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Do melhor para o pior

Uma queixa constante de boa parte dos pecuaristas é o preço dos insumos recomendados pelos técnicos. Com efeito, depois de más experiências, alguns produtores chegam mesmo a ter aversão aos agrônomos e suas recomendações.

Certa vez, me deparei com um pecuarista que me dizia ter comprado uma fazenda de cria, bem longe, para ver se ficava distante dos três “As”. Segundo ele: Agrônomo, Adubo e Arado.

Não tiro a parcela de razão do produtor, mas acredito que esta avaliação negativa, que ocorre não só com adubo, mas com outros insumos, é culpa do uso em situações inadequadas.

Um insumo considerado “caro” pode se tornar “barato” de acordo com o resultado obtido. Cabe ao bom técnico, além da recomendação, a utilização do mesmo no lugar mais adequado, para que o benefício supere o custo.

Porque isso não acontece?

Quando se pergunta a um empresário: Onde devem ser colocados os recursos? A resposta mais freqüente vai ser: Onde render mais!

Quando se trata de terra e, principalmente, na pecuária, por razões que nem Freud explica, até mesmo empresários bem sucedidos em outras áreas, tratam as partes de sua fazenda como se fossem filhos, que necessitam ter as mesmas condições. Tentam sempre “ajudar” o pior, colocando os recursos onde está ruim, acreditando que assim vão equilibrar a propriedade.

Pela desvalorização da profissão, e a necessidade de “manter” o patrão ou o cliente, nem sempre é fácil para boa parte dos profissionais, assumir a postura correta nesta situação. Vem à mente aquela famosa frase de marketing: “O cliente tem sempre razão” e por vezes, o técnico acaba compactuando na manutenção desse ciclo vicioso:

Insumos aplicados no pior lugar…
Resposta abaixo da expectativa…
Falta de recursos para as melhores áreas…
Melhores áreas tornam-se também ruins…
Frustração quanto ao uso de “tecnologia”…
Desvalorização do técnico…
Insumos mal aplicados… etc…

Como reverter esse quadro?

Na pecuária de corte, este ciclo é representado pela reforma contínua de pastagens. Raramente uma propriedade apresenta todos os pastos degradados. De modo geral, uma ou outra invernada apresenta-se em boas condições. Ao invés de reformar todo ano a pastagem pior, o que na maioria das vezes é feito sem correção de solo e sem adubo (gradeia-se e semeia-se um capim menos exigente) ou arrendando-se para “diminuir o custo”. O pecuarista precisa investir na boa pastagem. Fazer análise de terra, despraguejar, adubar, enfim, colocar os recursos no melhor pasto.

Como a resposta no que está bom, é maior, e mais rápida, ele terá condição de diminuir a lotação ou mesmo vedar totalmente o pior pasto, deixando que este “descanse”. Transferindo os animais para consumir a maior produção do melhor pasto, o capim pode crescer livremente naquele que está ruim. Se isso for feito de forma sistemática e bem planejada, anualmente haverá uma melhora de toda a propriedade. Os pastos ruins ficarão um pouco melhores e rapidamente, sairão da fila de reforma para a de simples limpeza.

Os insumos utilizados desta forma têm uma relação custo x benefício muito mais favorável, e a recomendação passa a ser extremamente valorizada.

Orientação com independência

A Via Verde Consultoria vem orientando seus clientes utilizando o conceito “do melhor para o pior” há vários anos, colhendo ótimos resultados. O pecuarista dos três “As”, por exemplo, é nosso cliente e atualmente se diz satisfeito por ter se livrado apenas do terceiro A (O Arado); Vem adubando seus melhores pastos e recuperando os piores gradativamente. A capacidade de suporte da fazenda aumenta todo ano sem que isto prejudique a perenidade das pastagens.

Informação é fundamental!

Além de utilizar corretamente os insumos, também ajuda comprá-los por preços melhores.

Neste sentido, publicações e sites que procuram manter o produtor informado do mercado são ferramentas indispensáveis. Fazer compras em conjunto, também pode ser uma boa saída quando se tem uma orientação comum.

Num desses domingos na televisão, um pequeno produtor gaúcho exprimiu bem o sentimento da classe: “Quando vou comprar algum produto eu pergunto: Quanto é?… Quando vou vender minha produção eu pergunto: Quanto pagam?… Eu sempre perco, um pouco na compra e um pouco na venda. Desse jeito não dá!”

Já que sempre escrevo dicas…

Se você é técnico, mantenha-se fiel aos seus princípios mesmo que isto coloque em cheque a sua atual posição.

Se você é pecuarista não deixe de procurar ajuda especializada para que seus recursos sejam bem utilizados. Solicite conhecer bons exemplos e certamente você fará uma grande economia de tempo e dinheiro.

Produtores e técnicos precisam ser parceiros e manter uma relação de confiança para que juntos busquem a valorização da atividade e a melhora da qualidade de vida de todos que trabalham ligados ao campo.

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