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Do envolvimento para o comprometimento

O ano de 2004 foi marcado por importantes acontecimentos na cadeia da carne. Nessa época de final de ano é interessante analisarmos o que passou, na busca por uma melhor compreensão das tendências do mercado da carne, no Brasil e no mundo.

O principal acontecimento do ano foi a consolidação do Brasil no mercado internacional. As previsões para os 12 meses de 2004 são de US$2,5 bi exportados. Na feira Sial, ocorrida em Paris em outubro, o Brasil era o país com a presença mais forte no setor de carne bovina. A exportação de carne bovina é hoje um dos maiores geradores de superávit para a economia brasileira.

Por outro lado, entre os produtores é geral a percepção de que a exportação de carne é um grande e lucrativo negócio, do qual eles estão envolvidos, mas não beneficiados. Para muitos parecem que a exportação é uma “festa” de lucros altos, da qual compartilham os esforços, mas não os resultados. Isso realmente ocorre? Quais os motivos dessa situação?

Nos últimos anos, os frigoríficos exportadores têm realizado grandes investimentos em melhorias estruturais, adoção de novas tecnologias de produção, aquisição e construção de novas plantas, além de um grande avanço na gestão.

Entre esses investimentos, está um melhor acompanhamento do mercado e conseqüente melhor entendimento. Além disso, a concentração das indústrias, fenômeno que ocorre em quase todos os setores da economia mundial, também é registrado no segmento abate e processamento no Brasil.

Essas mudanças são extremamente benéficas para o setor como um todo. A carne bovina é hoje uma opção dentre um rol cada vez maior de produtos substitutos, na refeição de um consumidor. O profissionalismo será fator decisivo para que a carne continue sendo a preferência nacional em proteína animal (posto que estamos quase perdendo para o frango) e para que a carne brasileira obtenha acesso e aceitação nos mais diversos mercados do mundo.

O produtor também tem se profissionalizado, e muito. O Brasil é líder no uso de fertilização in vitro, por exemplo. Na parte técnica, índices como idade ao abate e taxa de prenhez vêm melhorando significativamente, o que aumenta a eficiência e a produtividade. Aumenta também a produção (Leia a matéria sobre dados de abate do IBGE).

No entanto, isso não é tudo. Apesar de grandes avanços em produtividade e eficiência, pequenos são os avanços no controle estratégico do negócio, principalmente na comercialização e preparação para mudanças de cenário. O aumento das exportações (aumento da demanda) foi mais do que compensado pelo aumento da produtividade do rebanho (aumento da oferta). Se por um lado temos frigoríficos cada vez mais capacitados e com uma administração cada vez mais eficiente (o que é extremamente positivo), por outro lado quase nada mudou na forma como o produtor entende o negócio como um todo e não apenas dentro da porteira, buscando aumento de produtividade e redução de custos.

Um dos pontos mais importantes na análise de um determinado negócio é o poder de seus clientes e fornecedores. O poder de seu cliente (que no caso do produtor é o frigorífico) é uma das cinco forças de Porter. Michael Porter é um professor de estratégia da Universidade de Harvard, mundialmente famoso, que criou um sistema de análise estratégica que pode ser aplicado em qualquer atividade econômica. As 5 forças de Porter são: 1- número de concorrentes e a sua rivalidade em determinado momento, 2- possibilidade de entrada de novos concorrentes, 3- poder de negociação dos clientes, 4- poder de negociação dos fornecedores e 5- aparecimento de produtos substitutos.

Na cadeia da carne, as recentes mudanças no setor de frigoríficos aumentaram o poder de barganha desse segmento. Essa mudança é benéfica para o setor como um todo, mas se torna uma nova pressão para os segmentos, sendo o produtor, nesse caso, o mais impactado, o que exige também dele mudanças. Ou seja, no cenário atual, analisando-se as 5 forças de Porter, em relação ao segmento produtivo, a força do item 3 do parágrafo acima se tornou maior.

De nada irá adiantar colocar o frigorífico como “bicho-papão”. É preciso entender que o cenário exterior à produção mudou, sendo preciso encarar o “negócio” produção de bovinos para abate de forma diferente.

Sob essa ótica vale a pena estudar alguns acontecimentos recentes, como o “caso Margen”. Com a notícia da prisão de sócios e funcionários do grupo, a relação oferta/demanda por bois gordos se tornou favorável aos compradores (frigoríficos). No mesmo momento, no caso da carne (mercado interno e externo) a relação oferta/demanda se tornou favorável aos vendedores (novamente frigoríficos). Isso ocorreu, pois o número de empresas atuantes nesses dois mercados (boi gordo e carne bovina) diminuiu, diminuindo a concorrência. Um exemplo claro que o poder dos compradores (boi gordo) e fornecedores (carne bovina) aumentou, abrindo espaço para modificações no preço.

Trata-se de um exemplo claro que será necessário para o produtor trabalhar de forma mais organizada a fim de aumentar seu poder de negociação. No “caso Margen” não foi o preço da carne que influenciou o preço do boi, ou vice-versa, mas a mudança no poder de negociação de clientes e fornecedores.

No sentido de se buscar amenizar esse aumento de poder começamos a perceber movimentos associativos ainda embrionários, que visam em caráter local ou regional diminuir a diferença de poder de barganha.

Nos últimos meses têm-se falado até em se fazer “greve” de venda de animais, objetivando preços melhores para o boi gordo. Não acredito que essa será a melhor estratégia. O que é preciso (e possível) é a reunião de produtores, que possam oferecer um número maior de animais ao mercado, com mesmo padrão. Alguns grupos que estão se formando, já conseguem preços diferenciados por oferecer maior volume de animais.

Um grande número de produtores (hipotético), organizados de forma a oferecer grande quantidade de animais, de um mesmo padrão e durante todo o ano, com certeza terá uma facilidade maior em negociar preços do que cada produtor individualmente. A necessidade de matéria-prima dos grandes frigoríficos é enorme, o que torna pequena a margem de manobra de um único fornecedor. Ao mesmo tempo, aumenta a atratividade de uma única negociação que garantiria tranqüilidade na obtenção de matéria-prima (boi gordo) de acordo com o padrão desejado.

Outro acontecimento recente foi a compra do frigorífico baiano Mafrip pelo Bertin. Os produtores baianos parecem estar muito animados com a chegada do Bertin, vislumbrando melhores negócios, uma vez que a empresa irá investir na adequação da planta para exportação (Leia a matéria sobre o frigorífico Mafrip, de Itapetinga, BA). Antes de se comemorar é preciso estudar o que definirá o preço a ser pago na região. Algumas perguntas podem ajudar nesse raciocínio. A relação oferta/demanda de bois gordos se modificou fortemente, uma vez que não foi construída uma nova planta, mas adquirida? O poder de negociação na compra de gado do Bertin é maior ou menor que a do proprietário anterior, baseado no tamanho da empresa, capacidade gerencial e acesso à informação? Não há indicações consistentes de que o preço da arroba irá aumentar, concomitantemente com o início das exportações. Vale lembrar que se não houver aumento de preços, não se pode “culpar” o novo dono do Mafrip pela situação, mas deve-se analisar a situação de forma mais crítica. Como em qualquer empresa, sempre se busca o melhor preço na compra. E qual o melhor preço para a matéria-prima que mais influencia na planilha de custos de um frigorífico? O menor possível.

Outra mudança silenciosa na pecuária brasileira é o aumento da especificidade de ativos em todos os elos da cadeia. A especificidade de um ativo é uma maneira de se medir a possibilidade de utilizá-lo em outras atividades. Imagine uma balança para bovinos e um trator. Ambos investimentos são necessários em uma fazenda de gado de corte. No entanto, a balança dificilmente poderá ser utilizada de forma eficiente em outras atividades, ou seja, ao se investir nesse extremamente necessário equipamento não será possível dar “outro uso” caso se mude de atividade. O trator, por outro lado, pode ser facilmente utilizado para a agricultura numa mudança de atividade da fazenda.

