Um problema histórico da economia brasileira, o fato de ser relativamente fechada e pouco integrada às cadeias produtivas globais, pode acabar fazendo com que o país sofra menos com o coronavírus, avaliou uma fonte da equipe econômica ao Valor.
A visão é que a epidemia está gerando uma baixa geral na economia mundial e o fato de o Brasil ter uma estrutura produtiva mais “verticalizada”, com menor relação com os mercados internacionais, torna esse impacto menor, ainda que um impacto negativo seja visto como inevitável.
A fonte aponta que, do ponto de vista estrutural, a baixa abertura e integração da economia brasileira ao mundo piorou seu desempenho relativo ao longo do tempo, mas agora o torna menos sujeito a essa crise. Porém, destaca, é necessário perseverar na agenda de reformas para que neste momento mais delicado no mundo o Brasil seja diferenciado positivamente de outros países, atraindo capitais.
“Em geral, países que se vinculam às cadeias globais de produção têm performance melhor do que os verticalizados. Mas, em uma conjuntura como essa, o Brasil fica menos suscetível a problemas”, disse a fonte. “É como uma pessoa tímida que não sai de casa. Ao longo da vida, ela perde muitas oportunidades, mas, em meio a uma epidemia, tem menor risco de sofrer contágio”, comparou.
O mesmo interlocutor destaca que o Brasil tem participação pequena nas exportações mundiais, tem uma corrente de comércio ainda baixa. Por outro lado, o país passa por uma desvalorização cambial, que pode de certa forma compensar para as empresas os impactos de queda nos preços internacionais que a desaceleração da atividade econômica no mundo tende a causar.
E esse efeito, avalia a fonte, de certa forma se manifestou no resultado da balança comercial em fevereiro. O comportamento da balança comercial em fevereiro foi tratado como uma notícia positiva, por esse interlocutor.
No mês em que o coronavírus ganhou destaque e provocou uma derrubada geral nos mercados internacionais e na produção chinesa, o Brasil teve o terceiro maior superávit e o quarto maior volume de exportações em 31 anos. O saldo da balança no mês passado foi positivo em US$ 3,1 bilhões, revertendo com sobra o déficit de US$ 1,7 bilhão verificado em janeiro. “O resultado mostra que o desempenho comercial não está tão negativo quanto se falava”, disse.
Um dos elementos que mais chamaram atenção no Ministério da Economia foi a exportação para a China, que cresceu 20,9% com grau maior de diversificação da pauta e agregação de valor aos produtos. A fonte destaca, por exemplo, o aumento da venda de carne suína, em decorrência do episódio de peste suína no país asiático, mas aponta que outros produtos também avançaram.
De qualquer forma, esse interlocutor ressalta que ainda é cedo para se apontar tendência para a balança brasileira e suas exportações. O quadro do coronavírus já afeta as principais economias e a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) já revisou para baixo a projeção de crescimento global.
No Ministério da Economia, já está em curso um processo de reavaliação da estimativa de alta de 2,4% para a economia brasileira neste ano. O viés é de baixa, dada a percepção de que nas últimas duas semanas houve um agravamento da crise gerada pela epidemia.
Fonte: Valor Econômico.