Dois grandes frigoríficos exportadores do Mato Grosso do Sul, o Independência, em Anastácio, e o antigo Matel, em Campo Grande, que abatem juntos cerca de 900 cabeças de bovinos/dia, vão paralisar temporariamente as atividades a partir de hoje, dando férias coletivas para 990 funcionários, informou ontem (22) o diretor do grupo, Antônio Russo Neto.
Outras duas indústrias, o Friboi, que estava abatendo 800 cabeças de gado apenas três vezes por semana na Capital, reduzirá sua escala de abate para 500 unidades a partir de segunda-feira (26) em duas operações semanais. A queda na pauta também será adotada pelo Frigorífico Bertin, em Naviraí, que tem mil funcionários e vai baixar os abates de mil para 500 cabeças/dia, trabalhando apenas na segunda e na sexta-feira.
Os motivos, segundo Russo Neto, são a oscilação do dólar, que está trazendo nervosismo ao mercado de carnes internacional, e a indefinição sobre os rumos da política no País, com a proximidade das eleições.
Ele lembra que os contratos de exportação são fechados para 40 dias e, apesar do dólar estar em alta (fechou ontem a R$ 3,17), a perspectiva é que os valores da moeda americana estejam entre R$ 2,85 a R$ 2,90 para exportação na data de vencimento. As cotações são consideradas baixas pelos exportadores que, para conseguir manter as indústrias funcionando, estão tendo que pagar de R$ 48 até R$ 50 pela arroba bovina no Estado, num cenário de oferta reduzida de gado.
Sem negócios
O sobe-e-desce do dólar provocou, inclusive, a suspensão de contratos de compra por parte dos exportadores de Mato Grosso do Sul. O Frigorífico de Anastácio, por exemplo, que estava prestes a firmar contrato de venda de mais de cinco mil toneladas de carne bovina para o Irã, suspendeu temporariamente o contrato. “A conjuntura econômica e política do País está fazendo com que o mercado exportador se sinta inseguro”, frisou, lembrando que a expectativa é que a arroba do boi chegasse a R$ 45 e hoje está em R$ 48. “O boi este ano já ultrapassou a meta de preços”, destacou.
Russo diz que o procedimento de paralisar as atividades ou reduzir escalas está sendo adotado pelos cinco frigoríficos exportadores do Estado, que juntos abatem cerca de cinco mil bois/dia.
Defesa
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Kenneth Coelho, com a paralisação os frigoríficos estão se defendendo da alta no preço do boi. “Eles deprimiram os preços e estão ganhando muito dinheiro com exportação. Mas como a pecuária está entrando no final da seca, existe a oscilação do dólar e ainda a instabilidade política, o boi, que é um ativo real, está se valorizando. A oferta está pequena e temos condições de segurar o gado no pasto, já que ainda há possibilidade de o preço subir ainda mais. Já a indústria está em situação mais complicada”, destacou.
Kenneth não teme, no entanto, problemas com a paralisação das indústrias. No atual cenário, os produtores estão trabalhando com cautela. “O produtor só mata hoje o que precisa”, disse.
Três Lagoas
Frigoríficos paulistas seguraram expectativas de alta, recusando-se a pagar a mais pela arroba, como o mercado de Três Lagoas vinha pressionando no início da semana. Desta forma, os estabelecimentos contiveram a elevação dos preços e o mercado de boi gordo estabilizou-se no município, depois de dias tensos.
Indústrias de carne paulistas retomaram as atividades de compra normalmente, após a breve interrupção na tarde de terça-feira. Na ocasião, as indústrias estavam se recusando a pagar mais do que R$ 50 pelo boi e R$ 43 pela vaca. Os valores mantiveram-se e as escalas de abate seguem, inclusive, para a próxima semana.
Um dos maiores frigoríficos voltados para a exportação, o Frigotel, de Três Lagoas, informou que jamais deixou de comprar ou mesmo paralisar suas atividades. De acordo com a direção do estabelecimento, são falsos os rumores de que teria deixado de comprar gado por valor acima de R$ 50.
A diretoria do Frigotel esclareceu que a oferta de bois está reduzida, como é comum nesta época de entressafra. Porém, as perspectivas estão dentro do esperado, inclusive com relação aos preços praticados no mercado. O frigorífico mantém os valores praticados na praça, com tendência a se manter em baixa.
Fonte: Correio do Estado/MS (por Rosana Siqueira e Messias de Queiroz), adaptado por Equipe BeefPoint