Quando uma empresa faz muitos investimentos em ativos com elevada especificidade é preciso garantir que esses investimentos serão utilizados da forma planejada. Se essa garantia não for dada na forma de acordos ou contratos, a margem de manobra para negociação fica reduzida. Ao se comparar um boi gordo a pasto e outro confinado, a especificidade de um é diferente do outro. O custo para se manter os dois animais por mais tempo na engorda é muito diferente, permitindo uma maior margem de manobra para o proprietário que tem o boi a pasto.

Isso não é um desestímulo ao confinamento, muito pelo contrário. No entanto, ao se confinar é preciso ter isso em mente para se garantir o sucesso. Esse é um exemplo prático e de fácil aprendizado por quem atua na engorda de bovinos.

Outro exemplo, a adoção de uma certificação Eurepgap, também tem elevada especificidade. Pode ser necessário algum tipo de garantia antes que o investimento seja realizado, no caso de se planejar a adoção dessa certificação visando sobre-preço da arroba. É bom lembrar que a certificação Eurepgap traz inúmeras outras vantagens, como aumento da eficiência da propriedade, adequação a exigências trabalhistas e ambientais, muitas vezes mais importantes que o sobre-preço.

Mas a pergunta que fica é: depois de investir, implantar e obter o certificado Eurepgap qual será a garantia de que será pago sobre-preço pelo produto final? E ainda mais: qual será o poder de negociação para exigência desse sobre-preço, quando todos os investimentos na implantação já foram feitos? Acredito que a adoção de protocolos para certificação de processos irão desempenhar um papel importantíssimo na evolução da pecuária brasileira, mas é preciso entender os novos fatores que influenciam na lucratividade da atividade pecuária.

Com todas as exigências de padrões de qualidade e modelos de produção, estamos passando do envolvimento para o comprometimento. A melhor metáfora dessa diferença é o exemplo do prato de café da manhã presunto com ovos. O porco está comprometido, a galinha apenas envolvida. Se o papel do produtor evolui do envolvimento para o comprometimento é preciso que o mesmo adote estratégias para ser devidamente remunerado por esse comprometimento. A pior coisa possível será estar comprometido e vender seus produtos como se estivesse apenas envolvido. Dificilmente será possível alcançar boa rentabilidade com essa estratégia.

Como na comparação entre o boi a pasto e o boi confinado, a pecuária está mudando como um todo, de forma que não basta mais investir em melhoria na eficiência técnica, melhoria da qualidade e redução de custos. Cada vez mais o mercado se direciona para novas formas de comercialização e gerenciamento de risco, como negociação em grupo, contratos de fornecimento, tabelas de desconto/premiação, compra a termo, mercado futuro, etc.

O mundo está mudando e com ele as exigências dos consumidores também. São as novas exigências que tornam necessário passar do envolvimento para o comprometimento.

Tudo isso não é um sinal de desânimo, mas de alerta. Existem inúmeras atividades que são baseadas em comprometimento e não envolvimento, que geram grandes lucros. Mas as empresas que obtém esses lucros, atuam sabendo que esse é o jogo.

Com certeza a produção de alimentos dentro de padrões mais rígidos e de forma a atender aos desejos do consumidor será o caminho para uma maior lucratividade. Esse é o caminho, mas o jogo agora é outro. Se jogarmos com as regras do jogo anterior (eficiência de produção/baixo custo), não será possível vencer a batalha da rentabilidade.

Mais desafiador do que gerar valor será distribuir esse valor criado entre cada elo. O desafio de repartir o valor baseado no que cada elo criou com seu trabalho.

Espero que possamos, através do BeefPoint, ajudar na busca por essa maior rentabilidade da cadeia da carne em 2005.

Aproveito esse espaço para agradecer o apoio dos mais de 34 mil leitores de todo o Brasil e de mais de 40 países que nesses quase 5 anos de trabalho do BeefPoint vêm contribuindo ativamente, compartilhando conhecimento e discutindo a cadeia da carne no Brasil. Espero que em 2005 possamos fazer um mundo mais justo. Pensando globalmente e agindo localmente, acredito que o que está em nossas mãos na busca desse mundo melhor é fazer uma pecuária no Brasil mais sustentável como atividade econômica e social e também mais lucrativa hoje e no longo prazo. Muito obrigado e feliz ano novo.

0 Comments

  1. Ernesto Coser Netto disse:

    Parabéns Miguel,

    Brilhante seu artigo, creio também que é tempo de mudanças.

    Temos que saber usar as leis de mercado como uma das mais antigas, a Oferta e Procura, o importante é saber negociar.

    Não adianta o produtor ficar criticando o frigorífico que não quis pagar mais pelo seu boi, e muito menos querer forçá-lo a pagar mais, o que é preciso além é obvio de se produzir um excelente produto para se poder exigir por ele, e negociar.

    Não é por que um boi tem brinco ou por que ele tem um selo de qualidade que obrigatoriamente ele tem que valer mais que outro, ele tem que ter, qualidade, atender as necessidades e os gostos do cliente e principalmente ser bem negociado.

    Parabenizo criadores como os da Nelore Natural e do Angus que estão fazendo o serviço que na minha maneira de ver seria da indústria frigorífica, mostrando ao consumidor seus produtos, procurando diferenciais, criando um maior valor agregado, e principalmente se unindo, para poder negociar melhor.

    Não vejo no mercado interno pelo menos no curto prazo, uma possibilidade de elevação de preços, creio que umas das principais saídas para podermos ser mais bem remunerados é a exportação.

    O problema que o mundo todo vê o Brasil como ameaça exportadora. E as barreiras protecionistas tarifárias que apesar de absurdas vinham sendo superadas devido a nossa capacidade produtiva a custos baixos, estão migrando para barreiras sanitárias e para conseguirmos escapar desta enorme e eficiente muralha, serão necessárias mudanças mais profundas de toda a cadeia, que realmente deve estar não somente envolvida, mas comprometida com o nosso futuro.

    Hoje exportamos quase 20% da carne que produzimos, imaginem quando chegarmos a 40%, e creio que somos capazes de chegar nestes números, pois sou um otimista e um trabalhador.

    Parabéns novamente e mais sucesso ainda em 2005.

  2. Aluisio Villela Diniz Junqueira disse:

    Este artigo reforça a necessidade de toda a cadeia da carne unir forças, e não apenas os produtores em grupos ou isoladamente, não apenas a indústria se modernizar internamente e comercialmente, tem que ser total.

    Não adianta o setor primário (pecuaristas) se unir, produzir com próprios padrões e depois procurar os frigoríficos para saber : quanto que pagarão pela arroba?

    Da forma com que está, estão se auto destruindo.

    A indústria e os distribuidores da carne, com o auxílio do MAPA, são quem deveriam se comprometer, acertando parcerias com os produtores, para padrões de qualidade, regularidades de fornecimento, e negociações de valores, a fim de organizar a produção, evitando ofertas excessivas ou excassas em certas épocas durante o ano, maximizando e distribuindor lucros, para que possamos beneficiar toda a cadeia produtiva, como também os consumidores.

    Isto sim seria um enorme avanço para o setor e para a nação, um verdadeiro “comprometimento”.

  3. Marcello Anastasio disse:

    Miguel, parabéns pela matéria, está muito bem explicativa e serve até como um alerta àqueles que caem de “pára-quedas” no negócio da carne, com a visão de gerar sómente bons lucros.

    Abraços.

    Marcello Anastasio
    Boi & Beef

  4. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Miguel,

    O seu artigo “Do Envolvimento para o Comprometimento” é uma análise muito bem feita sobre o que está ocorrendo na cadeia de carne bovina e explica também, quando possível, o porque dessa situação.

    A verdadeira explosão de exportação de carne bovina e a grande concentração que ocorreu nos segmentos industrial e consumidor não teve ainda uma resposta adequada por parte dos fornecedores de gado para abate.

