O Brasil caminha para bater novo recorde de exportação de carne bovina. Os dados preliminares apontam para desempenho fantástico, com vendas superiores a 1,5 milhão de toneladas - em valores: US$ 3,85 bilhões. Trata-se de um resultado realmente espetacular. Palmas para nossos frigoríficos, que mesmo com as restrições internacionais impostas por conta da febre aftosa mais uma vez foram profissionais e impulsionam a carne brasileira no cenário mundial.
O Brasil caminha para bater novo recorde de exportação de carne bovina. Os dados preliminares apontam para desempenho fantástico, com vendas superiores a 1,5 milhão de toneladas – em valores: US$ 3,85 bilhões. Trata-se de um resultado realmente espetacular. Palmas para nossos frigoríficos, que mesmo com as restrições internacionais impostas por conta da febre aftosa mais uma vez foram profissionais e impulsionam a carne brasileira no cenário mundial.
Em uníssono, o discurso das cada vez mais fortes – e internacionalizadas – organizações frigoríficas do País é: “não atingiríamos esse resultado se não fosse o investimento dos pecuaristas em animais de qualidade genética, abatidos cada vez mais cedo, mais padronizados e com carne de padrão superior…”.
E eles estão certos. Mas onde está a valorização dos produtores por disponibilizar esses bovinos de qualidade que levam o Brasil a consolidar sua posição de maior exportador mundial de carne bovina e, como conseqüência direta, fortalecem economicamente umas poucas empresas?
2006 foi um ano exemplar no baixo (ou nenhum) reconhecimento do trabalho sério, incansável e inquestionável dos pecuaristas brasileiros em busca da melhor genética, da alimentação correta, do necessário controle sanitário, do manejo mais apurado. Em poucas palavras: investimos como nunca; fomos pessimamente remunerados como sempre.
A arroba do boi gordo chegou ao fundo do poço, atingindo os menores patamares dos últimos 35 anos – isso porque há poucas estatísticas anteriores à década de 70. E, por outro lado, as exportações batem recordes. Aliás, com um agravante ao mesmo tempo extremamente positivo e esclarecedor: os preços internacionais subiram em média 5% e em alguns casos até 30%.
Desconheço atividade econômica que sobreviva durante muito tempo com uma realidade em que só alguns segmentos ganham. Especialmente quando os que mais sofrem estão na base da cadeia. Sim, porque sem bovinos precoces, pesados e com rendimento de carcaça não há carne para atender os contratos de exportação.
Avançando na cadeia produtiva, se os fornecedores de bois gordos não estão motivados não investem no necessário melhoramento genético. E aí o refluxo é inevitável. Além das perdas econômicas já esperadas em termos de produção de carne, há um preocupante retrocesso na seleção dos animais, o que em outras palavras pode significar a perda de investimentos feitos durante décadas.
Claro, não sejamos alarmistas. A pecuária brasileira está longe de chegar a esse patamar. Ocorre que vejo com extrema preocupação o desânimo que ataca a atividade. Com o avanço de culturas agrícolas, especialmente a cana-de-açúcar, o criador não pensa duas vezes em arrendar suas terras. E, o pior, com rendimento líquido superior ao penoso investimento na produção animal.
O momento é de reflexão. Mais do que isso, é de pensamento coletivo. Não se trata de impedir o ganho de alguns, mas defender a sobrevivência de muitos.
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Caro amigo Paulo:
Correta a sua abordagem. Aqui no RS enfrentamos o mesmo problema que, aliás, é nacional. Os frigoríficos, felizmente, vendem muito bem nossa carne no exterior, mas não repassam nenhum centavo destas vantagens ao pecuarista. Ao contrário, diante de qualquer problema, baixam injustificadamente o preço do quilo ou arroba.
Quando as coisas vão bem, eles ganham sozinhos e quando eventualmente vão mal, repassam os prejuízos para nós. Esta realidade somente poderá ser alterada com a nossa organização efetiva e com lideranças que busquem o bem da classe e não se perpetuarem no poder buscando benefícios para si próprios e para seus apaniguados. A solução depende da nossa atitude!
