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Distúrbios metabólicos relacionados à nutrição de bovinos confinados – 1

A intensificação dos sistemas de produção de bovinos de corte é uma forma de aumentar tanto a produção de carne por área como o giro de capital dentro da propriedade. Há alguns anos, o confinamento de bovinos também foi utilizado visando alcançar maiores preços de venda, através do abate dos animais no período de entressafra. Atualmente, essa estratégia praticamente não tem mais significado, devido à estabilização dos preços pagos por arroba durante todos os meses do ano, com pequenas alterações nos períodos de menor oferta de animais terminados.

Em um sistema de confinamento de bovinos de corte, os custos com alimentação, mão de obra e instalações são bastante onerosos, sendo imprescindível um bom desempenho dos animais para a viabilidade econômica do sistema. Alguns problemas em relação à saúde dos animais podem surgir e irão comprometer diretamente a produtividade animal.

Dentre as várias enfermidades relacionadas ao confinamento, as mais observadas são: timpanismo, enterotoxemia, acidose lática, laminite, botulismo e intoxicação por uréia.

Timpanismo

O timpanismo é um distúrbio metabólico dos ruminantes, também conhecido como meteorismo ruminal. Nessa enfermidade irá ocorrer distensão acentuada do rúmen e retículo, devido a não expulsão dos gases produzidos na fermentação do conteúdo ruminal, levando a um quadro de dificuldade respiratória e circulatória, podendo levar o animal a morte.

O desenvolvimento desse distúrbio está relacionado a fatores que impedem o animal de eliminar os gases produzidos na fermentação ruminal, podendo ser classificado em primário (espumoso) e secundário (gasoso). O timpanismo primário é caracterizado pelo aumento da tensão superficial do líquido ruminal (viscosidade), fazendo com que as bolhas de gases persistam por longos períodos na ingesta, mesmo com os movimentos ruminais, impedindo assim a eliminação do gás.

O aumento da viscosidade do líquido ruminal pode estar relacionado a diversos fatores, como as saponinas e pectinas presentes em alguns vegetais, principalmente leguminosas. Alterações na quantidade e qualidade (poder tamponante e emulsificante) da saliva também podem influenciar na formação de bolhas e no desenvolvimento do timpanismo. O pH do conteúdo ruminal tem importante papel na estabilidade da espuma dentro do rúmen. A formação da espuma está relacionada ao aumento da população de microorganismos produtores de muco, devido à ingestão de alimentos finamente moídos (Hironaka e Freeze, 1992).

A ingestão de grandes quantidades de alimentos altamente fermentáveis, em um curto espaço de tempo, leva a formação de grandes quantidades de ácidos graxos voláteis, ocorrendo formação de espuma densa pela mistura do gás com o conteúdo ruminal, que é estabilizado pelas proteínas vegetais ou pelo excesso de muco produzido.

Já o timpanismo secundário vai ocorrer quando houver dificuldade física à eliminação dos gases. Isso poderá ocorrer devido à obstrução de esôfago por corpo estranho, ou a doenças que causem enfartamento ganglionar, como a leucose, tuberculose, pneumonia e actinobacilose. Também poderá ocorrer timpanismo secundário quando ocorre lesão das terminações nervosas responsáveis pela eructação.

O tratamento do timpanismo vai depender do tipo de timpanismo e o grau de severidade do caso. Nos casos de timpanismo espumoso, deve-se primeiramente promover a eliminação dos gases, diminuindo o desconforto animal, e a diminuição da estabilidade da espuma. Para a eliminação dos gases, pode-se utilizar uma sonda oroesofágica, ou quando não for possível desta forma, deve-se utilizar a aplicação do trocáter no flanco esquerdo (fossa paralombar esquerda). Após a passagem da sonda ou trocaterização deve-se fazer a administração de óleos anti-fermentativos e laxativos, visando diminuir a estabilidade da espuma e estimular a eliminação da ingesta. Nos casos de timpanismo gasoso, o tratamento baseia-se na eliminação dos gases e diagnóstico das causas de não eructação.

Como solução de emergência com animal de alto valor econômico, podemos optar pela intervenção cirúrgica (rumenotomia), para remoção do conteúdo ruminal.

Para prevenção da ocorrência de timpanismo, deve-se ter grande preocupação com a quantidade e a efetividade das fibras presentes na dieta, sendo que, quanto maior a quantidade de grãos, maior a necessidade de fibras na dieta. Animais de origem zebuína apresentam maior sensibilidade ao aumento da quantidade de concentrados na dieta do que animais de origem taurina. O uso de ionóforos na ração diminui a incidência de timpanismo em bovinos confinados (Machado & Madeira, 1990).

Enterotoxemia

É uma infecção aguda, não contagiosa, causada pelas toxinas do Clostridium perfringes. É caracterizada por distúrbios gastrintestinais e/ou sintomas nervosos, causando morte súbita. Afeta principalmente animais jovens. Essa enfermidade está relacionada a animais alimentados com altos teores de grãos e pouca quantidade de fibras.

A maioria dos casos de morte súbita de animais em confinamentos dos Estados Unidos tem sido atribuída a enteroxemia, devido à recuperação de alguns animais quando foi possível fazer o tratamento com toxina específica, e a recuperação dos dos demais animais do lote após vacinação (Blood & Henderson, 1978).

O Clostridium perfringes, agente causador da enfermidade, é um habitante natural do solo e do trato digestivo de animais sadios, que em condições normais produzem pequenas quantidades de toxina sem afetar o bem estar animal. Ainda não são totalmente conhecidas as condições que favorecem a multiplicação exagerada do microorganismo patológico. Geralmente os casos da doença estão relacionados a dietas com altos teores de concentrado ou mudanças bruscas de alimentação. A proliferação exagerada do Clostridium perfringes vai afetar a permeabilidade intestinal, permitindo rápida absorção da toxina e consequente necrose do endotélio vascular, causando pequenas hemorragias, acúmulo de líquidos nas cavidades e edema no cérebro, coração e pulmão. Os animais vão apresentar sintomas nervosos (incoordenação e prostração) e morte em algumas horas, ou em casos superagudos, os animais são encontrados mortos sem nenhum sintoma prévio.

O tratamento, quando possível, poderá ser feito através da administração de antitoxina específica. A prevenção pode ser feita através da vacinação dos animais na entrada do confinamento (normalmente a vacina para carbúnculo também inclui a de enteroxemia), boa adaptação a altas quantidades de concentrado na dieta, e utilização de fibras de alta qualidade.

Referências bibliográficas:

BLOOD, D.C.; HENDERSON, J.A. Medicina Veterinária. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara Koogan, 4ª ed., 1978.

BRANDINI, J.C. Doenças em bovinos confinados. Embrapa-CNPGC, Campo Grande, p. 62, 1996.

HIRONAKA, R.; FREEZE, B. Feedlot finishing of cattle. Otawa:Canadá, p. 57, 1992.

MACHADO, P.F.; MADEIRA, H.M.F. Manipulação de nutrientes em nível de rúmen – Efeitos do uso de ionóforos. Novas tecnologias de produção animal. FEALQ. Piracicaba, p. 41-58, 1990.

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