    Realmente é necessário que haja comprometimento de todos os elos da cadeia de carne, com a qualidade total e o bem-estar do consumidor final.

    Isto quer dizer que deverá ter um grande grau de integração e interação entre os fornecedores de gado para abate como também com os criadores dos animais, e os processadores e eventuais compradores e até consumidores finais.

    Para funcionar direito, a transparência e a vontade de servir devem ser os pilares sobre os quais a confiança mútua pode ser construída.

    É muito importante aceitar que o cliente de cada etapa no fundo sempre já é o consumidor final, e infelizmente isto é ainda em nosso meio uma revolução cultural.

    Quem acompanha o desenvolvimento e concentração na parte industrial chega muito rápido a conclusão de que o negócio é tão grande que precisa ter uma infra-estrutura de qualidade muito maior do que pensávamos.

    Quando uma organização abate 10.000 ou mais cabeças por dia imagine o que isto significa em produtos, logística, qualidade a serem manipulados, manejados e administrados.

    Quanto maior a escala também se torna maior o perigo de se cometer erros, de não ter resultados otimizados e de correr riscos desnecessários, porem o perigo mais grave e danoso para todos os elos da cadeia se chama ganância.

    A ganância cega os olhos, castra iniciativas e no fim se torna contra quem use dela.

    Quando alguém pergunta como definir a relação de fornecedor de gado para abate com os frigoríficos, as palavras ainda mais usadas são desconfiança, medo e ganância.

    Nenhum empreendimento ou negócio sobrevive tendo estes componentes como base nas relações comerciais.

    Quase todas as medidas e iniciativas para mudar esta situação são barradas ora pelos frigoríficos, ora pelos fornecedores de gado para abate, ora pelos diversos lobbies de interesse particulares e também pela inércia do Governo, e infelizmente a Câmara Setorial de Carne Bovina ainda não decolou no que tange a importantíssima classificação de carcaças nos frigoríficos que mais uma vez foi adiada para o futuro, apesar de ser a medida chave para melhorar de vez as relações Frigorífico / Cliente sejam elas fornecedor ou consumidor.

    As maracutaias que ainda são praticadas no mercado de carne também não ajudam em nada para melhorar a qualidade total dos produtos e assim formam graves limitadores de melhoramentos possíveis, e são verdadeiras ameaças a todos.

    Para remediar a situação, as Casas de Lavoura, Postos do MAPA e especialmente os serviços do SIF podem ser turbinados para poder então realmente aconselhar, controlar e fiscalizar os processos do agronegócio.

    Com 500 fiscais federais agropecuárias sediadas junto com o SIF nos maiores frigoríficos, um passo gigante pode ser dado em direção de clarear o assunto.

    É um sinal de maturidade quando o Governo ajuda educar e fiscalizar e ser um catalisador para que as mudanças ocorram.

    Aparentemente lá fora tem perspectivas de altas de preço significativas pára a carne em 2005, e espera-se que, quando isto ocorrer, todos os componentes da cadeia de carne sejam beneficiados.

    Precisamos juntar as forças para que tenhamos acesso aos preços melhores pelos nossos produtos, este é o meu desejo para o Ano 2005.

    Um próspero ano novo para nós aqui no Brasil e no mundo,

  5. Angélica Simone Cravo Pereira disse:

    Miguel, Parabéns pela visão ampla desse artigo!

    O que domina grande parte da indústria de carnes é o preço.

    Porém, o período atual no cenário da pecuária brasileira é de mudanças, ou seja ” Novos Tempos”.

    A abertura do mercado brasileiro no processo de globalização da economia vêm trazendo a necessidade de competir com produtos de alta qualidade, que até então não faziam parte da realidade nacional. A busca por produtos de qualidade têm se tornado um dos fatores mais exigidos pelos consumidores. Para tanto, há necessidade cada vez maior de agregar valor ao produto final.

    Porém, o que é qualidade para o consumidor? Aspecto nutricional, higiênico sanitário, qualidade no atendimento, apectos sensoriais… E para a indústria de transformação? O rendimento é o requisito essencial.

    Por outro lado, para o produtor, a qualidade é o próprio sistema produtivo, mais eficiente, a fim de oferecer um produto diferenciado ao mercado, desde a seleção dos animais até os cuidados próximos do abate, que interferem de modo direto na qualidade da carne. Porém, a palavra final é sempre do consumidor. Ainda que grande porcentagem adquire o produto unicamente em razão do preço, deve-se questionar: O que o consumidor realmente deseja? Já que essas razões vêm se modificando…

    Para isso, disponibilizar produtos com valor agregado (conveniência, armazenamento, tamanho adequado da porção, produtos semiprontos, torna-se cada vez mais indispensável na atualidade.

    Além disso, a padronização dos processos e produtos e a utilização de ferramentas, tais como, rastreabilidade, ou ainda a implementação de sistemas como, certificação Eurepgap tornam-se estratégias a fim de umentar a confiança e credibilidade para com os consumidores. Dessa forma, certamente o produto final passa a ser diferenciado, com maior valor agregado, além de restaurar a transparência de mercados. Isso, claro, são opções! Cabe a cada fragmento da cadeia aderir ou não… O que interessa é: Quem ganha? Cabe a cada um de nós responder…

    Somente com o comprometimento de cada parcela dessa cadeia conseguiremos fazer nossa parte em acordar o “gigante adormecido” que é esse país tão rico, de gente batalhadora e honesta, de terra fértil e produtiva e de muito gado!!

    A você Miguel, a todos os colaboradores e leitores do BeefPoint, que 2005 venha com muita saúde, paz , garra e oportunidades de dias melhores…

    Um grande abraço,

  6. Mario Renck Real disse:

    Prezado Miguel,

    O teu artigo aborda de forma cristalina talvez um dos mais graves problemas da pecuária, que é a desorganização dos produtores. Os exemplos de associações de produtores, que temos conhecimento aqui no MS, têm demonstrado excelentes resultados técnicos (produtividade com qualidade) e razoável eficácia negocial com os frigoríficos.

    Devemos entender que o jogo é pesado.

    A capacidade de resposta dos produtores à solicitação da indústria frigorífica é surpreendentemente positiva, portanto torna-se cada vez mais confortável a decisão de compra por parte desses. O mercado funciona na velha lei da oferta e da procura, e de fato, estamos ainda aprendendo a lidar com a enorme capacidade produtiva das gramíneas tropicais gerando mais arrobas com custo reduzido.

    Há muita produtividade latente na pecuária do nosso país.

    Na outra ponta há também que ser registrada a existência de produtores arcaicos e irresponsáveis, que não fazem sua parte, especialmente na questão sanitária, vejam o exemplo triste e sério que nos ameaça (caso Paranhos-MS).

    Para estes temos que pedir aos fiscais competentes, o rigor da aplicação de forma total da legislação. Sem atenuantes. Não podemos nos permitir retroceder no quesito básico que é a Aftosa. A fronteira seca com o Paraguay, Bolívia etc… deveria ser motivo de segurança nacional, todos os dias e não apenas por soluços em ações pré-anunciadas na mídia.

    Este assunto do contrabando de gado, é recorrente e deveria ser motivo de debate no BeefPoint, ele pode por a perder muito do que foi feito por todos elos.

    É necessário, fiscalizar mais, com especificidade e intensidade, como já disse alguém não há espaço para bobos neste mercado… Os malandros têm que sair do setor, seja de elo da cadeia forem.

    No mais, desejo a ti e a todos os leitores do BeefPoint um Feliz 2005, com saúde e sucesso e comprometimento com suas causas pessoais e nossa causa coletiva, a da boa pecuária.

  7. Sergio Correa Pimenta disse:

    Miguel, um feliz 2005 para você e sua equipe. Parabéns, o ano de 2004 foi realmente especial para o BeefPoint, a mídia preferencial do setor para discussões e debates sobre os diferentes pontos de vista sobre a pecuária.

