Diretor de Originação do Grupo Friboi, Artemio Listoni coordena toda a compra de gado da empresa, que abate 12.000 cabeças por dia. São 15 plantas ao todo, espalhadas em 7 estados: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Minas Gerais, São Paulo, e Paraná, o que coloca o Friboi na quarta posição no ranking dos maiores frigoríficos do mundo.
O técnico em Agropecuária, Artemio Listoni, lançou, através de seu departamento, três novas formas de comercialização de boi que prometem revolucionar o sistema de venda de bovinos para os frigoríficos. Listoni trabalha há nove anos no Grupo Friboi.
As novas modalidades de negociação são: Venda com Antecipação de Pagamento de Nota Promissória Rural (NPR), Venda de Bovinos a Termo e Venda Através de Emissão de Cédula de Produto Rural (CPR).
O objetivo do grupo Friboi para 2005, é abater 3,3 milhões de cabeças durante o ano. Para isso, há a necessidade de garantir matéria-prima e preencher as escalas de abate durante todo o ano. Estas novas formas de comercialização podem ajudar a garantir a oferta, e também, prometem vantagens a quem vende.
O Diretor do Friboi diz querer encurtar a distância entre pecuaristas e frigoríficos, desmistificar e diminuir a hostilidade entre as partes.
Veja abaixo a entrevista concedida por Artemio Listoni ao BeefPoint.
BeefPoint: O que levou o Friboi a lançar esses novas forma de comercialização?
Artemio Listoni: O Friboi está sempre atento a movimentos de mercado, vendo a necessidade da empresa e de seus pares, neste caso, o produtor.
O mercado da carne evoluiu muito nos últimos anos. Na produção, na indústria e no varejo. Nos últimos 30 anos, importamos tecnologia e equipamentos. Não se fala mais em carne com osso congelada. Hoje se fala em carne desossada, embalagens com atmosfera modificada ou a vácuo, carne maturada, bife porcionado, enfim, o aspecto industrial e a venda para o varejo evoluiu demais.
Hoje, por exemplo, supermercados do Morumbi (bairro de classe alta na cidade de São Paulo) têm apenas uma pequena área para a venda de carne. Eles recebem diariamente cortes já desossados e embalados, prontos para serem vendidos, sem nenhum trabalho e dispêndio de grandes áreas e mão-de-obra. O varejo está adaptado para atender o tipo de mercado de sua região.
Por outro lado, o campo não mudou nada na comercialização. Desde que o Friboi foi fundado, há 51 anos, a venda do boi é exatamente igual. O fazendeiro espera o boi ficar gordo liga para o frigorífico ou o frigorífico liga para ele, acerta-se o preço e pronto, acaba aí. Não tem nada de moderno no aspecto de venda, de comercialização de boi.
Isto sempre nos gerou um incômodo. Há muitos anos estamos pensando nisso. Daí, junto a instituições financeiras, inicialmente com o Banco do Brasil, fizemos uma espécie de convênio e lançamos estes produtos. A Venda com Antecipação de Pagamento de Nota Promissória Rural (NPR), a Venda de Bovinos a Termo e a Venda Através de Emissão de Cédula de Produto Rural (CPR).
Se você secionar em quatro partes a atividade de carne (produção, comercio com a industria, industrialização e comércio com o varejo), a única que não evoluiu foi a venda do boi.
BeefPoint: O Friboi se espelhou em outros modelos para criar estas novas formas de negociação?
Artemio Listoni: Nós nos inspiramos muito no modelo da soja, e também em Bolsas de Mercadoria. Estes novas negociações funcionam como um hedge para o frigorífico e também para o pecuarista.
BeefPoint: Como funciona a NPR (Nota Promissória Rural)?
Artemio Listoni: Por exemplo. Você chega aqui e me vende o boi com prazo de 30 dias de pagamento. Você não tem nenhuma programação de gastos para este período. Mas, inesperadamente, dali a 10 dias, surge uma boa oportunidade de reposição, ou necessidade de fazer caixa.
Você liga para nós e te antecipamos o dinheiro. Ou seja, trocamos essa Nota Promissória Rural (emitida pelo frigorífico). Você me avisa um dia antes, nós combinamos uma taxa de juros compatível ao mercado, e eu te pago, com os devidos descontos acertados com base nessa taxa de juros.
Isto dá mobilidade ao produtor, ele não precisa esperar 30 dias para receber o dinheiro. Caso apareça um bom negócio para ele neste meio tempo, ele pode ter dinheiro adiantado. Esta operação é mais para o dia-a-dia, pois o prazo médio de pagamento dos frigoríficos é de 30 dias.
