Após ver o dólar cair 25% em um ano que começou condenado pela crise global, analistas divergem sobre os rumos para a taxa de câmbio no ano que vem. A única aposta comum, entre várias incertezas, é a de um mercado ainda mais instável.
Após ver o dólar cair 25% em um ano que começou condenado pela crise global, analistas divergem sobre os rumos para a taxa de câmbio no ano que vem.
A única aposta comum, entre várias incertezas, é a de um mercado ainda mais instável. “A palavra que vai resumir 2010, na minha opinião, é volatilidade”, disse Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB do Brasil.
Ele aponta três fontes principais de instabilidade. A primeira é a lentidão das principais economias, que ainda engatinham após a recessão. A segunda é o fim do “período prolongado” de juro quase zero nos Estados Unidos, que inundou o Brasil com dólares. O terceiro fator é do próprio Brasil: a campanha presidencial.
Embora o panorama seja mais brando que em 2002, quando o dólar foi a R$ 4 com o medo de que a vitória de Lula abalasse os fundamentos econômicos, a recente batalha do governo contra a valorização excessiva do real pode entrar na pauta.
Em outubro, quando o dólar atingiu o piso psicológico de R$ 1,70, o Ministério da Fazenda anunciou taxação sobre a entrada de capital estrangeiro para ações e renda fixa. Em novembro, a cobrança foi estendida a transações com recibos de ações brasileiras no exterior. Na última quarta-feira, dia 30, o dólar fechou a R$ 1,743, acumulando baixa de 25,3% em 2009.
“Esperamos ver essa questão (do dólar) debatida durante a campanha, o que deverá adicionar um ingrediente de alta volatilidade à taxa de câmbio”, opina o Safra Banco de Investimento.
Diante dessas variáveis, não há consenso sobre a trajetória do dólar. Alguns economistas, como Padovani, preveem que o pico de volatilidade acontecerá na primeira parte do ano, com a retomada da tendência de queda do dólar no fim de 2010, até R$ 1,60, em meio à contínua entrada de recursos no país.
Já outros, como Sidnei Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora, dizem que “o real perderá gradativamente a atratividade como moeda para especulação, pois os riscos de valorização deverão ser considerados e isto fragiliza as apostas”.
Flavia Cattan-Naslauski, do Royal Bank of Scotland, em Nova York, levanta também a questão do crescente déficit em conta corrente, que tem tornado a taxa de câmbio mais vinculada ao capital financeiro e, portanto, mais suscetível a solavancos externos.
O próprio governo já trabalha com previsão de US$ 40 bilhões em déficit nas transações correntes, provocado principalmente pela queda do superávit comercial devido ao aumento das importações. Em 2009, o déficit previsto pelo Banco Central é de US$ 29 bilhões.
O déficit em conta corrente, no entanto, começa a sugerir a alguns economistas que o real pode, no longo prazo, chegar a um ponto de equilíbrio depois de ter mantido antes da crise e ao longo de 2009 uma longa tendência de valorização.
“A deterioração das transações correntes vai forçar um ajuste natural da taxa de câmbio, e continua em linha com as previsões de um dólar um pouco mais forte no segundo semestre de 2010”, afirmou Cattan-Naslauski, do Royal Bank of Scotland.
A reportagem é do jornal Brasil Econômico, resumida e adaptada pela Equipe CaféPoint.