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16 de julho de 2013

Diga não a identificação – relato de um produtor contra a rastreabilidade obrigatória no RS

Por Pedro Pires Piffero, pecuarista e presidente do Sindicato Rural de Alegrete.

Os governos viajam e se vislumbram com as tecnologias aplicadas pelo mundo e a primeira coisa que querem fazer e implantar no seu estado. Porém esquecem-se do essencial: importar o comportamento dos governos nestes países em relação ao setor produtivo!

Lá quem desenvolve as demandas e as maneiras de implantação são os produtores e trabalho do governo é viabilizar essas demandas. Já aqui, é ao contrário.

Para alguns governantes a opinião dos produtores é a que menos vale e quem sabe o que é bom para os produtores são eles. Tem as ideias, as transformam em projetos e se o produtor, quando consultado, não concorda eles colocam como obrigatório.

Pior é depois do término dos seus mandatos vem outro governo que acredita que aquele projeto não é o ideal ou é prioridade e muda tudo. E o produtor que continua na atividade segue vendo suas demandas básicas continuarem não sendo atendidas, como mais segurança nas áreas rurais, melhores estradas vicinais, postos de saúde nos polos rurais funcionando, ensino profissionalizante e extensão rural mais eficiente e tantas outras.

O projeto de rastreabilidade ou identificação bovina do governo do estado do RS é mais um exemplo desse descaso com a classe. Mesmo o produtor externando sua insatisfação e indicando que existem outras formas mais eficientes e exequíveis para se alcançar os objetivos propostos pelo governo do Estado, sem precisar identificar cada bovino; desconsiderando a história dos gaúchos que sempre foram os pioneiros na implantação da maioria das tecnologias utilizadas para aumento de produtividade em todo o Brasil; e mais, descartando a experiência com a identificação no Estado, onde os produtores da região, que possui mais de 50% do rebanho bovino, e que, há mais de 10 anos, nas reuniões para falar sobre rastreabilidade e identificação bovina, se colocam contra a sua obrigatoriedade.

Será que se fosse bom para esse produtor ele já não teria aderido voluntariamente?

Certamente a identificação virá acompanhada de custos, burocracia e penalizações e multas, e o que agora anunciado como “gratuito” sairá bem caro, e, como sempre, a conta será paga pelo produtor.

Por Pedro Pires Piffero, pecuarista e presidente do Sindicato Rural de Alegrete.

10 Comments

  1. Flávio Abel disse:

    Bom dia:
    O Sr Pedro está correto. Sem entrarmos no mérito da rastreabilidade, considero que o produtor e suas instituições representativas devem ser ouvidas e precisam liderar o processo. Se a rastreabilidade é boa para o mercado, será boa para o produtor.
    Precisamos alçar o padrão sanitário do nosso produto a níveis de exigência dos melhores compradores internacionais, não apenas dos periféricos. Isto passa sim pelos produtores e suas entidades. No RS, se tivéssemos padrões e preços internacionais, o valor do gado em pé seria próximo do dobro que é hoje.

  2. Álida Buzzo disse:

    Penso que a rastreabilidade seja sim importante para o futuro da pecuária no Brasil, principalmente para exportação.
    Há um ano vim pra España estudar e no momento faço estágio com uma carne IGP, e aqui vejo e escuto e tudo sobre carne e rastreabilidade – bem e mal!
    Ontem mesmo ouvi que a carne do Brasil que chega aqui na España não é boa, não tem qualidade e é vendida praticamente como carne de segunda – até mesmo porque, até a cor da nossa carne (aqui em Castilla y León) desagrada bastante, já que eles gostam da carne bem clarinha..
    Vejo que a rastreabilidade aqui vai muito bem, mas, SÓ porque o governo subsidia muita coisa na agricultura, e é aí sim eu concordo com o texto!
    Copiar o fato de fazer rastreabilidade, somente, realmente creio que não vai funcionar tão bem no Brasil como funciona aqui, pois creio que quem vai pagar a conta é o produtor – e o consumidor.
    Vejo aqui os gastos para que a carne seja rastreada desde o nascimento do animal até a venda na gôndola do mercado, e não são poucos (isso no caso da carne IGP, para carne sem marcas são bem menores), e pra isso existem subsídeos pra cada etapa. Aqui, esse tipo de coisas que são obrigatórias são gratuitas ou muito baratas!
    Por isso penso que, se o Brasil quer mesmo ter rastreabilidade, o governo deveria investir nisso e copiar daqui da Europa não só o fato de rastrear todos os animais, mas também copiar as políticas agrarias daqui que funcionam muito bem!!