    Todas as nossas angústias sobre os rumos da pecuária irão resolvendo-se aos poucos a medida que os elos da cadeia sintam necessidade de aperfeiçoar seus relacionamentos. Provavelmente isto ocorrerá por atuação de forças externas uma vez que percebo tímidas as tentativas de novas formas de inteiração entre os agentes da cadeia da carne. Estas ações são sementes que podem vingar no futuro ou pelo menos abrir caminhos para novas idéias.

    Esta competição entre os agentes dentro da cadeia ficará cada vez mais difícil a medida que os recursos e mercados tornam-se mais escassos na competição com a soja, algodão, o frango…

    Em algum momento os componentes desta cadeia começarão a perceber que apesar de estarem sempre amarrados à discutir preços e distribuição de renda, a cadeia brasileira da carne compete com outras cadeias no mundo. E para estar sobrevivendo será necessário o estabelecimento de uma rede de relações robusta e criativa dentro do setor assim como uma forma de atuar sistêmica.

    Dentro de uma visão ecológica/sistêmica o desempenho do indivíduo está diretamente ligado a evolução do ecossistema ao qual ele pertence. Ainda estamos preocupados em competir para sobreviver, talvez sejamos forçados, agora a colaborar para crescer e desenvolver.

    Um grande abraço de todos seus amigos da Ecologia Aplicada.

  8. Enio Antonio Marques Pereira disse:

    As mudanças que vêm ocorrendo na organização dos mercados, fenômeno universal, são profundas e extremamente favoráveis para os detentores de vantagens competitivas. O Miguel traz em boa hora um conjunto de fatos que sinalizam alguns marcos dessas mudanças na área da pecuária de corte.

    O alargamento dos canais de comercialização para as utilidades do abate de bovinos é uma oportunidade real para milhares de produtores rurais e outros agentes econômicos que atuam no complexo da bovinocultura de corte. Com o compromisso assumido pelos países para a harmonização das políticas públicas começam a ruir as barreiras de proteção que induziram a produção a alto custo. Neste vácuo, no caso da pecuária de corte, o Brasil caminha para se transformar no cluster das utilidades do boi.

    Nos próximos anos assistiremos o desembarque no Brasil de investidores e agentes estrangeiros que, além de recursos financeiros, trarão métodos de gestão e garantia de acesso a mercados, certamente, os bens de maior valor estratégico na atual conjuntura.

    Nesse novo cenário poderemos visualizar agentes que participarão da oportunidade dos canais ampliados e agentes que continuarão atuando nos canais tradicionais de alcance cada vez menor. É importante assinalar que os consumidores das cidades grandes e médias serão assistidos pelos canais de comercialização ampliados.

    Os direitos difusos (meio ambiente, relações de consumo, avaliação da conformidade, relações de trabalho, entre outros) constituem os novos marcos que demoraram a alcançar a agropecuária. Hoje são partes legítimas das relações de negócios que trazem segurança jurídica e confiança aos produtos “made in Brazil”.

    Está chegando a hora de decidir sobre o posicionamento futuro do seu negócio. São duas opções: o canal de comercialização ampliado ou o canal local. Como bem coloca o Miguel “do envolvimento para o comprometimento”. A escolha é sua.

  9. Marcia Dutra de Barcellos disse:

    Prezado Miguel!

    Em primeiro lugar gostaria de parabenizar o BeefPoint, o melhor espaço da Web para assuntos pecuários, sem dúvida alguma. Com relação ao teu artigo, impressiona a clareza com que apresentas os fatos.

    Sem dúvida 2004 foi um ano excepcional, no qual as exportações impactaram de forma decisiva no resultado, porém é verdade que muitos produtores não foram incluídos nesta partilha. Além do grande aumento no poder das indústrias, a maioria dos produtores segue comprando e negociando insumos e animais para venda de maneira isolada, sem fazer parte de qualquer grupo.

    Na prática, isso significa que muitos produtores ainda produzem aquilo que desejam, que não necessariamente é aquilo que o mercado quer (e valoriza).

    E podemos simplesmente entender “mercado” como o frigorífico que compra o boi do pecuarista, sem nem precisar avançar nas questões dos consumidores. Assim, se o produtor não estiver ciente de qual é o animal melhor remunerado pela indústria, aquilo que ele está produzindo e entregando pode não ser a melhor opção de negócio.

    Nesse sentido, a participação em grupos ou movimentos associativos é a melhor alternativa. Através desses movimentos, são estabelecidos critérios produtivos, visando o controle sobre padrão, volume e constância nos abates, reduzindo os gargalos da produção individual. Isso melhora as chances de negociação com os frigoríficos, que relamente têm interesse em uma matéria-prima diferenciada.

    Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, o Programa Carne Angus Certificada, uma parceria da Associação Brasileira de Angus e do Frigorífico Mercosul Ltda. desde janeiro de 2003, conseguiu pela primeira vez na história a remuneração diferenciada (R$0,05kg/carcaça ou 1,5%) para animais da raça Angus, padrão Exportação, desde que estejam com a sua previsão de abate planilhada pelas regras do Programa e que sejam classificados no momento abate pelo responsável técnico da Associação.

    Esta bonificação, que chegou quase dois anos depois do início do Programa, só foi concedida pois os produtores mostraram competência e comprometimento. E também é o reconhecimento da indústria e do mercado por um produto diferenciado, mas que precisa de organização para ser produzido.

    Acreditamos em negociação e em relacionamentos de longo prazo entre grupos de produtores e indústria, como uma das formas mais eficientes de transformação e evolução da comercialização.

    E ao meu ver, este é um ponto fundamental. Os resultados no campo têm mostrado que investimentos elevados em tecnologia na produção pecuária, se não acompanhados de bons resultados na comercialização, implicam em prejuízo para o produtor.

    Por isso, tendo em vista o ambiente altamente tecnificado e qualificado em que vivemos, novas formas de comercialização são extremamente necessárias.

    Na mesma linha, pode-se falar sobre os protocolos de certificação. Por si só, não garantem mais lucratividade. Para muitas fazendas, provavelmente, significam mais investimentos. Mas acima de tudo, garantem mais planejamento, controle e acompanhamento, atividades imprescindíveis nos dias de hoje em qualquer empreendimento do agronegócio.

    Somente quando equalizarmos as forças, é que teremos condições de barganhar melhores condições para o nosso produto.

    Não podemos esquecer também dos 3 P’s: People, Planet, Profit. Valorizar a ética, o ser humano, o meio-ambiente, o bem-estar animal e práticas de manejo mais racionais, por exemplo, não apenas são necessidades do “mercado”, mas devem ser valores a permear a nossa vida e conduta, e que certamente contribuirão com a melhoria e qualificação das nossas atividades.

    Por fim, cabe comentar que devemos estar sempre atentos às necessidades e desejos dos consumidores, molas propulsoras no nosso negócio. Compreender seu comportamento de compra e consumo é fundamental para que possamos atender às suas demandas de carne bovina. Marketing da carne bovina é uma atribuição de todos. Precisamos fazer a nossa parte.

    Desejo a todos um 2005 de muito sucesso e realizações, com a certeza que estamos no rumo certo.

    Um grande abraço

    Marcia Dutra de Barcellos
    Pecuarista e Médica Veterinária
    Diretora do Programa Carne Angus Certificada
    Doutoranda em Agronegócios do Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios (CEPAN) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
    Pesquisadora em Marketing e Comportamento do Consumidor

  10. Juliana da Fonseca Guimaraes disse:

    Primeiramente, a equipe Gilgal, gostaria de parabenizar toda equipe do BeefPoint pelo trabalho desenvolvido.

    O início do ano é sempre bom para fazermos um balanço dos últimos acontecimentos e para planejarmos o próximo ano. Sem dúvidas 2004 foi um ano significativo para o mercado agropecuário brasileiro, principalmente para a pecuária de corte. E, como foi muito bem colocado neste artigo, assim como o mercado se altera, produtores e pecuaristas devem perceber e compreender estas mudanças.

