O Friboi, maior abatedouro de bovinos da América Latina e quarto maior do mundo, confessa operar em regime de cartel unido a pelo menos três outros frigoríficos brasileiros.
“Nós, o Bertin, o Independência… os três põe o preço do boi em tudo quanto é Estado. Mato Grosso nós peita… Nós sozinho regulou o preço. Estamos fazendo o preço do Mato Grosso, e os outro acompanha [sic]”, diz José Batista Junior, proprietário do Friboi.
“Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas, agora nós estamos em cinco Estado, e nos cinco Estado nós combina com três”, diz, nomeando os frigoríficos Independência, Bertin e Mataboi – que negam participação no esquema.
Essa combinação que Batista Junior descreve teria o objetivo de forçar os pecuaristas a vender seu gado aos frigoríficos a um preço abaixo da lei da oferta e da procura, deturpando o mercado.
Batista Junior, que na semana passada anunciou ser candidato pelo PSDB ao governo de Goiás, fez as declarações diante de testemunhas que estão em guerra comercial com o Friboi. Sem saber, Batista Junior foi gravado e filmado durante as conversas.
Contrato de gaveta com BNDES
Em uma dessas conversas, também gravada, o irmão de Batista Junior, Joesley Mendonça Batista, afirma ter um “contrato de gaveta” com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), pelo qual assumiu uma dívida de R$ 11,2 milhões do grupo concorrente Araputanga.
Friboi e Araputanga firmaram em 1999 compromisso de arrendamento com opção de compra do frigorífico Araputanga (MT). Os dois protagonizam disputa há anos na Justiça, a qual põe o BNDES em situação delicada.
O banco nega o “contrato de gaveta”, mas reconhece ter cometido “erros” na operação e é acusado pelo Araputanga de favorecer financeiramente o Friboi, empresa que concentra R$ 568 milhões em empréstimos do BNDES.
A formação do cartel e o contrato “heterodoxo” com o BNDES foram admitidos pelos proprietários do Friboi em pelo menos três reuniões. Os encontros foram registrados pelo Araputanga, e as gravações, obtidas pela Folha.
O vídeo e o áudio dos registros foram periciados e atestados como autênticos por Ricardo Molina, perito do Laboratório de Perícias da Unicamp e conhecido por sua atuação no caso da morte de PC Farias, em junho de 1996.
Wesley Mendonça Batista, sócio de Batista Junior e Joesley, dá duas explicações para a formação do cartel que seu irmão mais velho confessa nas gravações: acha que a fita ou é “montada” ou não faz sentido, já que os cinco maiores frigoríficos do país teriam um poder de abate de bovinos equivalente a 15% do total nacional.
Sobre o “contrato de gaveta” com o BNDES, Wesley afirma que se trata da assunção regular de uma dívida, mesma versão dada pelo banco oficial.
O BNDES reconhece, porém, que, mesmo após transferir a dívida do Araputanga para o Friboi, continuou a enviar boletos de cobrança ao Araputanga. A empresa diz ter constado como inadimplente no sistema do Banco Central, o que a impediu de tomar outros empréstimos na praça. O BNDES também deixou de retirar o proprietário do Araputanga, José Almiro Bihl, como fiador do empréstimo.
“Estamos providenciando exatamente isso agora [a retirada de Bihl como fiador]. A gente está com problema aqui no banco, de muito trabalho”, afirma Jaqueline Ferreira Lemos, assessora da área industrial do BNDES.
A operação no BNDES é considerada “heterodoxa” pelo fato de a unidade do Araputanga, garantia do empréstimo, não ter sido transferida legalmente ao Friboi, segundo os advogados de Bihl. Já Wesley diz que nunca arrendou, mas que comprou o frigorífico.
Wesley diz que o Araputanga quer dar “um golpe”. Segundo ele, depois que o Friboi pagou dívidas do frigorífico, o Araputanga quer o negócio de volta. Para Marcelo Merlino, advogado do Araputanga, o Friboi não cumpriu obrigações, por isso deveria providenciar a devolução do frigorífico. O caso está na Justiça.
