituto Agronômicode Campinas, que, por sua vez, estava estudando a cultura de café em terra de cerrado na região de Batatais/SP.
Os resultados publicados em 1956 e 58, representam sem dúvida a primeira comprovação de que as terras dos cerrados poderiam ser convertidas em solos agricultáveis de alta produtividade. Seguiu-se um período de abertura do cerrado com cultivo de arroz, devidamente adubado com P. Era uma cultura itinerante, substituída por Brachiaria quando a terra se tornava praguejada de ervas daninhas.
Na década de 70 chegaram os gaúchos à procura de terras baratas para plantar soja.Tinham já com alguma prática de solos fracos de campo nativo devidamente calcariados. Irradiando-se a partir de MS, invadiram o Centro-Oeste e transformaram o país na grande potência agrícola de hoje. Esse inquestionável sucesso deve-se também à variedade da soja “Cristalina” com bons resultados no cerrado, melhorada pelo modesto agrônomo Francisco Teresawa, em Ponta Grossa/PR e aos programas do PROCER e semelhantes, de iniciativa de outro agrônomo Allison Paulinelli, então jovem e dinâmico Ministro da Agricultura do Governo Geisel.
Alguns anos atrás, o laureado Norman Borlaug sureriu-me que indicasse nomes para O Prêmio Mundial do Alimento, equivalente a um Prêmio Nobel para Agricultura (que não existe), em reconhecimento ao fenômeno “cerrado/ soja/ plantio direto”, considerado por ele como o maior acontecimente agrícola do século XX. Após consultas, foram apresentados três nomes para partilharem do World Food Prize: McClung, Terasawa e Paulinelli. Infelizmente, por motivos regulamentares, a honraria foi para terceiros, sem prejuízo do mérito desses três técnicos, que devem ser lembrados no Dia do Agrônomo recém comemorado a 12 de Outubro.
Os 15 milhões de ha de solos naturalmente fracos, de cerrado e campo nativo, transformados em terras férteis agricultáveis, estão indelevelmente ligados à pesquisa agronômica de Collin e de Francisco, à visão econômica de Állison e à garra empresarial dos gaúchos.
A eles, por representarem a classe agronômica e agrícola, nosso preito de admiração e de reconhecimento.