    Para garantir o lugar do Brasil no mercado de carnes é preciso que todos os níveis da cadeia de carne tenham claro as vantagens de investimentos na garantia e qualidade de seus rebanhos e processos.

    Esperamos que 2005 seja um ano decisivo para a agropecuária brasileira.

    Juliana da Fonseca Guimaraes
    Assessoria de imprensa Gilgal

  11. Luiz Alberto Fries disse:

    Meus parabéns pelo artigo, Miguel!

    O problema está muito bem definido: “Mais desafiador do que gerar valor será distribuir esse valor criado entre cada elo. O desafio de repartir o valor baseado no que cada elo criou com seu trabalho.”

    Infelizmente a história recente só nos permite prever um canibalismo entre os elos.

    Entendo que romper este ciclo precisaríamos de um inimigo comum (como no evento do Canadá-EEB) ou de um projeto comum (algo como sugerido numa reunião recente da Conexão Delta G: montar, operar e abastecer uma rede de churrascarias na China).

    Forte abraço e siga na luta!

  12. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Caro Miguel:

    Por motivo de férias de fim de ano, somente agora tomei conhecimento de seu oportuno editorial sobre nossa pecuária de corte em 2004. Uma ótima analise que nos leva a pensar no futuro com base no passado.

    A meu ver, o grande acontecimento do último ano foi o aumento da oferta decorrente principalmente da melhor técnica de produção. Fomos capazes de atender os mercados interno e externo, ainda com folga que estabilizou os preços, tornando-os até certo ponto insatisfatórios.

    Os pecuaristas estão de parabéns pelo volume de carcaças oferecidas, proporcionado pelo aumento da produção de forragens nos pastos a céu aberto. Já que o aumento da área foi limitado, vale ressaltar o sucesso da adubação no verão e o aproveitamento na seca das restevas das plantações de soja e de milho, por vezes enriquecidas com braquiárias.

    Estão de parabéns mais uma vez pelo fato desse aumento de forragem ter sido bem aproveitado pelo melhoramento genético do Nelore que representa entre 80 e 90 % do abate. Afinal, o boi não passa de um transformador de forragem em carne!

    É certo que a procura externa resultou em parte do efeito “vaca louca”, que criou a preferência pelo boi do verde capim ao natural. Essa preferência, por sua vez, levou os consumidores a se acostumarem com a carne enxuta (lean) que sabemos produzir. Aprenderam que a carne de gordura destacável pode ser saborosa e suculenta e de textura aceitável. Talvez melhor que o produto marmorizado de graxa entreverada de ingestão forçada, se considerarmos o fator colesterol.

    Como você bem disse, temos que estender as congratulações aos frigoríficos que se aparelharam tanto em instalações como em equipe de venda e se tornaram capazes de atender com sucesso o crescimento dos dois mercados: interno e externo.

    Face à dispersão das propriedades rurais e às variações ecológicas do país, não creio que venhamos a ter o que você chama de “controle estratégico do negócio”. Os pecuaristas poderão, sim, evitar os piques de oferta na iminência de falta de pasto e na emergência dos atoleiros dos currais de alimentação. Sistematizando a produção, resta a eles se unirem aos abatedores no empenho de assegurar e de aumentar os mercados, mantendo o padrão da qualidade que sabemos e podemos produzir.

    Esse o grande desafio para poder enfrentar o retorno da oferta de carne marmorizada quando a síndrome da vaca louca se atenuar. Será certamente um produto de preço mais elevado que o nosso, porém, protegido por tarifas e arranjos de toda a sorte. Então, na hora do “pega p’ra capar” temos que oferecer uma “commodity” padronizada e confiável, vinculada à imagem do natural, do verde e do saudável, a que os consumidores já se acostumaram. Felizmente!

    Temos que assegurar esse padrão como decorrente das condições naturais do país e não como conseqüente de fiscalizações e certificados (Eurepgap ou outro) que acabam se tornando armas de discriminação comercial e que sempre se conjugam à imagem do “risco de má qualidade”. Essa a imagem criada pelo maldito SISBOV, aliado à idéia de que “sem brinco pode não ser bom”.

    No empenho pelo padrão e pela qualidade entra nosso MAPA para exigir o descarte dos bois doentes nos currais de pré-abate e para fiscalizar uma classificação confiável que venha a evitar a compra de “gato por lebre”. Terá a cooperação delatória dos criadores.

    Certamente continuaremos aperfeiçoando a produção. Resta redobrar o esforço para um bom mercadejo. Se não, pode sobrar boi!

    Grande abraço, com votos para que o BeefPoint continue, sob sua “batuta”, prestando os bons serviços à pecuária, como vem fazendo.

  13. Roberto R.Barcellos disse:

    Em função da grande diversidade de regiões, clima, sistemas de produção, pastagens, alimentos, raças, objetivos, idéias, filosofia, vaidades, etc, vivemos esta situação.

    Temos que nos agregar buscando pontos em comum, visando objetivos comuns, só assim teremos condições de sairmos desta situação desequilibrada com o setor frigorífico.

    Na minha opinião, cabem as associações diversas, buscar seu nicho de mercado de venda de carne (mercado interno e externo), se não tiver capacidade, contrate profissionais para definir o sistema de produção para obter as características exigidas internacionalmente, buscar contratos de fornecimento obedecendo a um padrão, volume estabelecido e constância no fornecimento, identificar um parceiro frigorífico e proponha um equilibrio na negociação, onde de um lado há o fornecimento da matéria prima e de outro o mercado dsiposto a comprar o produto.

    Estão se perguntando que país é esse? Parece loucura? Mas é perfeitamente possível e já existe no Brasil de uma forma ainda micro, mas é um estímulo para nos profissionais atuantes na pecuária de corte.

    Veremos este momento chegar!

  14. Luiz Orione Fernandes Júnior disse:

    Bom Dia Miguel!

    A respeito do seu artigo muito bem escrito e publicado no site, sinto que devo deixar registrado um ponto de vista que ainda continua sendo uma realidade no Brasil: Estamos caminhando um tanto em via de mão-única.

    O porque desta afirmação, é que vejo que por mais que novas e eficientes tecnologias sejam inventadas, o acesso às mesmas é muito baixo pelos médios e pequenos produtores de carne.

    Nasci e cresci em uma família pecuarista, onde na soma, os meus 2 avôs têem 2.000 cabeças de nelore. Sei que é pouco em comparação a grandes pecuaristas, mas o caso é que grandes pecuaristas não são tantos.

    Compartilho o mesmo entusiasmo seu em relação às melhorias no setor, às exportações, ao marketing… Mas vejo que no fundo, a gama de seviços que impulsina a pecuária e que a transforma em uma indústria rural de produzir carne viva, ainda é luxo de um seleto grupo de pecuaristas.

    Sei que é uma tendência natural de mercado essa seletividade e exclusividade, visto que a mesma tecnologia custa caro e claro, a indústria detentora dos royalties quer lucrar também.

    Pois bem, chegamos em um embate: defendo a tecnologia mas não a vejo sendo utilizada em sua plenitude. E agora?

    Agora amigo, deveria entrar “com tudo” o governo federal. Ele sim é o responsável por alavancar as atividades econômicas no país; mas não como em regime socialista, bancando todo o processo.

    O governo precisa é nos defender nas alfândegas, destruir o protencionismo, quebrar barreiras para nós pecuaristas, fazer novas estradas e evitar os juros, verdadeiros baldes de água fria. Devemos lembrar sempre: nós vivemos economia, o governo faz política… a nosso favor.

    O dia em que o governo nos defender politicamente, vamos ter o “sócio” que faltava para crescermos economicamente e popularizar a tecnologia, aí sim exportaremos todos, lucraremos todos e vamos ter a pecuária mais forte que já existiu neste mundo.

  15. Alexandre Foroni disse:

    Miguel,

    Feliz 2005 para toda a equipe AgriPoint. Parabéns pelo artigo, muito esclarecedor e verdadeiro.