Fonte: Folha de SP (por Mauro Zafalon e Fernando Canzia), adaptado por Equipe BeefPoint
5 Comments
Até que enfim alguém conseguiu gravar estas conversas!
Gostaria de saber agora se as emissoras de TV vão dar alguma notícia a respeito?
E senhores pecuaristas, vamos deixar de ser “metidos” e vamos nos unir mais, pois nunca vi alguém colocar preço nas coisas dos outros.
Quero ver se o governo vai fazer alguma coisa a respeito ou será que o $$$ vai imperar mais uma vez no nosso país!
Lendo está declaração do presidente do Friboi, devo avisar que outra prática constate do mesmo é dar TF para os animais abatidos quando querem baixar o preço pago.
Somos proprietários em MS, vendemos mais de 1000 cabeças/ano para o Friboi em Epitácio-SP.
O interessante é que os bois com TF são sempre os mais pesados, lógico quando se sabe que o desconto é de 30%, quanto mais pesado mais desconto.
Outra oportunidade para dar TF é como aconteceu esse dias: dia 17/11/2005 abriu a barreira entre MS e SP, nesse dia vendi 20 bois à R$ 55,00/@ e 20 vacas à R$ 50,00@ para embarque dia 22/11.
No dia do abate (23/11) o frigorífico estava com escala para 15 dias ( 02/12) e sem preço. O que aconteceu? Dois bois para TF, baixou o preço da arroba para R$ 51,00.
Antes que esqueça nosso rebanho de engorda é deverminado aos 90/60/30 dias antes do abate com 2,5ml/40kg de albendazole (dose recomendada para cisticercose é 2ml/40kg).
Nunca recebemos um laudo técnico do veterinário responsável.
Com toda certeza os proprietários são feitos de fantoches por estes frigoríficos que posam de grandes pagadores. Como é fácil pagar conta com o dinheiro dos outros.
Luciane Possan Weber
Médica veterinária/proprietária
Gostaria de dar os parabéns a voces e a todos que participaram de forma indireta ou direta nessa reportagem.
Está na hora de mudar a cultura do “levar vantagem” em tudo.
Agora cabe punição e mais importante, mudança.
Parabéns
Pedro Borges
Como fica difícil de entender se não está ocorrendo quartel.
Sendo que no ano passado quando o salário mínimo era de 260,00 reais a arroba de boi na entressafra estava a 60,00 e nesta entressafra com o salário mínimo de 300,00 a arroba girou em 50,00 e o pior ainda o PIB cresceu.
Este país não tem direção.
Como se diz, salve quem puder
Meus colegas pecuaristas,
Antes de chegarmos a mais uma decepção, com investigações e CPI que já sabemos que não vai terminar num saboroso churrasco e sim numa grande Pizza, proponho aos colegas fazer uso do único e incontestável direito que temos para fazer frente aos frigoríficos, que a cada dia lesam a pecuária brasileira, ao Governo, que se mostra insensível e incompetente na autoridade de fiscalizar, incluindo nossa defesa sanitária, e ainda, frente ao mau hábito que outros elos da cadeia produtiva da carne tem de achar que temos cara de palhaço.
O direito de não vender.
Vamos gerar uma crise de desabastecimento por 30 dias.
O Brasil, por suas qualidades climáticas, nos dá esta alternativa. Já temos pasto. Vamos reter os animais em protesto a todo este descaso.
Não venderemos a frigoríficos, nem mesmo a açougueiros, nem se for parente. É um compromisso pela classe, pela pecuária nacional. Nada de carne no natal.
Reitero, é a única, democrática e constitucional maneira de demonstrarmos de uma vez por todas que não se deve brincar com o pecuarista brasileiro, demonstrar que somos unidos sim, e que somos responsáveis por um dos maiores PIB do país.
Em todas as atividades isto ocorre, uma meia dúzia de pessoas inescrupulosas contra alguns milhares de fornecedores. É hora disto mudar. Nós temos o dever de acreditar que alguns milhares são mais fortes que a meia dúzia.
Agora é só cada um que concordar com isto espalhar a notícia.
Eu, só vendo boi no ano que vem.