BeefPoint: Como funciona a venda de bovinos a termo?
Artemio Listoni: O Friboi tem um preço de compra estipulado em uma planilha para negociações do dia, com prazos de até um ano para frente. Por exemplo, se você quiser vender boi para uma planta de São Paulo hoje (27 de outubro), para entregar os animais em 27 de outubro de 2005, eu estou pagando R$ 69,60 por arroba, com 30 de prazo, ou R$ 67,30 para pagamento à vista ou em dólar, por US$ 20,40. Eu compro à vista, a prazo ou em dólar.
O produtor pode vender na Bolsa de Valores, mas tem o incômodo de gerenciar os ajustes diários e depositar uma garantia em dinheiro pelos contratos. A vantagem do produtor junto ao Friboi e que ele faz a operação apenas uma vez. Nós damos essa facilidade ao pecuarista, ele faz uma vez a operação e esquece do assunto. Está operação de hedge com a Bolsa é o Friboi que faz, sem a preocupação do produtor.
O produtor vende o boi para nós, faz um contrato estabelecendo o valor da venda. Nós ficamos com o compromisso de receber esse boi e pagar esse preço e o produtor se compromete a entregar esse boi para nós.
Hoje por exemplo, nós estamos abatendo boi comprado por R$ 68,30 por arroba. Negócio realizado em maio. E o mercado de São Paulo está girando hoje entre R$ 61,00 a R$ 62,00 por arroba.
A vantagem do produtor é que ele consegue “hedgear” o seu negócio. Principalmente para quem sabe o custo da arroba produzida. Ele calcula seu custo e o valor que vai receber e trava o negócio, evitando o risco de perder, como aconteceu este ano, quando muitos falavam em setenta e poucos reais na entressafra.
BeefPoint: E o que o Friboi ganha com isso?
Artemio Listoni: Nós ganhamos escala, ganhamos a confiança do produtor e ganha a modernidade do negócio. Nós não queremos que só o Friboi faça isso. Nós queremos que todos os frigoríficos entrem no mercado e modernizem o sistema de comercialização.
BeefPoint: Essa tabela de preços de negociação que o senhor possui é uma tabela indexada na Bolsa de Valores ou é uma tabela do Friboi?
Artemio Listoni: É uma tabela nossa, hoje estamos pagando R$ 69,60 e a Bolsa R$ 70,00. Há uma diferença de custo que nós temos para viabilizar o contrato. Nós não fizemos isso visando ganhar dinheiro.
BeefPoint: Nós falamos sobre São Paulo, como funciona o contrato de Boi a Termo em outros estados?
Artemio Listoni: Nós temos preços para outros estados. Existem diferenças históricas entre São Paulo e outros estados. Diferenças de base. Para 27 de outubro do ano que vem, em Araputanga, MT, estou pagando hoje, R$ 62,80 por arroba com 30 dias de prazo ou R$ 60,50 à vista ou US$ 18,30.
Os preços citados são até uma distância de 250 Km da planta de abate. Acima disso há descontos causados pela diferença de frete. Algumas propriedades estão a cerca de 800 Km do frigorífico, o que onera muito o nosso custo.
BeefPont: Em que plantas estas novas formas de comercialização já estão funcionando?
Artemio Listoni: Em todos os estados em que temos abatedouros, menos Rondônia. Está funcionando em MT, GO, MG, SP, MS e PR.
BeefPoint: Desde quando vocês começaram a comercializar gado desta nova maneira?
Artemio Listoni: Nós estamos trabalhando desta maneira há mais de um ano, mas o lançamento oficial ocorreu março, durante um evento em Araçatuba, SP.
BeefPoint: Qual a exigência em relação ao tipo do animal comercializado?
Artemio Listoni: O boi deve pesar acima de 15 arrobas e estar bem acabado. Deve ser castrado e rastreado. Não há diferenciações entre raças, a não ser em relação ao tatu com cobra. As vacas também podem entrar no contrato. Elas sofrem um deságio de 15% em relação aos preços da tabela dos machos. As fêmeas também devem ser rastreadas e pesar no mínimo 12 arrobas.
BeefPoint: E como funcionam os negócios com a CPR?
Artemio Listoni: A CPR é um passo a frente do negócio a termo.
