Com os preços da arroba aumentando cada vez mais, muitos pecuaristas acabam se deslumbrando e confinando seus animais. Embarcando nessa empreitada para terminarem animais e manter escalas de abate nos frigoríficos, muitos utilizam as dietas de alto ganho de peso, chamada de alto grão, para encurtarem os dias de estadia no confinamento. Eventualmente, quando usadas de maneira indiscriminada e sem prévia adaptação, tais dietas predispõem a distúrbios digestivos com conseqüências inaparentes, porém expressivas ao final de cada ciclo de confinamento.
O inverno chegou, e com isso a seca, as altas de insumos e o atrativo preço da arroba no Brasil! O que fazer?
Com os preços da arroba aumentando cada vez mais, muitos pecuaristas acabam se deslumbrando e confinando seus animais. Contudo, da mesma maneira que ocorre o aumento do preço da arroba, os insumos e, principalmente, os grãos e minerais sofreram altas superiores no mundo todo. Isso se deve ao fato da grande demanda de fertilizantes e adubos para produção de grãos destinados à produção de biocombustíveis, encarecendo ainda mais a porção que nos compete na utilização da produção animal.
Porém, as altas e a escassez de bois terminados no mercado fazem com que os pecuaristas, os quais planejaram seus confinamentos, “riam à toa”, desfrutando desse momento inédito que pecuária de corte atravessa. Em contrapartida, empresários e grandes fazendas buscam alternativas alimentares para terminarem seus bovinos o quanto antes para também desfrutarem dessa marca histórica.
Embarcando nessa empreitada para terminarem animais e manter escalas de abate nos frigoríficos, muitos utilizam as dietas de alto ganho de peso, chamada de alto grão, para encurtarem os dias de estadia no confinamento. Eventualmente, quando usadas de maneira indiscriminada e sem prévia adaptação, tais dietas predispõem a distúrbios digestivos com conseqüências inaparentes, porém expressivas ao final de cada ciclo de confinamento.
Animais aparentemente sadios, mas clinicamente doentes, demoram mais para ganhar peso e depositar gordura na carcaça, permanecendo períodos maiores frente à cabeceira do confinamento.
A acidose láctica ruminal (ALR) é a principal causa dessa queda de desempenho, uma vez que há alto teor de ácidos produzidos no interior do rúmen pela fermentação das dietas de alto grão, predispondo, assim, a quadros secundários de rumenites. Essas rumenites, nada mais são que um processo inflamatório, que acomete principalmente o saco ventral do rúmen. O quadro inflamatório culmina na fragilidade da mucosa rumenal, e muitas bactérias como o Fusobacterium necroforum e o Arcanobacter (Actinomyces) pyogenes ultrapassam as barreiras físicas, atingindo a corrente sanguínea via sistema porta até o fígado, desencadeando abscessos hepáticos. Existe uma alta prevalência de abscessos hepáticos com quadros prévios de rumenites em bovinos confinados (VECHIATO; ORTOLANI, 2008).
A incidência de quadros de abscessos hepáticos provenientes de animais confinados com dietas extremamente ricas em grãos atinge 12 a 32% (BRINK et al., 1990). Os abscessos hepáticos causam uma redução no metabolismo de nutrientes, prejudicando o máximo potencial produtivo do animal em cerca de 11%. Segundo VECHIATO e ORTOLANI (2008) os abscessos hepáticos são a segunda causa de condenação de fígados nos frigoríficos, perdendo apenas para as teleangiectasias. Tais autores observaram ainda uma diminuição na incidência em decorrência dos anos, mas com uma prevalência acentuada entres os meses de julho a dezembro em estudo retrospectivo dos últimos 5 anos de abate em um grande frigorífico paulista.
Os abscessos hepáticos não são previamente diagnosticados, porém existem medidas para a redução desses quadros, os quais causam grandes impactos econômicos. Umas delas é a inclusão de ionóforos em dietas de alto grão, reduzindo quadros iniciais de acidose láctica rumenal. Publicamos anteriormente um artigo citando medidas de prevenção de ALR.