  3. José Roberto Pires Weber disse:

    Lamento a opinião do ilustre articulista que, com certeza, expressa a opinião de alguns menos entrosados com a tendência mundial dos consumidores e dos produtores mais avançados. Hoje, todos os setores buscam a rastreabilidade como instrumento de gestão e de melhor aceitação dos seus produtos, bem como de controle sanitário. Como Presidente do Sindicato Rural de Dom Pedrito e Vice-Presidente da Associação Brasileira de Angus, esclareço que em reunião há pouco realizada naquele sindicato, com a presença de mais de 40 dos principais pecuaristas do município, TODOS foram favoráveis à rastreabilidade/identificação proposta pelo Estado do Rio Grande do Sul. Entendeu-se que não basta apenas proclamarmos, com razão, que produzimos a melhor carne, mas que precisamos diferenciá-la mercadologicamente para valorizá-la no mercado internacional e em nichos especiais de consumo no mercado interno. Em consulta feita a seus associados sobre o tema, a Angus não recebeu nenhuma posição contrária à idéia, mas sim, diversas sugestões para melhoria do projeto governamental. No mundo em que vivemos, o produto tem que ser apresentado com valor agregado para obter preço diferenciado, ou alguém imagina que o consumidor vai bater na nossa porta atrás do que deseja??? Esta é uma tendência mundial, inexorável e quem perder o trem da história, pagará os ônus decorrentes. Por fim, sempre que quisermos sair do nosso conservadorismo e comodismo, em busca do novo, da tecnologia e dos resultados diferenciados, teremos que enfrentar dificuldades, mais trabalho e despesas. Quem não quiser assumir e enfrentar estas questões, com absoluta certeza, patinará nos seus negócios e perderá o rumo da história!

  4. Custodio Magalhaes disse:

    Concordo integralmente com as palavras do Weber,mas gostaria de acrescentar algumas ideias de quem atualmente utiliza a rastreabilidade como gestao e tambem para ter a opcao de venda a mercados mais exigentes.A rastreabilidade proposta pelo Governo Gaucho,sera:
    1- custeada com recursos publicos ,porem sem onus ao produtor;
    2-uma ferramenta de gestao sanitaria, de estoques(auxiliando no combate a sonegacao,abate clandestino,abigeato …),de produtividade vinculada ao animal(prenhez,ganho de peso,etc…);
    3-vai permitir aos governos implantarem politicas publicas de incentivo,pois tera o rebanho exato,identificando todos os indices produtivos e as reais necessidades de investimento / financiamento e em quais categorias animais devera financiar e ou incentivar com maiores recursos;
    4-pelo consumidor,tera a seguranca em saber a origem da carne que esta consumindo,como foi produzida,garantia do produtor de ter cumprido o periodo de carencia dos medicamentos utilizados antes de enviar este animal para abate
    5-pelo varejo,saberia identificar possiveis diferencas de qualidade da carne de acordo com sua procedencia,raca,alimentacao,enfim varios dados poderiam ser selecionados,para que fosse feito o pedido do produto que o seu consumidor busca.
    Enfim eu poderia elencar varios outros pontos positivos,mas acho desnecessario, agora eu gostaria de rastrear as ideias,os pensamentos,as manifestacoes ,eu penso que elas devem emanar da tentativa de conhecer,de buscar esclarecimento,de nos aprofundarmos no tema,de questionar ,penso que assim formamos uma opiniao, baseada no CONHECIMENTO,ai sim, talvez fosse visivel que o trabalho sera valorizado e que o “custo”, sera maior receita e mercado.

