Por Luciano de Almeida Corrêa1, Patricia Menezes Santos1 e Marco Antônio Alvares Balsalobre2
A produtividade animal em pastagens é determinada por dois componentes básicos: desempenho por animal (ganho de peso vivo) e capacidade de suporte (número de animais por unidade de área). O desempenho animal é função da ingestão de matéria seca, da qualidade da forragem e do potencial genético do animal utilizado, enquanto a capacidade de suporte é função do potencial de produção de matéria seca da forrageira e da eficiência de colheita.
Embora a média de ganho diário de peso vivo obtida normalmente nas pastagens tropicais não alcance a proporcionada pelas forrageiras temperadas, a produtividade animal pode ser alta, em razão do grande potencial de produção de matéria seca das espécies tropicais durante o período das águas.
Na Embrapa Pecuária Sudeste, pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu e Panicum maximum cv. Mombaça foram estabelecidas em Latossolo Vermelho Amarelo e Vermelho Escuro distróficos, que apresentavam inicialmente (1994) 2 ppm de P (determinado pelo método da resina) e 12% de saturação por bases (V%). Atualmente, com as correções e as adubações posteriores, os valores de P e V% na camada de 0 a 10 cm estão em torno de 15 ppm e 60%, respectivamente. Também foram estabelecidas pastagens de Cynodon dactylon cv. Coastcross e Panicum maximum cv. Tanzânia, em que os valores iniciais eram de 5 ppm e 36%, sendo atualmente de 20 ppm e 70%, respectivamente, para P e V%.
O método de pastejo é o rotacionado, com período de descanso de 36 dias e ocupação de três dias, com exceção da pastagem de capim-coastcross, em que o período de descanso é de 24 dias e a ocupação, de quatro dias. A adubação de 1000 a 1500 kg/ha da fórmula 20-05-20 (NPK) e/ou similar é aplicada parceladamente em seis vezes, durante as águas, no caso do capim-coastcross, e quatro vezes para as demais pastagens, totalizando 200 ou 300 kg de nitrogênio (N) por hectare por ano, conforme a Tabela 1. A lotação é ajustada com animais extras, de acordo com a disponibilidade de forragem, que normalmente é mais elevada em janeiro, fevereiro e março, em virtude das condições climáticas mais favoráveis para o crescimento das gramíneas forrageiras tropicais. Tem sido obtido, em média, no período das águas, acúmulo de forragem de 2500 a 4000 kg de matéria seca/ha, a cada ciclo de pastejo, variando com a época, o nível de adubação, a fertilidade do solo e a espécie forrageira.
Os teores de proteína bruta obtidos são de 9% a 10% para a cultivar Marandu, 10% a 12% para as cultivares Tanzânia e Mombaça, e de 12% a 14% para a cultivar Coastcross. Na Tabela 1 estão apresentadas informações sobre a produção por animal e por área, obtidas com essas pastagens.
Tabela 3 – Taxa de lotação e ganho de peso vivo (PV) de bovinos da raça Canchim e cruzados Canchim x Nelore em diferentes pastagens na Embrapa Pecuária Sudeste, São Carlos, SP, nas águas.
Os dados apresentados acima mostram ganhos de peso vivo superiores a 900 kg/ha, durante o período das águas, em pastagens de gramíneas tropicais adubadas. Considerando que no período seco os animais serão suplementados, esses resultados indicam que é possível produzir mais de 500 kg/ha.ano de carcaça (rendimento de carcaça entre 50 e 54%). Esse valor contrasta com a produção de carne normalmente obtida em áreas extensivas (por volta de 55 kg/ha.ano de carcaça) e mostra que a adubação de pastagens para recria e engorda de bovinos é interessante do ponto de vista técnico. Por outro lado, a viabilidade econômica dessa tecnologia depende do valor da arroba e do custo dos fertilizantes, que varia de acordo com a região do país. É importante ressaltar que esses resultados não se prestam para comparações entre os capins, pois a categoria animal, a adubação e o ano de avaliação são diferentes.
__________________________________________________
1 Embrapa Pecuária Sudeste
2 B&N Consultoria e Bellman Nutrição Animal
0 Comments
Prezados autores,
Meus cumprimentos pelas informações apresentadas. As condições ambientais do país para produzir forragem são excelentes e desafiadoras. Pena que os brasileiros não sabem e ainda não aprenderam. Obtenção de qualidade de forragem (o que o animal ingere) se obtém com níveis de oferta que não limitam a ingestão de MS daquela forragem de qualidade.