O confinamento é uma alternativa de aumentar os rendimentos de uma propriedade, porém, este deve ser feito sob a supervisão de técnicos capacitados, sejam estes Médicos Veterinários, Agrônomos ou Zootecnistas. Dessa forma, haverá um planejamento adequado, evitando intercorrências e promovendo a exploração do potencial máximo da produção animal de forma segura e econômica.
Referências bibliográficas:
BRINK, D.R.S.R.; LOWRY, R.A.; PARROT,J.C. Severity of liver abscesses and efficiency of feed utilization of feedlot cattle. J. Anim. Sci. 68:1201-1207. 1990.
NAGARAJA, T.G.; CHENGAPPA, M.M. Liver abscess in Feedlot cattle: a review. Am. Soc. An. Sci. 76:287-298. 1998.
VECHIATO, T.A.F.; ORTOLANI, E.L. Estudos retrospectivos e prospectivos da presença de abscessos hepático em bovinos abatidos em um frigorífico paulista. Dissertação de Mestrado. Dados ainda não publicados – 2008.
6 Comments
Ótimo artigo, que leva em consideração a importância da dieta de adaptação para maior desempenho dos animais e maior aproveitamento, assim como retorno financeiro.
Parabéns aos autores.
Boa tarde, visitei um confinamento de um experimento de dieta de alto grão, e notou-se elevado bruxismo nos animais, porém durante o experimento não notou-se sinais de acidose (segundo responsáveis pelo experimento – mediu-se por pH de urina).
No abate revelou-se abcessos hepáticos e hiperqueratose rumenal, o que confirma a presenca de acidose. O que seria a causa do bruxismo? Porque não observou-se clinicamente a acidose nos animais?
Obrigado e parabens pelo artigo!
Prezado Valdir Chiogna Junior
Obrigado pelos elogios.
Quais foram os sinais observados pelos responsáveis do local? O quadro de acidose poderia ter sido branda ou subaguda e por isso não foi detectada pelos mesmos.
O sinal de bruxismo normalmente é notado devido a sinais de dor.
Quanto ao diagnóstico de acidose, creio que apenas a aferição do pH urinário não seja suficiente para conclusão do quadro. O mais indicado para diagnosticar acidose seria a avaliação clínica por um Médico Veterinário complementadas por provas físicas, químicas e microbiológicas do suco ruminal e pH fecal dos animais acometidos.
Espero ter sanado suas dúvidas, no mais me coloco a disposição para eventuais dúvidas.
Forte abraço.
Atenciosamente,
Thales
Sr Thales, bom dia
Acabo de ler um artigo do sr no site BeefPoint sobre dietas de alto grão.
Sou pecuarista no PY, região de Canendyu e estou com um problema e gostaria de saber se o sr poderia me ajudar ou assessorar, comprei uma grande quantidade de milho inteiro e estou com o material armazenado no barracão, mas só tenho o milho.
Minha intenção era tratar o gado com o milho inteiro, mas após ler alguns artigos pude perceber que não posso tratar somente com o milho.
Sendo assim minha duvida é qual o produto mais pratico que posso adicionar ao milho? E qual a proporção?
Existe a possibilidade de tratar somente com o grão do milho inteiro? Em uma proporção menor?
Agradeço atenção
Um grande abraço
JOSÉ OLIVEIRA
Prezado sr. José Oliveira,
Em relação ao uso de milho na dieta, este deverá ser fornecido em grandes partículas, ou seja, é melhor usar milho em grão que moído ou farelado devido aos riscos de acidose no animal.
Poderia utilizá-los sem problema, porém deverá fazer um período de adapatação de no mínimo 21 dias. Sugiro utilizar as seguintes proporções:
0-7dias – 40% de concentrado
7-14 dias – 60% de concentrado
14-21 dias – 70% de concentrado.
No entanto, apenas milho, sem nenhum outra fonte de alimento fibroso (pasto, cana, silagem, feno, bagaço,etc) creio que seja arriscado. Mas se os animais estiverem em pastagem, mesmo que seca, poderia utilizá-los sem problemas em proporções de até 3% do seu peso vivo distribuídos ao longo do dia (no mínimo de 3 ou mais vezes de fornecimento ao dia).
Espero ter auxiliado em alguma coisa, no mais me coloco a disposição para eventuais dúvidas.
Sucesso em sua propriedade.
Forte abraço.
Thales dos Anjos F. Vechiato
Achei interessante