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Diferença do preço da @ do boi em Rondônia

Por Oberdan Pandolfi Ermita1

No início do ano, alertávamos para o fato de Rondônia estar com suas pastagens no limite da capacidade de suporte (clique aqui e veja o artigo), que teríamos como conseqüência ampliação na taxa de desfrute e crescimento menos acelerado do rebanho. Os dados preliminares do IDARON, na campanha de vacinação de novembro de 2004, apontam para crescimento do rebanho de 8,2%, na comparação 2003/2004, 3,2 pontos percentuais menores que o crescimento no período 2002/2003. A taxa de desfrute, que foi de 11,2%, em 2003, saltou para 18%, em 2004. A conseqüência imediata desta maior oferta de animais para abate foi a tendência de achatamento no preço da @ paga ao produtor, já que as indústrias da região passaram a trabalhar com sobre oferta de animais. Entretanto, nossa realidade vem piorando a cada ano, indicando que existem outros elementos, além deste fato vivido em 2004, que vem se configurando contra o produtor rondoniense.

Conforme o gráfico, em 2003, a remuneração do produtor no estado de São Paulo foi 22% superior ao do produtor em Rondônia. Em 2004, esta diferença se ampliou para aproximadamente 26%, crescendo 3 pontos percentuais. O gráfico também apresenta a comparação em relação ao estado de Mato Grosso, em que se percebe que a diferença cresce mais de 3 pontos percentuais na comparação 2001/2004. Para se ter uma idéia, caso nossa diferença em relação ao Mato Grosso tivesse se mantido no mesmo patamar do ano de 2001, o preço médio da @/boi em Rondônia teria sido R$ 50,00, e não os R$ 48,00 que tivemos na média do ano de 2004.

Esta realidade se torna mais evidente quando comparamos nossa situação em relação ao estado do Pará. Em 2001, a @ do boi do produtor rondoniense foi remunerada em média 5% a mais que a do produtor paraense. Para nossa surpresa, esta diferença praticamente desapareceu, chegando a pouco mais de 1%, na média do ano de 2004. Relevante salientar que o estado do Pará não está livre da febre aftosa, ao contrário de Rondônia, que desde 2003 é reconhecida internacionalmente como zona livre, e mesmo assim o produtor paraense recebe a mesma remuneração do produtor rondoniense.


Fonte: cotação do preço da @ Boletim Scot (vários números) – demais cálculos elaboração própria.

São comuns opiniões que sustentam que o produtor em Rondônia recebe menos devido ao nosso frete ser mais caro, porque não exportamos, etc. Estes argumentos são facilmente contestados, não possuem qualquer fundamento, servem como mitos para mascarar as verdadeiras causas da tendência de inviabilidade da pecuária em Rondônia. Para se ter uma idéia, segundo dados oficiais do governo, disponíveis para qualquer cidadão no Sistema AliceWeb da SECEX, Rondônia exportou US$ 10 milhões em carne bovina e miúdos, somente no período 01/2004 a 11/2004, para a União Européia foi quase US$ 1,00 milhão, ao preço média de US$ 5,0 o kg. Estudos apontam que o preço do frete justifica diferença no preço da @ de apenas R$ 4,00, em relação ao estado de São Paulo. Na média do ano de 2004, o produtor em Rondônia recebeu por @ R$ 14,00 a menos que o produtor paulista. Observem que os frigoríficos daqui também estão exportando, é verdade que em volume ainda pequeno, só que sob nenhuma hipótese justifica uma diferença tão grande em relação ao estado paulista. Por último, basta lembrar que o estado do Pará possui situação de frete semelhante ao nosso, só que ao contrário de nós, não erradicaram a febre aftosa, e nem por isso sua situação piorou, como demonstrado anteriormente.

O gráfico abaixo é bastante revelador e comprova que o preço da @ nem sempre tem relação direta com o preço da carne praticado na ponta da cadeia produtiva. Em 2003, o Equivalente Scot Boi foi em média 2% mais caro que o preço médio da @/boi praticado em Rondônia, em 2004, se ampliou para mais de 4%, o que representa variação de 100% no período. Por outro lado, o mesmo indicador aponta que a situação do produtor paulista melhorou. Em São Paulo, na média do ano de 2003, o produtor recebeu pela @/boi 6% a mais que o Equivalente, melhorando para 8%, em 2004. Ou seja, enquanto a diferença do indicador para o produtor rondoniense piorou 100%, a do paulista melhorou 33%.


Fonte: cotação do preço da @ e Equivalente Scot no Boletim Scot (vários números) – demais cálculos elaboração própria.

Diante destes fatos, tiramos como conclusão que é a escala de abate e o poder de monopsônio2 exercido pelos frigoríficos que determina a remuneração do produtor, podendo ocorrer situações de melhora do preço da carne na gôndola do supermercado e redução no preço da @, ampliando assim a margem da indústria atravessadora.

É justamente esta realidade que vem se configurando em nosso estado, estamos entrando em uma situação de sobre oferta de animais, com as indústrias trabalhando a plena capacidade e, infelizmente, com elevada concentração, um único grupo hoje é responsável por aproximadamente 80% dos abates.

Não resta dúvida do espaço e da necessidade da instalação de mais indústrias em nosso estado, de forma a elevar a concorrência no setor, dar transparência e tornar a remuneração do produtor semelhante àquela que já foi no passado recente.

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1Oberdan Pandolfi Ermita é economista da Método Consultoria Ltda

2Situação análoga a de um monopólio, só que neste caso o poder de mercado se dá na compra da matéria prima, o boi.

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