    Nós, produtores precisamos apreender a dar as mãos para o do lado e não ficar olhando somente para o próprio umbigo, somente assim teremos força para a negociação.

    A iniciatica da Cooperocarne e um exemplo dessa união que já esta se tornando realidade.

    Abraços

    Alexandre Foroni
    Produtor / Consultor
    Sócio e um dos idealizadores da COOPEROCARNE

  16. Roberto Soares Janeiro Filho disse:

    Miguel, primeiramente gostaria de desejar um excelente 2005 a toda equipe BeefPoint e agradece-los pela colaboração à cadeia bovina brasileira.

    Realmente é fundamental que os pecuaristas, indústrias e políticos se conscientizem da necessidade de profissionalismo da cadeia carne no Brasil.

    Apesar de estarmos no patamar mais alto na exportação mundial, existem conceitos que devemos desenvolver e torná-los elementares a todo o processo produtivo, a fim de fazer, como você mesmo disse… “um mundo melhor”.

    Abraço

  17. Paulo Cesar Bastos disse:

    Prezado Miguel

    Parabens por seu editorial e à equipe do BeefPoint pela colaboração que presta à pecuária brasileira ao ser o grande fórum de debates e opiniões para o crescimento desse importante e imprescindível setor para o desenvolvimento do Brasil.

    O maior problema da atualidade brasileira é a falta de emprego e o preocupante aumento da informalidade.

    Só existem dois setores que podem gerar empregos de forma mais rápida e com menor custo , a construção e o agronegócio. No dia em que isso for compreendido nosso País terá um crescimento sustentável.

    Quanto ao agronegócio da carne bovina, nós temos tido um excelente desempenho e profissionalização no manejo, na genética, no controle sanitário, porém nos falta uma melhor profissionalização comercial, principalmente aqui na Bahia.

    Precisamos exportar, mas também precisamos uma modernização industrial que nos permita agregar valor ao produto carne, transformando nossos matadouros-frigoríficos, já com SIF, em verdadeiras indústrias, vide o nosso artigo O AGRONEGÓCIO DA CARNE NA BAHIA: UMA VISÃO DE PRODUTOR, disponível na seção Espaço Aberto do BeefPoint.

    Esperamos que no ano de 2005, produtores, frigoríficos, entidades de fomento e crédito, comércio, governantes, parlamentares, consumidores, enfim toda a cadeia entendam a melhor maneira de se obter uma remuneração mais justa para o produtor sem onerar e afugentar o consumidor.

  18. Ilonka Eijsink disse:

    Parabens Miguel e equipe pelo grandioso trabalho que voces vem desenvolvendo e pela grande contribuição na cadeia da carne bovina.

    Achei o seu artigo muito interessante e para completar, eu acrescentaria um exemplo de profissionalização do setor produtivo, que se trata do Qualex, um programa de implantação de sistemas de qualidade, de iniciativa da Agropecuaria Jacarezinho. Este programa envolve conceitos como o da segurança alimentar, meio ambiente, bem estar animal e outros,e melhor, trata-se de um programa brasileiro, adequado a nossa realidade.

    Por esta e por outras razões já citadas no seu artigo acredito que 2004 tenha sido um ano de profissionalização de nossa cadeia, mas 2005 está aí e temos a muito a fazer ainda, especialmente no que diz respeito a sanidade animal, uma questao fundamental para a sobrevivência do setor cárneo brasileiro em geral.

    Mas acredito estarmos no caminho certo!

    Um Feliz 2005 a todos!!

    Ilonka Eijsink
    Centragel Brasil

  19. Andréa Veríssimo Lopes de Almeida disse:

    Caro Miguel e equipe BeefPoint e MilkPoint

    Parabéns pelo excelente artigo e a clareza de idéias que expões. Aliando conhecimento prático e teórico, estás cada vez mais brilhante em análises de nossa cadeia produtiva da carne, que está em ampla evolução.

    Gostei muito de teus comentários, e concordo com a complexidade que expusestes no relacionamento entre pecuaristas (produtores de carne, responsáveis pela “montagem” do boi) e a indústria frigorífica, que por sua vez cuida da “desmontagem” e comercialização.

    Felizmente começamos a ver ótimas iniciativas de profissionalização em ambos elos e também grande esforço no sentido de melhorar o relacionamento da cadeia. Seguramente é um esforço de longo prazo, mas creio firmemente que o melhor conhecimento das complexidades de cada um, entre vários outros fatores, melhorará este relacionamento.

    Como mesmo citastes no artigo, a participação da carne brasileira na Sial 2004, dentro do Programa Internacional de Promoção da Carne Brasileira, o Brazilian Beef, apoiado pela Apex-Brasil (Agência de Promoção de Exportações do governo brasileiro) teve grande impacto. Temos participado de vários eventos no exterior, visando divulgar as qualidades e características especiais da carne brasileira.

    O objetivo do marketing da carne brasileira é seguramente agregar valor ao nosso produto, através da melhor percepção e valorização, por parte dos consumidores mundiais. Este é um esforço de longo prazo, mas que também demanda profissionalização e padronização da carne produzida e exportada. De nada adianta gerar altas expectativas sobre um produto se ele não atender às mesmas e decepcionar o consumidor.

    Os agentes de todos os elos precisam comprender que fazem parte de um sistema maior, e que cada um é muito importante na composição deste produto final que será gerado. O frigorífico não tem a capacidade de criar mais qualidade na carne, ele no mínimo podera manter a qualidade que já veio desde o pecuarista.

    Tenho muita confiança na continuidade da evolução de nossa pecuária, me incluindo na categoria dos otimistas e idealistas! Vamos consolidar nossa posição de maiores exportadores do mundo, e creio firmemente que em alguns anos (pois isto sempre demanda tempo e muito trabalho) o reconhecimento da alta qualidade e características especiais da carne brasileira será unanimidade.

    Miguel, seguramente teu artigo foi inspirador para todos que te escreveram para comentar… Parabéns novamente.

    Um grande abraço e ótimo ano novo para todos nós.

    Andréa Veríssimo
    Médica Veterinária
    Mestre em Farm Management pela Lincoln University
    Gerente de Marketing da Abiec
    Coordenadora do Brazilian Beef

  20. Paulo César Colla disse:

    Caro Miguel,

    Parabéns pelo artigo, como de costume sua abordagem é muito racional e verdadeira.

    Iniciamos 2005 com uma notícia muito positiva que foi o resultado negativo para os animais suspeitos de Aftosa no MS (Paranhos), porém isso demonstra claramente que a consciência da Qualidade Sanitária de nosso rebanho é fundamental para o Brasil efetivamente alcançar um status de igualdade com nossos maiores competidores no mercado global de carnes. Como voce comentou citando Michael Porter a força do poder de negociação dos fornecedores é dissipada pela tão conhecida falta de união da classe dos pecuaristas perdendo totalmente seu poder, pois os principais frigoríficos exportadores são concentrados e sabem muito bem operar suas margens de contribuição. Cabe ao produtor o elo mais fraco dessa cadeia e segundo o próprio Porter lançar mão de estratégias competitivas que são: 1. Liderança no custo Total; 2. Diferenciação e 3. Enfoque. No item 1 o pecuarista irá buscar a máxima eficiência operacional (produção e produtividade) é o que a grande maioria tenta fazer mas é preciso escala. Diferenciação, basicamente é diferenciar o produto agregando a ele marca (algumas cartas comentam essa tentativa) e vemos no Brasil algumas griffes tendo sucesso por trazer padronização e qualidade aos seus cortes. 3. Enfoque, é uma estratégia de alvo onde se trabalhará em nichos atendendo as necessidades mais específicas dos clientes (cortes inovadores, marmoreio da carne, atendendo restaurantes e churrascarias, etc..) é foco mesmo.

    Isto posto cabe ao pecuarista optar, pois o mesmo Porter alerta uma vez escolhida a estratégia dentre as 3 opções somente implemente uma.