Suponha que você me vendeu boi para outubro do ano que vem a R$ 69,60 por arroba. Você, produtor, emite uma Cédula do Produto Rural em uma instituição financeira (O Banco do Brasil, Banco Santos, Banco Rural, e o Fundo de Investimento Rio Bravo já estão operando com o Friboi, o Grupo está em negociações com o Bradesco e o Itaú).
Após o produtor combinar a taxa de juro com a instituição financeira, a instituição compra esta CPR do produtor com base no preço que o frigorífico se comprometeu a pagar em outubro de 2005, e o frigorífico se compromete com a instituição, através de um contrato, a receber este produto, e repassar o dinheiro à instituição. Se por uma eventualidade o produtor não entregar o boi, a instituição devolve o dinheiro ao frigorífico.
Resumindo: o produtor acerta um preço de venda com o frigorífico para outubro de 2005, emite uma CPR, o banco compra a CPR do produtor com base no preço acertado com o frigorífico, o frigorífico assina um compromisso com o banco que vai receber do produtor esse boi e repassar para o banco esse dinheiro.
Imagine que o produtor vendeu o gado hoje, a R$ 69,00 por arroba para entregar em outubro de 2005 ao frigorífico, e negociou com o banco uma taxa de 1,5% ao mês. O produtor irá receber hoje, pela CPR emitida, os R$ 69,00 menos a taxa de 1,5% ao mês, como são 12 meses, ele irá receber R$ 57,71. O Friboi vai pagar para o banco no dia do vencimento os R$ 69,00 por arroba (para o Banco do Brasil o pagamento por parte do frigorífico é antecipado em 5 dias).
BeefPoint: E qual a vantagem para o produtor?
Artemio Listoni: O produtor pode antecipar o recebimento do dinheiro com até um ano de antecedência. Ele pode, por exemplo, fazer uma reposição. Se ele tem 1.000 animais que vão ficar prontos a daqui um ano, mas está com sobra de pasto para 1.000 bezerros, só que não tem o dinheiro na mão, e só vai ter daqui a um ano, quando matar os bois. Então ele vende esse boi agora, acerta o preço com o frigorífico, emite uma CPR, pega o dinheiro e faz uma reposição antecipada, aproveitando sua sobra de capim.
BeefPoint: O produtor recebe algum auxílio para fazer essa parte burocrática?
Artemio Listoni: O Friboi tem uma estrutura para isso. Se o produtor nos der abertura nós estruturamos todo o processo. O produtor só precisa ir ao banco, assinar os papéis e pegar o dinheiro.
Fonte: Equipe BeefPoint
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Quando o Sr. Listoni diz, com relação ao Mercado a Termo ou Futuro, que hoje está abatendo animal a R$ 68,30, oriundo de negócio realizado em maio, e que o boi, em São Paulo, está entre R$ 62,00 e 61,00 por arroba, o frigorífico está tomando prejuízo de R$ 6,80 por arroba?
O que o Friboi fez após adquirir esse boi em maio? Comprou a R$ 68,30 e vendeu logo em seguida por R$ 70,00 ou a R$ 66,00, por exemplo, quando o mercado dava sinais de baixa consistente?
Afinal, o Friboi, nesse caso, está no prejuízo ou repassou o risco para as financeiras ou bancos, etc….
Senhores:
Mais uma vez verifico que o frigorífico não altera as regras de comercialização no que se refere à compra.
O diretor do frigorífico não faz nenhuma referência à possível compra de animais pesados na fazenda(peso vivo) ,nem referente ao rendimento,o que realmente é de interesse vital do produtor.
Pelo jeito o frigorífico está virando instituição financeira.
Sem mais
Um abraço do leitor assíduo
Domingos Pires da Silva
Fazenda Marjulu
Barra do bugres-MT.
Gostaria de saber se no caso de venda de bovinos a termo e CPR. Quando ocorrer o abate se por ventura o total de arrobas firmado, exceder o contrato o frigorifico irá ressarcir o produtor ? E no caso inverso se não atingir o peso acordado como será feito o pagamento?
Acho essas operações muito interessantes, elas podem melhorar o relacionamento entre pecuaristas e frigoríficos além de beneficiar toda a cadeia produtiva.
Com o mercado a termo é possivel baixar custos de produção através das relações de troca em insumos e reposições.
Com isso acaba aquela história mercado estganado, cada um dentro do seu modelo de produção monta sua estratégia e o importante é garantir a margem de lucro e por a roda para girar.
Friboi, parabéns pela iniciativa, acredito que essas atitudes são fundamentais para um novo modelo de pecuária.