  5. Tercio Tafarelo Moreno disse:

    Em minha opinião o rastreamento animal é inevitável e útil a quem quer chegar a um padrão de qualidade e segurança a níveis internacionais.
    Porém, a classe produtora através de suas entidades representativas devem se mobilizar a fim de fazer valer a ideia de quando se investe na produção isso não deva ser tributado.
    Sem alongar para outros insumos e custos de produção, alguns governantes tem a impressão de q quando se coloca um “brinco” em animal aquilo é um ornamento, talvez uma joia ostentativa, quando aquilo representa mais um esforço do produtor para melhorar seu produto conseguindo melhor preço. E ai sim ser tributado no lucro e não no investimento como acontece hoje em todo setor produtivo brasileiro.
    Ser tributado no lucro é aceitável o problema é que em nosso país investimento na produção alem de não ser subsidiado é entendido e contabilizado como lucro.
    “Produtor brasileiro você é um herói,….e persistente.”

  6. Jose luiz Giordano disse:

    Dr. Pedro muito bom o seu relato a respeito da rastreabilidade. Já tentaram implantar o sistema não deu certo. Porque foi implantado de cima para baixo. Muitos produtores perderam o serviço, alguns não acreditam neste sistema que o governo quer implantar, só tiveram prejuizo com brincos , técnicos e certificadoras.Só acredito para o sistema dar certo se, primeiro fizerem um trabalho de base com os produtores rurais, orientando-os sobre as vantagens e desvantagens do sistema. É preciso que o governo primeiro ouça a classe produtora e oriente, porque muitos pensão que rastreabilidade é só colocar o brinco na orelha do animal e mais nada.Não quero ser pessimista ao extremo, mas creio que daqui uns 10 anos ou mais o rebanho bovino do RS, esteja 50% rastreado.

  7. Paulo Knoll Moraes disse:

    O Senhor Pedro está mais que correto, hoje o Brasil tem sua economia baseada nos setores primários, e os que fazem parte dessa classe produtora primária, são reféns das leis, dos impostos altos de mais, da burocracia, da pesquisa e investimentos precários, nós produtores queremos produzir mais, queremos investir mais. Mas infelizmente nos deparamos com ‘leis’ desenvolvidas por pessoas (ambientalistas) que não sabem nem planta um pé milho!

  8. Renato Vicente de Paiva Sampaio. disse:

    Parabéns, amigo. Concordo plenamente com você. Sou médico. E veja é assim que o governo brasileiro tem agido conosco. Com descaso, desprezo, massacrando nossos ideais, aplicando o dinheiro em saúde não saudavelmente mas com subterfúgios (veja o programa de saúde da família – uma desculpa para injetar dinheiro em prefeituras e não na saúde dos munícipes). Se o Governo não acordar, não parar de ouvir os falsos conselheiros, vamos demorar muito gritando para que o Brasil siga adiante. Abraços.

  9. Juarez Petry de Souza disse:

    Os governos têm uma tendência doentia de criar obrigatoriedades que no fundo é para colocar ” a mão no bolso ” do produtor-consumidor; acompanhando esses mecanismos criam-se institutos, que acabam se transformando em cabides de emprego, aparelhos do partido que governa. Apesar disso, a rastreabilidade é em tese necessária, mas tem que ser implantada com um debate com os produtores, com fundo administrado pela iniciativa privada e até com criação de instituto, mas com gestão privada. Veja-se o absurdo que é a arrecadação que o IRGA atinge, o dinheiro indo para o caixa único do Tesouro Estadual. Vamos devagar com o andor que o santo é de barro!

  10. Edson Nilo Padilha Freitas disse:

    Senhores, boa noite!
    Há muitos anos muito tem se falado na necessidade de implantar um sistema de rastreabilidade e seus benefícios. Não há dúvida que eles existem, e que se bem implementado a cadeia do negócio bovinocultura só tem a ganhar. O que preocupa, é o processo de implementação. Será que desta vez vai haver seriedade no processo? Quem está liderando este processo e quais seus interesses? São interesses da coletividade? Quem vai arcar com esse custo (ou será investimento)? Em quanto tempo haverá retorno? Fala-se muito em gestão (palavra da moda agora), então vai outra pergunta: já existe um estudo de mercado a respeito do tema quantificando os ganhos financeiros reais da rastreabilidade para o governo, para o produtor, para o consumidor e para a indústria, ou vai se implementar pra depois ver no que vai dar? Acredito que respondidas estas questões, ficará mais fácil de chegar a um consenso, e todos poderemos estar levantando a mesma bandeira.