    De fato a lição de aprendizado nesses anos recentes, faz com que tenhamos um grande e único objetivo, como representantes da indústria de insumos veterinários, auxiliar o pecuarista nesse desafio de obter sucesso em uma cadeia tão complexa e que por vezes ele se sente abandonado. Devemos sim dar maior visibilidade do belo processo produtivo da carne bovina, seja ele a pasto ou confinado, zebu, europeu ou cruz. industrial trabalhando as ferramentas do marketing (preço, produto, distribuição e promoção) conforme as exigências mercadológicas tanto para o mercado interno quanto para o mercado externo com um único objetivo agregar valor de forma conciente e não empiríca como muitos ainda acreditam.

    Paulo César Colla
    Ger. de Contas Especiais-Pecuaristas
    Merial Saúde Animal Ltda

  21. Gabriel Corral Jacintho disse:

    Prezado Miguel,

    Aprecio muito suas colocações sobre o futuro da atividade de pecuária de corte, com a convicção de que a preocupação comm redução de custos e eficiência de produção não basta para a melhorar a remuneração do pecuarista.

    É preciso se organizar para não quebrar!

    Um grande abraço a você e a toda a equipe do BeefPoint, também desejando que 2005 seja um ano de grandes realizações e conquistas!

  22. Walter José Verdi disse:

    Grande Miguel !

    Parabéns pela elaborada análise, e de linguagem muito clara no que se refere ao setor da carne e seus perenes problemas.

    A atividade pecuária, num todo hoje, está anos atrás de outros setores produtivos do Agronegócio, onde praticamos os mesmos erros que já foram abortados, por outros setores como a Agricultura de grãos, de borracha ( atividade que independe de exportações), e canavieira por exemplo. O famoso “jeitinho brasileiro” ainda está presente no setor, independente da boa vontade e estrutura de poucos profissionais em ambos os lados da cadeia, no caso produtores e frigoríficos. Os outros companheiros que já comentaram o seu brilhante artigo, já relataram de forma muito bem explícita, as defasagens e os entraves que tornam frágeis as relações comerciais, do mercado de carnes. Temos um produto reconhecidamente de boa qualidade, mas que não desfruta de relações amparadas em sustentabilidade comercial, e portanto de alta vulnerabilidade ao quesito gestor do mercado, que são as leis da oferta e da procura.

    É o caminho mais correto, e portanto o mais curto, o diálogo e o levantamento destas questões em debates, (e neste ponto o BeefPoint hoje é uma das maiores referências), e as ações efetivas proporcionadas através de alianças mercadológicas, onde os envolvidos se tratam como parceiros comerciais, e não exploradores deste frágil mercado, em que se levarmos em consideração os números envolvidos, é um gigante adormecido.

    Um grande abraço e, estaremos juntos em 2005, 6 , 7 ….

    Walter José Verdi

  23. Diretoria ABCP disse:

    Por enquanto os benefícios dessa ascensão do Brasil ao mercado exportador de carne tem sido para poucos.

    Não devemos nos iludir e achar que o grupo que monopoliza esse mercado, dentro de toda cadeia produtiva, vai se sensibilizar e abrir mão dos lucros.

    O próprio mercado vai buscar o seu o seu equilíbrio e o cliente, aquele que efetivamente paga a conta, vai exigir dentro de suas expectativas de consumo, níveis de qualidade de produto e preço.É uma questão de tempo!

    Sem dúvida alguma, temos hoje no Brasil, condições de produzir a carne que tanto o Europeu quanto o Asiático e o Americano desejam.

    O frigorífico esta no papel dele, procura a melhor condição para comprar, e para isso desestimula o produtor, com preços e condições de comercialização cada vez mais escorchantes. E na venda, aproveita o momento de alguns países que sofreram com problemas da “vaca louca” e Aftosa para “empurrar” um produto que efetivamente não tem sustentação.

    Sustentabilidade, essa é a palavra, esse modelo que esta aí não tem sustentabilidade, isso está claro, infelizmente para poucos neste momento.

    O produtor, na minha opinião, deve continuar na profissionalização e especialização, porque o que esta aí hoje, com certeza não será o futuro.

  24. Rosalu Ferraz Fladt Queiroz disse:

    Parabéns Miguel,

    Você sempre acerta nos seus comentários.

    Trabalho constantemente para agregar maior valor a propriedade e a cadeia da carne, mas precisamos que o nosso “sócio”, o governo nos ajude em algumas coisas com o controle sanitário, esta burocracia para se tirar um GTA, sem terra nas nossas vizinhanças, financiamento fechado pra investimento em pecuária e assim por diante…

  25. Lineu Gracia disse:

    Parabéns ao BeefPoint pelo fato de possuir no rol de seus colabores, pessoas da categoria do missivista do artigo em tela. Sucinto, claro, objetivo e verdadeiro.

    Parabéns também ao missivista pela clareza e bom senso com que enfocou o tema.

    Somos criadores na região do Paraiso-MS-, comarca de Costa Rica-MS-. Trabalhamos com gado nelore, com estação de monta, inseminação e monta natural usando touros PO de boa procedencia.

    Estamos, como relatou o missivista na fase de aprimoramento técnico-produtivo e, estamos iniciando a fase de aprimoramento comercial, como recomendado pelo autor.

  26. Antonio Carlos Lirani disse:

    Parabéns!

    O seu artigo é muito completo e abrangente. Aborda os temas com muita propriedade. Gostaria de comentar o parágrafo onde trata da eventual exclusão do pecuarista da “festa” de lucros na exportação. O pecuarista sempre foi excluído do cenário, pois não tinha condições de saber se a carne dos seus animais era exportada ou ficava no mercado local.

    A exigência da certificação e da rastreabilidade criou uma grande possibilidade da promoção da inclusão do pecuarista no contexto. Foi criado o SISBOV, infelizmente, com falhas conceituais graves. A ferramenta para a aplicação da certificação e da rastreabilidade, que deveria unir e promover a inclusão, criou ainda mais desunião na cadeia.

    Ao invés de serem combatidas as falhas na implementação, passaram a combater o próprio SISBOV. Isto precisa mudar. A CNA e o MAPA estão muito empenhados em corrigir as distorções e colocar o SISBOV no devido eixo.

    Cite-se o exemplo da voluntariedade de adesão ao SISBOV, que é a base fundamental para que o pecuarista seja incluído no processo. Muitas boas notícias ainda virão.

    Conclamo os pecuaristas a analisarem cuidadosamente o “novo SISBOV” que está despontando com as correções implantadas. Vamos apoiar e participar. O SISBOV é uma ferramenta de inclusão e de apoio ao produtor no mercado da carne.

    Vamos também ficar atentos para a chegada da nova ferramenta que consolidará esta inclusão: o SAPI – Sistema Agropecuário de Produção Integrada.

  27. Gerson Simão disse:

    Caro Miguel ,

    É isso mesmo, você tocou no ponto chave.

    Uso Porter como base nas aulas que dou de gestão na FAZU.

    Um abraço,

  28. José Luiz Martins Costa Kessler disse:

    PARABÉNS ENG. AGR. MIGUEL CAVALCANTI !

    É com grande entusiasmo que recebi seu texto. A exposição clara, a seqüência dos temas, a postura idônea e moderna, transformam seu artigo em um manual para reflexão e estudo para todos aqueles que estão envolvidos ou comprometidos com a produção da carne bovina.

    Após tomar conhecimento do seu texto, tive o impulso imediato de difundi-lo entre amigos e parceiros do Grupo Autônomo dos Produtores Rurais – Pelotas. Suas observações são compartilhadas por nosso grupo, que apesar de pouco tempo de existência, já envolve grande número de produtores do extremo sul do Brasil e já percebeu a mudança no cenário de nossa atividade. Após algumas reuniões para análise chegamos a conclusão da necessidade de organização dos produtores e da imperativa urgência de entendermos o que acontece além das porteiras.

    Desejo-te um 2005 de muito sucesso e muitas realizações e aproveito para estendê-lo a toda equipe do beefpoint.

