O dólar caiu ontem ao menor patamar em 16 meses, depois que operadores interpretaram comentários de uma série de bancos centrais como um sinal verde para eles continuarem se desfazendo da moeda.
O dólar caiu ontem ao menor patamar em 16 meses, depois que operadores interpretaram comentários de uma série de bancos centrais como um sinal verde para eles continuarem se desfazendo da moeda e usá-la como um instrumento de financiamento na compra de outros ativos. Muitos participantes do mercado acreditam que essas operações, chamadas de “carry-trade”, são o principal motivo da queda que a moeda americana vem registrando há vários meses.
Analistas disseram que a venda de dólares foi desencadeada por um comunicado do Federal Reserve (Fed), divulgado na noite de terça-feira, que descreveu a queda recente do dólar como “ordeira”. Isso foi interpretado como um sinal de que o Fed não está exageradamente preocupado com a fraqueza recente da moeda. Comentários feitos por funcionários do Bundesbank, o banco central alemão, de que o nível do euro não é uma preocupação para a Alemanha, e do banco central russo, de que a instituição está se preparando para incluir o dólar canadense em suas reservas, também afetaram a moeda.
Mansoor Mohi-uddin, diretor-gerente de estratégia de câmbio do UBS, disse: “O consenso dos mercados continua sendo de queda do dólar. Portanto, notícias como essas estão mantendo a moeda americana sob pressão”. Ele afirmou que a fraqueza do dólar está exagerada.
David Bloom, diretor de estratégia de câmbio do HSBC, disse reconhecer o raciocínio que está por trás da onda contínua de venda de dólares e acredita que os detentores de grandes depósitos em dólares – especialmente os bancos centrais das economias que vêm crescendo em ritmo acelerado – precisam se diversificar para outros ativos. Ele admite que, se o Fed demonstrasse sinais de aperto súbito na política monetária, a estratégia não daria certo. “A alta dos juros pelos EUA seria um golpe na nuca das operações de carry-trade”.
Dentro desse cenário de queda da moeda norte americana, segundo Walter Brandimarte da Reuters, o banco Goldman Sachs afirmou que o real se converteu na moeda mais valorizada do mundo devido a uma crescente “muralha de dinheiro” que tem compensado os esforços do governo para conter a valorização.
O Brasil estabeleceu um imposto financeiro de 2% sobre os investimentos estrangeiros em ações e renda fixa e um imposto de 1,5% sobre as operações realizadas com ADR de empresas brasileiras. Embora os impostos inicialmente ajudaram a estabilizar os investimentos, “há indicações de que as pressões de valorização estão em alta de novo”, disse o economista da Goldman Sachs Thomas Stolper em um relatório.
A matéria é de Jamie Chisholm, do Financial TimesValor, publicada pelo Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe AgriPoint.