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E os Irlandeses?

A carne brasileira vem sendo alvo - há mais de dois anos - de ataques infundados na Europa por parte de pecuaristas irlandeses. Até quando vai se permitir que um produto de qualidade, sujeito às mais rigorosas normas de segurança alimentar e a inspeções in loco feitas por missões governamentais e empresariais de diversos países seja continuamente difamada? Mentiras continuamente repetidas acabam sendo assimiladas como verdades. E é isso que pode acontecer com a carne brasileira na Europa se medidas não forem tomadas, no sentido de esclarecer o que de fato está acontecendo.

A carne brasileira vem sendo alvo – há mais de dois anos – de ataques infundados na Europa por parte de pecuaristas irlandeses. Até quando vai se permitir que um produto de qualidade, sujeito às mais rigorosas normas de segurança alimentar e a inspeções in loco feitas por missões governamentais e empresariais de diversos países seja continuamente difamada?

Mentiras continuamente repetidas acabam sendo assimiladas como verdades. E é isso que pode acontecer com a carne brasileira na Europa se medidas não forem tomadas, no sentido de esclarecer o que de fato está acontecendo.

O objetivo dos produtores de carne da Irlanda e de seus agentes é o de descredenciar a qualidade e a sanidade do produto brasileiro e assim procurar dificultar o acesso da nossa carne ao mercado europeu, onde a carne irlandesa perde competitividade e parcela de mercados.

Argumentos emocionais, distorcidos, falsos e de puro delírio insuflado têm sido a principal ferramenta obscura que a fertilidade do jornalismo corporativista do “Irish Farmers Journal” faz uso.

A crescente agressividade e a falta de seriedade e compromisso com que o assunto vem sendo tratado pelas associações da Irlanda e da Irlanda do Norte transparece não haver responsabilidade objetiva do jornal em esclarecer a sua real motivação neste episódio, que já se transformou em uma campanha de cunho político interno e de restrição e enfrentamento a todas as regras internacionais de comércio.

É fato que a pecuária irlandesa não tem a qualidade e a competitividade da pecuária brasileira. É fato também que a redução dos subsídios europeus resultante da reforma da Política Agrícola Comum (PAC) fez diminuir ainda mais a lucratividade da atividade e elevou os preços da carne irlandesa em seu mercado e nos mercados de exportação.

Conseqüentemente, houve uma grande perda de mercado para a carne da Irlanda, que se viu substituída pela carne brasileira, de alta qualidade e preços mais competitivos, em que pese as altas taxas impostas pelo mercado europeu que podem ser superiores a 170%.

Em clara demonstração de desespero terminal, os pecuaristas irlandeses, representados pela IFA – Irish Farmers Association e por meio de seus jornais, partiram para a difamação da concorrência leal por meios desleais como a mentira e a infâmia.

De qualquer modo, devemos recordar nossos amigos do velho continente que:

• o serviço veterinário brasileiro, tanto de saúde animal e de inspeção de produtos de origem animal, é reconhecido por todo o mundo, o que confere segurança às nossas exportações; e que
• A carne brasileira tem o crédito e a confiança em mais 150 países para os quais é atualmente exportada. Além disso, a pecuária brasileira apresenta processo produtivo inegavelmente melhor que os países europeus, além de status sanitário superior ao da Irlanda, fatores que, aliado à competitividade comercial, fizeram do Brasil o maior e melhor produtor e exportador de carnes do mundo.

No entanto, mesmo após a União Européia ter realizado seis missões técnicas ao Brasil, nos anos de 2006 e 2007, e produzido – em todas as visitas – relatórios rigorosos e idôneos, a credibilidade do sistema de importações da Comissão Européia, continua a ser contestada pelos interesses irlandeses e alguns outros.

Nunca houve um caso de EEB – Encefalopatia Espongiforme Bovina no Brasil. Esta doença é fatal e pode afetar seres humanos quando carne contaminada é ingerida.

A Irlanda, berço e fonte de disseminação da doença, tanto para a Europa como para outras partes do mundo, por outro lado, não conseguiu ainda erradicar o problema, e notificou 14 casos da doença no período de janeiro a agosto deste ano, sendo o último notificado na semana de 10 de agosto. No ano passado, foram registrados 41 casos.

A última reintrodução de febre aftosa no Brasil ocorreu em setembro de 2005 na divisa sul do Estado de Mato Grosso do Sul, e foi rapidamente eliminado. A febre aftosa não contamina seres humanos e a carne exportada – desossada e maturada – não é vetor do vírus e, portanto, não se constitui em mecanismo de contaminação. Mesmo assim, os estados afetados pela doença ainda permanecem com suas exportações suspensas.

Os recentes focos de febre aftosa notificados pelo Reino Unido estão sendo tratados. Este tratamento inclui o abate dos animais infectados, a restrição do trânsito de animais e da exportação de carne da região afetada.

O Reino Unido não vacina seu gado, portanto as alegações irlandesas de que a suspensão das exportações inglesas se deve à vacinação são mentirosas. A carne inglesa está suspensa devido aos focos de febre aftosa não terem sido debelados ainda.