    Atenciosamente,

    Eng. Agr. José Luiz Martins Costa Kessler
    Produtor e Consultor Rural – Pelotas/RS

  29. Ricardo Cotta disse:

    Caro Miguel,

    Parabenizo-o pelo ótimo artigo, destacando pontos fundamentais para a melhor coordenação da tão fragmentada cadeia da pecuária de corte no Brasil.

    Acho apenas que você esqueceu de citar como ponto fundamental a classificação de carcaça no contexto. Acredito piamente que sem esta, continuaremos com as assimetrias de inforções que tanto prejudicam o elo mais fraco, os produtores. Somente incentivando financeiramente com metodologia transparente aqueles que produzem bens de melhor qualidade, conseguiremos impulsionar o setor com sustentabilidade.

    Abraços e continue com este belo trabalho para 2005.

  30. Antonio do Nascimento Rosa disse:

    Está aí, caro Miguel, uma das razões do sucesso do BeefPoint: 34 mil leitores, mais de 40 países: uma abordagem ampla de um tema complexo feita com tanto gabarito. Parabéns, meu caro! A você e toda a sua equipe.

    Do lado de dentro da fazenda, realmente, a luz dos cinco pontos de Porter aos quais você se referiu, a “coisa tá preta” no nosso linguajar de campo. Aqueles produtores que fornecem produtos de melhor qualidade agora, muito recentemente, é que começam a receber algum retorno em termos de diferencial de preço. Muito pouco, ainda. Redução de custos… quase nada se pode fazer… estamos no fundo do poço: as barganhas com os setores de insumos não são favoráveis ao produtor.

    Do outro lado, analisando o comprador: toda a conjuntura os favorece: menos concorrentes entre si e maior força de bargança nas negociações (recebem dolar pagam reais, recebem a mercadoria e pagam a prazo, entre outras coisas…)

    De fato, portanto, somando ao seu chamado “do envolvimento para o comprometimento” creio que três frentes poderiam ser trabalhadas ou pelo menos percebidos (os níveis de dificuldade obedecem a ordem): 1. melhoria das organizações, por parte dos produtores; 2. melhoria do poder de compra dos consumidores (aumento de renda) para se aumentar a demanda; 3. mais opções de indústrias no mercado.

    Parabéns, Miguel! Grande abraço, firmes pra 2005! Parados é que não podemos ficar.

    Antonio do Nascimento Rosa
    Pesquisador
    Embrapa Gado de Corte – Campo Grande MS

  31. juliano franco de souza disse:

    Belo artigo.

    Acredito em uma saída a situação que o mercado vem impondo aos produtores de carne, saída esta que envolve o cooperativismo da classe, criando entre os produtores uma união maior, ou seja, força maior, é simples, hoje existem 5 frigoríficos que mandam no comércio e que estão muito bem representados pelo nosso excelente ex-ministro, a balança deles é muito positiva, obviamente, exportam, compram barato e vendem caro, alguns até já se preparam com mega confinamentos aos pequenos boicotes.

    Os frigoríficos são unidos, bem administrados, muito bem representados dentro e fora do país. Ótimo exemplo de competência.

    Os pecuaristas são desorganizados, não são unidos e as vezes ainda competem entre si, ou seja, presa fácil aos unidos que compram.

    A solução é a organização do setor pecuário, fornecedores unidos serão produtores grandes e têm todas as vantagens e facilidades em fazer novos frigoríficos para escoamento do seu principal produto, onde ele será o vendedor e comprador final.

    Para isso há necessidade de união da classe, da mesma forma os pequenos, quando se unem em grande número se tornam grandes, conseguem financiamentos, conseguem escoar seus produtos por mãos próprias. O cooperativismo.

    O produtor grande ou pequeno deve ter em mente que todos são peças fundamentais dentro do processo de produção e que na cadeia da carne quem faz o preço hoje são os 5 frigoríficos, mas com união do pecuarista, amanhã, a carne poderá ter preço bem mais justo, para quem produz.

    Resta lembrar que o preço da carne é feito, pelos frigoríficos, amanhã, com união, pode estar sendo feito pelos pecuaristas, mas nunca foi feito pelo mercado externo, este é apenas um belo pretexto de justificativa da situação real do preço da nossa carne.

    Juliano Franco de Souza
    Mestre em Reprodução Animal

  32. Janete Zerwes disse:

    Caro Miguel,

    Faço parte da Comissão de Produtoras Rurais da Federação de Agricultura do Mato Grosso – FAMATO, ocupando a Coordenação de Tecnologia desta Comissão, cabe a mim (como produtora e membro desta Coordenação) estar constantemente estudando novos conceitos tecnológicos aplicáveis tanto a agricultura como a pecuária.

    Lendo atentamente seu editorial, “Do envolvimento para o comprometimento”, percebo o quanto é oportuno o nosso projeto de agregar os produtores de carne, em torno da idéia de tecnificação da pecuária, visando a adoção de novos sistemas de gerenciamento, novas tecnologias, entendendo que o uso de novas tecnologias não implica necessariamente, na aquisição de implementos sofisticados, de última geração, mas em mudar procedimentos de manejo, de controle zootécnico, de controle financeiro, porque tecnologia é também conhecimento científico aplicado ao gerenciamento.

    A pecuária, como atividade econômica ligada diretamente à produção de alimentos, é dependente das variações de preços determinadas pelo mercado de “commodities”, das exigências do mercado final de consumo – padrões de qualidade, sabor, sanidade, etc… – e, não dispõe de outros mecanismos de eficiência financeira/produtiva, que a adoção de novos sistemas de gerenciamento – técnico, financeiro, administrativo – que permitam produzir com o menor custo e explorar novos nichos de mercado para seu produto.

    A proposta de criação de um projeto integrado, conjunto, para produção de carne, objetiva elaborar um protocolo que oriente o produtor, nos passos iniciais para modificar procedimentos gerenciais técnico /administrativos da atividade econômica pecuária, tendo como objetivo final a utilização de uma linguagem única e a padronização da qualidade do produto, carne, para que possamos em conjunto, em grupos regionais ou através de associações, chegarmos ao ponto de explorar novos nichos de mercado, praticar preços diferenciados, garantir constância de oferta, a meu ver, um dos fatores mais limitantes para a negociação de contratos de comercialização interna e/ou de exportação.

    Ainda estamos muito ligados a determinação de produção máxima de @/ha. Talvez o controle gerencial efetivo, nos faça mudar do conceito de produção máxima para o de lucratividade máxima, resultando em uma redução do rebanho nacional como um todo e uma consequente redução de oferta de carne, por que a carne de má qualidade compete com a de boa qualidade, puxando o preço para baixo.

    Vemos ainda pecuaristas produzindo carne com rebanho maior do que a capacidade real de suporte das pastagens, onerando o custo de produção com complementos alimentares emergenciais, desperdiçando potenciais genéticos de ganho de peso, questionando o valor da heterose sanguínea, quando não satisfaz completamente a necessidade alimentar dos animais.

  33. Eduardo Miori disse:

    Caro Miguel

    Sua correta avaliação das forças do mercado permitiu antecipar no final do ano passado a crise que enfrentamos agora.

    De todos os obstáculos que os produtores terão de enfrentar daqui em diante o mais difícil, na minha opinião, é a heterogeneidade da classe pecuarista.

    Por algum tempo pensou-se que a tecnologia seria suficiente para equalizar conceitos e dar consistência ao setor, mas é evidente que, nestes termos, frigoríficos, supermercados e exportadores estão muito à nossa frente.

    Assim, como você conclui em seu artigo, só a interação entre produtores pode reduzir nosso “gap” estratégico com os demais elos da cadeia.

    O BeefPoint é um fórum adequado para tal propósito e a paciência fundamental para nosso sucesso.

    Agradeço mais uma vez sua atenção e espero poder contribuir no futuro.

    Um abraço

    Eduardo Miori
    Maria Isabel Perez Miori
    Guaraçaí SP