Parabéns por levantar o problema.
Abraços
José Roberto Pires Weber
Oportuna e inteligente as colocações do Sr. Paulo…em momento de crise que deveríamos nos unir e nos posicionar melhor dentro da cadeia de Produção de Carne. Nunca falou e investiu tanto na tríade: Genética, Sanidade e Nutrição, como nos últimos anos; todavia o mercado nunca teve tão mal das pernas no mesmo período. Somos produtores de Carne aqui no Cerrado…e sabemos o quanto é difícil sustentarmos dentro da cadeia nesse momento.
Mas vamos nessa!! Rumo á 2007 em busca do nosso tão sonhado título!!!
Parabéns Sr. Paulo!!!
Parabéns ao Sr. Paulo de Castro Marques, ele foi muito feliz nas suas colocações. Como eu já havia comentado no inicio do ano, os frigoríficos não estão atentando para o fato de que estão matando a galinha dos ovos de ouro, na oportunidade cheguei a comentar o avanço da cana de açúcar na minha região e por toda parte e o fato de que o produtor custa a mudar de rumo mas quando muda também não volta atrás.
Excelente a abordagem do Sr. Paulo. Com investimentos pesado nos últimos anos o rebanho brasileiro chegou a um patamar de pura excelência, no que se refere a qualidade e principalmente de produtividade, razão pela qual o maior rebanho do mundo, por isso os frigoríficos cada vez mais concentrados na mão de poucos exportadores e com grande oferta de bois terminados na maioria das praças produtoras, são capazes de impor seus preços e escalas de acordo com suas conveniências e nunca se preocupam com os produtores
Parabéns pelo artigo.
João Donizete.
Parabéns Sr. Paulo pelos argumentos e palavras que também estão na boca de todos os pecuaristas, a fim de desabafarmos. Sua sustentação é séria e tem fundamento, mas, que pena que a nossa classe (pecuarista) parece ser tão forte, mas, se apresenta fraca perante os frigoríficos. O que estamos precisamos para nos sustentar no mercado é simplesmente “União”.
Investimos em produção: genética, alimentação, sanidade. Estamos investindo – pensando – em mão-de-obra.
Precisamos pensar – investir -: em comercialização, propaganda, marketing, gerenciamento.
Incorporar em nossa cultura: planejamento.
Esperar que o setor frigorífico reparta seus lucros com pecuaristas, chega soar infantil. Os lucros que eles (frigoríficos) estão obtendo, é fruto da sua organização, portanto méritos deles, e não devem mesmo dividir com ninguém. Esperar que empresário brasileiro pense como europeu, que presa e incentiva qualidade, é acreditar em Papai Noel.
Nós temos o preço que merecemos.
Senhores, por favor, pensem, na hipótese de situação inversa, os pecuaristas todos organizados em torno de uma ABIEC de pecuaristas, nós iriamos repartir nossos lucros com os frigoríficos, só porque eles poderiam vir a falir ? Claro que não. Lucro é para quem tem competência.
Estamos produzindo além das necessidades do mercado, e não queremos aceitar isso. Na Nova Zelândia os produtores resolveram parte desse mesmo problema aplicando uma redução de 30% no volume produzido. Não estamos minimamente organizados, e quem devia nos organizar se fazem de “mortos” (leia-se Sindicatos, Sociedades Rurais, Federações Estaduais de Agricultura, e CNA). É tudo um jogo de faz de conta. Tem razão o Sr. José Roberto Pires Weber de Don Pedrito – RS, quando diz que nossos representantes não nos representam.
A questão é que ainda não sofremos o suficiente. Quando estivermos todos quebrados. Mas quebrados mesmo. De não poder mais consertar a porteira, quando olharmos nossa atual e reluzente caminhonete e ver que a bichinha já esta com mais de 10 anos e não pudermos mais trocá-la, aí quem sabe vamos começar a nos reunir para conversar sobre a defesa dos nossos interesses, com inteligência, sem Whiskyes, e sem churrascos, puramente pensando no interesse comum da classe.