Recorrem também à mentira quando alegam que a cepa do vírus que teria “vazado” do laboratório inglês tinha como destino a produção de vacina para o Brasil. Isto é impossível uma vez que o Brasil produz 100% da vacina consumida em seu território e que o tipo de vírus detectado na região inglesa infectada não é compatível com nenhum tipo de vírus já registrado na história da pecuária brasileira.

Afirmações hediondas deste tipo demonstram a incapacidade dos líderes da pecuária irlandesa em tratar assunto de tamanha relevância de forma adequada, levando a população local e mundial a interpretações por vezes desencontradas ou ao extremo equivocadas.

Com relação às alegações de que a carne brasileira não tem a qualidade necessária para entrar nos mercados dos Estados Unidos, da Coréia do Sul e do Japão, isso também é mentira, uma vez que a análise de risco efetuada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos na produção de carne fresca brasileira foi concluída positivamente e encontrava-se em análise sobre o impacto econômico da abertura comercial para a carne brasileira, até a ocorrência do último foco.

O Brasil é o maior fornecedor de carne industrializada para esses mercados. A carne in natura não tem acesso, especialmente ao mercado japonês, por proteção sanitária com força de Lei, em desacordo com os princípios e dispositivos previstos no SPS, e ainda devido a um confronto de interpretações acerca do conceito defendido pela OIE – Organização Mundial de Saúde Animal, sobre a regionalização para a febre aftosa.

Há um problema muito mais conceitual e comercial do que sanitário nestas restrições.

As autoridades brasileiras têm mantido as negociações com esses mercados com vistas à sua abertura. No entanto, o surgimento de focos de EEB nos EUA e no Japão e o conseqüente estoque de carne nesses mercados, devido à restrição de exportação, desacelerou o avanço dos entendimentos.

Em resposta ao pedido de suspensão das importações de carne brasileira apresentado pela IFA ao Parlamento Europeu, o Comissário para Saúde Pública da UE, Marcos Kyprianou, foi enfático ao defender a qualidade e a sanidade da carne importada pela União Européia.

Ressaltou, de forma inequívoca, que missões européias têm constantemente visitado o Brasil e verificado os controles aos quais está sujeita a pecuária nacional e os frigoríficos. Toda a carne exportada do Brasil para a UE está sujeita às normas rígidas impostas pelo mercado europeu, incluindo a rastreabilidade.

Ao tentar prejudicar a carne brasileira, os irlandeses estão pondo em risco a credibilidade de seu próprio sistema, representado pela DG-Sanco e pelo comissário de saúde pública. Há ainda uma evidente contradição entre as alegações dos setores irlandeses interessados e as práticas seguidas pelo DG-SANCO, conforme consta no relatório da Comissão Européia, por ocasião de recente reunião entre o Comissário Kyprianou e o Parlamento Europeu.

Fica claro que temos, por um lado, as autoridades sanitárias – de saúde animal e de defesa do consumidor – daquele bloco que seguem com rigor as regras e os critérios técnicos e científicos que norteiam o comércio internacional de produtos cárneos e, por outro, os interesses irlandeses contrariados que buscam nos prejudicar com argumentos emocionais e distorcidos.

0 Comments

  1. Carlos Eduardo Primão disse:

    Constantemente se tem notícias de difamações da carne brasileira, por parte de produtores da Irlanda, e Bélgica. Não vemos por parte de nossos governantes, nem de órgãos ligados à produção qualquer resposta arrazoada e pertinente, então há de se perguntar:

    1- Qual é a qualidade da carne produzida na UE – especialmente na Irlanda, pois se estão configurados como principais disseminadores do mal da vaca louca, como podem condenar quem quer que seja?

    2- Quais são as reais condições sanitárias e de processamento desses países?

    3- Por quê não se exige a comprovação de “vazamento” da vacina anti-aftosa com destino ao Brasil?

    4- Por quê nossos governantes não fazem representação junto à OMC a respeito dessas difamações, juntamente com órgãos sanitaristas e medicina veterinária?

    Fica claro a necessidade de vigilância e fiscalização sanitária junto aos frigoríficos por parte dos organismos sanitários, de forma preventiva, de maneira que não aconteça e não transpareça quaisquer irregularidades sanitárias, demonstrando assim a qualidade e conseqüente valorização de nossa carne.

  2. Louis Pascal de Geer disse:

    Olá Otávio e Leslie,

    Muito bom o artigo e de fato os irlandeses abriram fogo de vez contra a carne brasileira, porém sabemos que a cadeia brasileira de carne bovina é tão grande, que obviamente se pode achar falhas no Sisbov e no controle sanitário. É só querer fazer uma auditoria séria, que por nossa felicidade ainda não é feita, porque o mundo não pode mais ficar sem a carne brasileira incluindo o União Européia e todos sabem disto.

    Estou na Holanda e não vi sequer uma propaganda ou produto de carne brasileira nas gôndolas do supermercado e a embaixada e consulado brasileira na Holanda somente aparecem quando tem problemas, mas aparentemente ignoram os oportunidades que um mercado com o holandês tem para o Brasil. E não é só de carne que estou falando.