E aqui encontramos mais uma lacuna existente no conhecimento em pastagens no Brasil. Só enxergam número de animais nas pastagens e não as manejam para rendimento por animal. Mas nas discussões e introdução de textos, este parâmetro recebe menção.
Os níveis de adubação usados são bons, e podemos dizer até altos para manutenção de custos. Mas os rendimentos não são maiores porque limitam o rendimento por animal na avaliação de pastagens.
Na última reunião da SBZ, em Campo Grande, foram apresentados informações obtidas na EMBRAPA/CPAO, Dourados, MS, onde os novilhos ganharam em torno de 1,00 kg por animal por dia nas águas. E isto foi durante três anos consecutivos. O grande determinante foi a massa de folhas verdes ofertada, pois delas é que o animal retira a sua dieta e obtém nutrientes para seu desempenho.
Os simpósios sobre manejo da pastagem promovidos pela ESALQ foram excelentes no sentido de se conseguir difundir tecnologias pelo país afora. O que falta agora é o polimento nas mensagens, permitindo maior rendimento por animal nas pastagens.
Fala-se muito em agregar valor nos produtos do setor primário, mas lamentavelmente, nas pastagens não se encontra este procedimento. Produto animal bem acabado e de baixo custo se obtém de pastagens bem manejadas, visando inclusive conforto animal (o que o brasileiro conhece pouco e aplica menos), onde se permite um consumo de forragem de qualidade (1/2 das lâminas folhares verdes novas) muito próximo à capacidade de ingestão do animal.
Isto é muito simples de ser praticado, basta se aplicar a campo o conhecimento agronômico em manejo de pastagens para altos rendimentos.
Um abraço do
Dr. Gerzy E. Maraschin
Prezados autores,
Acho louvável mais uma publicação sobre desempenho e lotação de gado de corte em capim adubado, pois os locais e as plantas forrageiras variam. Porém, estas altas lotações e bom desempenho já foram mostrados com bastante intensidade, desde as publicações de Vicente-Chandeler nas decadas de 60 e 70.
O que, na minha discreta opinião, o mercado precisa são informações completas dos custos. Tenho total certeza, baseado na minha experiência, que a melhor lotação não é a maior lotação. Isto é fácil deduzir, pois, é só lembrar da lei dos mínimos incrementos. De novo, o que o mercado precisa é de informação completa, com todos os custos. Pois, além dos custos de adubação, existem todos os outros valores de custeio. Os quais estão bem elevados nos dias de hoje. Em um sistema donde se usa adubação pesada, é quase inevitável o uso de confinamento no inverno, para aliviar esta alta lotação. Consequentemente, estes custos têm que entrar na computação toda. A informação tem que ser dada na forma de um sistema de produção, englobando o processo de porduçÃo como um todo. O que vemos com muita frequencia são informações de fragmentos destes sistemas de produção e não o processo todo de produção olhado como um conjunto.
Enfim, desculpa pela minha sincera opinião. Mas acredito que se faz urgente estes tipos de informações completas. Informação técnico-econômica.
Obrigado pela atenção.
Limão
Concordo completamente com a carta do senhor José Roberto Puoli sobrte os custo de produção e as informações fragmentadas dos artigos publicados nesse radar. Que é possível produzir muito em um pasto adubado com 300 kg de N não é novidade, mas como sustentar altas lotações com a produção estacional das gramíneas forrageiras? Quais os custos operacionais de se fazer 5,6 adubações ano? Qual o impacto ao longos dos anos no sistema solo-planta dos altos níves de nitrogênio? Como conciliar a tonelada do adubo nitrogênado a 700-800 reais com a @ do boi a 57 em plena seca nos estados de GO, MS e MT?
Acho que as informações dos resultdos experimentais são válidas mas sinto falta da visão crítica dos autores e maior esclarecimento aos produtores.
Daniel de Castro Rodrigues
Engenheiro Agrônomo – M.S. em Ciência Animal e Pastagem
Consultor Integração Lavoura-Pecuária
Fazenda Santa Clara – Goiás