Ou reduzimos a produção com critério, com planejamento, enquanto ainda podemos. Ou vamos reduzir na marra quando estivermos todos quebrados. Lidamos com boi todo dia, e sempre comentamos que o boi não sabe a força que tem, se soubesse ninguém o dominaria. E nós também.
Saudações.
Jucelino dos Reis
Produção de Gado de Corte
Prezado Sr. Paulo,
2006 foi o ano dourado dos exportadores brasileiros, com quase o mesmo volume o faturamento foi superior a 2005. A realidade é a concentração do setor exportador. Dezoito frigoríficos respondem por 98% das exportações e os cinco maiores juntos controlam 65% deste mercado e apenas dois detêm 40% da participação. As conseqüências da concentração do setor são óbvias.
Além disso, os frigoríficos exportadores gozam de desoneração fiscal sobre PIS e CONFINS, o que permite abaixar os custos de produção no mercado interno, provocando distorções neste mercado e deixando os frigoríficos não exportadores na insolvência e sem possibilidades de melhorar o preço da arroba paga ao produtor.
Medidas urgentes precisam ser tomadas, antes que a pecuária brasileira sofra prejuízos incalculáveis no ganho de produtividade alcançado nos anos anteriores. As políticas públicas devem corrigir estas distorções fiscais que favorecem alguns poucos, incluindo as carnes na cesta básica, desonerando os insumos e facilitando a entrada de grupos globais no mercado brasileiro da carne bovina que possam criar o equilíbrio justo entre competição e concorrência.
A concentração de poder dos frigoríficos exportadores está colocando em risco um segmento estratégico para o Brasil. Nossas associações e nós produtores precisamos iniciar o processo de pressão política como única saída para as vantagens econômicas que os exportadores estão tendo.
Parabéns pelo seu artigo,
Nelson Pineda
Pecuarista e Diretor técnico da ABCZ
A produção de carne em nada se diferencia da produção de outros itens denominados produtos básico e como tal é tratado, pelos grandes conglomerados agropecuários.
Vejamos o caso das carnes de aves e de suínos que hoje são produzidas quase que exclusivamente por grandes ou melhor por mega empresas que controlam desde a produção de rações até a comercialização do produto acabado, através do que chamam de contrato de integração, definindo inclusive o quanto o produtor vai lucrar. Ora, a possibillidade de ganho no mercado internacional da carne bovina, por parte dos grandes frigoríficos, é tal que estes estão se organizando cada vez mais e mais e vislumbro o futuro, de nós agropecuaristas, como o atual dos produtores de frango e aves.
A única alternativa, tenho certeza, é a organização, de nós pecuaristas, em torno de grandes centrais de comercialização, onde poderíamos impedir, no futuro, através do poder criado pelos grandes volumes de comercialização que representaríamos, a não divisão do bolo, como acontece na atualidade. Entretanto se não houver uma corrida, esses mesmos frigoríficos irão se aproveitar da grande quebradeira e eles mesmos organizar tais centrais, nos subjugando às suas vontades e nos transformando em integrados.
Muito se fala entretanto nada se faz, aproveito este espaço para propor a reunião de grandes produtores por região e começarmos a organizar tais centrais, processo que não exigiria grandes investimentos mas apenas organização o que seguramente traria grande retorno em R$/@.
Andre Cappelli
Pequeno pecuarista
Lamentavelmente a lei da oferta e procura ainda não tem como o governo acabar com ela, então o que nós pecuaristas temos que discutir é reduzirmos nossa produção (sem reduzir a produtividade e qualidade da nossa produção – o boi gordo).
Tenho pensado muito sobre nosso negócio e estou convencido desta medida que todos nós teremos de tomar. Você que como eu está a cada dia mais descapitalizado e comprometido a rentabilidade do seu negócio – a pecuária de corte – também avalie e veja se não me dará razão.
Pensem e divulguem esta idéia. Vamos reduzir a nossa produção em 30 % nos próximos 3 anos ( 10% ao ano ) – é absolutamente possível – somente assim suportaremos esta crise.
Saudações de um produtor que está na mesma condição sua.
Luciano Guedes
Redenção – Pará