    Quem quer o mercado europeu vai ter que trabalhar muito, estabelecer contatos com os consumidores finais e investir na imagem do Brasil e isto é um serviço continuo, dia a dia, nos jornais, na televisão.

    Um abraco,

    Louis.

  3. Guus Laeven disse:

    Seria bom publicar este artigo também na Europa, em Inglês.

  4. José Manuel de Mesquita disse:

    Prezados Srs.

    Como dizia o Gerson uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

    Excluídos os arroubos ufanista tanto de um lado quanto do outro, não temos muito o que comemorar, pois a desgraça deles não significa nossa absolvição das irresponsabilidades já cometidas, ou da necessidade que temos de enfrentar as responsabilidades de quem deseja ser grande exportador e que continuamente finge cumprir.

    Fingimos que temos um sistema de rastreabilidade seguro, e que podemos garantir que “toda” carne produzida no país, ou pelo menos a que é exportada, realmente possui certificação de origem, ou que pelo menos possui meios de produção seguros que possam efetivamente ser comprovados.

    Excluídas as poucas excessões, ainda estamos longe de poder apontar o dedo acusador em qualquer direção, ou rir da desgraça dos outros, pois no final o que estaremos fazendo é criar um medo generalizado na população de continuar a consumir carne bovina, nossa ou deles.

    JMM

  5. Luís Felipe Lopes da Conceição disse:

    Grande oportunidade para o mercado de carne bovina e pecuária de corte quando é levantado este tema de comum acordo a todos seguimentos que trabalham neste setor.

    O governo brasileiro, como disseram os colegas Louis e muito bem lembrado o colega Guus, não investe em propaganda nestes países, insistindo em uma política interna hipócrita e eleitoreia suficiente para se manter no poder.

    Graças a programas falsamente e “politicamente corretos” populistas, os setores produtivos do país estão entregues a situações de risco como essa.

    No setor varejista o empresário empreendedor se depara com as distorções de critérios fiscais entre a informalidade e o negócio devidamente registrado – ou seja – mais vale ser um dependente do bolsa escola e ter uma carrocinha de espetinho de carne clandestina, do que abrir um restaurante como todos os encargos tributários regulamentares.

    Neste momento em que o setor produtivo de carne beira uma séria crise que teriam efeitos imprevisíveis a cadeia de agronegócios brasileiro, o governo se depara com a greve dos Fiscais Federais Agropecuários, tratando a categoria como chantageadora e mentirosa. O governo se esqueceu de acordos pré – estabelecidos a mais de 2 anos junto a a categoria, e pior se esqueceu de reconhecer que nosso sistema de inspeção assim como a sanidade de nosso rebanho reconhecida mundialmente deve-se em grande parte a essa categoria.

    Esperamos com apontamentos como este que seja divulgada a revolução do agronegócio, mas não a revolução falsamente bolchevisdta pregada pelos “companheiros” e sim a revolução de produtividade que o governo anterior tanto angariou com o trabalho exaustivo do Sr Ministro Pratini de Moraes em divulgar os produtos de origem animal nas diferentes partes do mundo.

  6. Mariana de Castro Cunha Salgueiro disse:

    Srs,

    A Irlanda realmente começou a jogar pesado.

    Mas, vejo neste episódio um momento de refletirmos sobre determinados ítens:

    – Não temos o espírito de união para montarmos, como os irlandeses, uma espécie de “Farmers Journal”? Por que não temos a iniciativa de montar, com recursos próprios, sem interferência governamental, entidades sérias e representativas capazes de nos defender, rebater e lutar contra absurdos ditos contra a produção e os produtores de carne brasileira?

    – Frigoríficos e produtores irlandeses parecem estar do mesmo lado. O que não ocorre no Brasil. Não seria mais vantajoso trabalharmos de forma conjunta no sentido de alavancar preço, qualidade, propaganda da carne brasileira, dentro e fora do país?

    A Irlanda declarou guerra comercial contra nós, maiores concorrentes. Mesmo tendo maiores recursos em cada uma das batalhas, estamos aptos a entrar nessa guerra para ganhar?

  7. Jean-Yves Carfantan disse:

    Parabéns pelo artigo. Concordo plenamente com os seus argumentos. No entanto, acho que a demonstração racional não será suficiente para surtir efeito. Enquanto os produtores brasileiros não reforçarem a comunicação com os consumidores europeus – especialmente os britânicos – e enquanto não for reforçado o esforço de investimento público na área sanitária, temo que a sua mensagem não chegue aonde deveria chegar.

    Um europeu meio britânico que vive no Brasil.

    Cordialemente,

    JY Carfantan

  8. Joao Paulo Nunes Bastos disse:

    Prezados srs.

    Uma infâmia este modo que certos países que “precisam da nossa carne” usam para barra-la, apelando para políticas altamente protecionistas e dispendiosas, que conseguem por meio de uma união política e econômica, digo União Européia, fazer com nossos produtos que possuem uma qualidade totalmente significante em qualquer mercado de carne mundial, seja desqualificado.

    Nos falta marketing e principalmente forte apoio do governo se quisermos atingir de igual o mercado lá fora.