A certificação vai auxiliar o produtor a realizar um monitoramento mais efetivo de suas atividades, isto é, vai ter a fazenda na mão e gerenciar os indicadores técnicos da propriedade. Também, contribui para um maior entendimento e consequentemente melhor aplicação da Legislação. A certificação abre portas para o mercado e em alguns casos pode gerar aumento no valor final do produto, como é o caso que acontece com o café.
Uma alternativa para a Agropecuária Sustentável é a produção de carne certificada. O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora – é uma associação civil sem fins lucrativos, que busca influenciar as cadeias produtivas dos produtos de origem florestal e agrícola; busca criar modelos de uso da terra e de desenvolvimento sustentável. O Imaflora acredita que a certificação socioambiental é uma das ferramentas que respondem a parte desse desafio, com forte poder indutor do desenvolvimento local, sustentável, nos setores florestal e agrícola.
Confira abaixo a entrevista sobre certificação da carne bovina, com Eduardo Trevisan Gonçalves, gerente de projetos no Imaflora:
BeefPoint: Como ocorreu a certificação de carnes da Marfrig?
Eduardo Trevisan: Atualmente são mais de 250.000 hectares já certificados no Brasil, especialmente em café, laranja, cacau e pecuária.Na pecuária iniciou com a certificação do Grupo JD a primeira fazenda de pecuária do mundo a conquistar o selo Rainforest Alliance Certified. Assim surgiu interesse da Marfrig em certificar a planta de Tangará da Serra-MT e do Carrefour em comercializar este produto. A certificação dos frigoríficos é bem mais simples que o processo nas fazendas, exige uma auditoria anual para verificação do sistema de rastreabilidade, que começa na chegada dos animais provenientes de fazendas certificadas até o produto processado na planta.
BeefPoint: Com que frequência as auditorias têm ocorrido nas propriedades certificadas? Elas estão conseguindo se manter dentro do padrão?
Eduardo Trevisan: As auditorias em frigoríficos e nas fazenda são anuais, e feitas pela equipe do Imaflora. As fazendas têm se mantido dentro do padrão, embora seja bastante comum a melhoria dos processos já que a certificação não exige 100% de cumprimento das normas já no primeiro ano, possibilitando ajustes e melhorias com o passar do tempo.
BeefPoint: Qual a orientação para aquele pecuarista que quer buscar a certificação do produto?
Eduardo Trevisan: Primeiramente o produtor deve descobrir se há produtores na região interessados em certificar suas propriedades, pois a certificação em grupo pode gerar uma economia significativa de custos de auditoria e assistência técnica. Além disso, terão maiores oportunidades de mercado.
É imprescindível avaliar se existem potenciais compradores para o produto certificado na região, como por exemplo, frigoríficos, ou para aqueles que possuem frigorifico próprio ou arrendado, restaurantes, açougues, curtumes, etc.
O Imaflora, pode apoiar fornecendo contatos de compradores e apoiar com assistência técnica especifica para técnicos locais.
BeefPoint: Quais são as vantagens de uma fazenda certificada?
Eduardo Trevisan: A certificação vai auxiliar o produtor a realizar um monitoramento mais efetivo de suas atividades, isto é, vai ter a fazenda na mão e gerenciar os indicadores técnicos da propriedade. Também, contribui para um maior entendimento e consequentemente melhor aplicação da Legislação. A certificação abre portas para o mercado e em alguns casos pode gerar aumento no valor final do produto, como é o caso que acontece com o café.
Outra vantagem, é que o pecuarista entra para um grupo selecionado e reconhecido pela sua preocupação com as questões socioambientais, facilitando acesso à credito, comunicação, etc.
BeefPoint: Quais são os critérios para conseguir o selo de certificação Rainforest Alliance Certified?
Eduardo Trevisan: Os critérios foram desenvolvidos através de consultas públicas realizadas no Brasil e no exterior, com a presença de produtores, empresários, ONGs, sindicatos e universidades e pode ser aplicado em todos os países tropicais.
O conteúdo completo das Normas pode ser acessado nesse link.
Para certificação pecuária, além dos 10 princípios aplicáveis para a agricultura, que contemplam (mas não se limitam) a legislação ambiental e trabalhista brasileira se aplica:
● Ter um sistema de manejo integrado de gado bovino.
● Realizar manejo responsável de pastagens.
● Seguir as regras para o bem-estar animal.
● Redução de emissão de gases de efeito estufa.
● Requisitos ambientais adicionais para esse tipo de propriedade.
● Os animais devem ficar no mínimo 6 meses dentro da propriedade, e é preciso conhecer a origem dos bezerros.
Importante notar que com exceção aos critérios críticos, como trabalho infantil e desmatamento por exemplo, o produtor não precisa atender à todas as normas imediatamente. Em grande parte dos casos é possível a apresentação de planos de adequação e posterior monitoramento dos avanços durante as auditorias.
BeefPoint: Além do Carrefour quais outros lugares comercializaram esta carne este ano?
Eduardo Trevisan: Atualmente no Brasil somente o Carrefour tem comercializado, porém há procura de carne e couro certificados por empresas internacionais como Tesco, Zandbergen e fabricantes de sapatos e bolsas de couro.
BeefPoint: O consumidor tem procurado este produto? Como está sendo feita a divulgação da carne certificada? A demanda está maior com o selo de certificação?
Eduardo Trevisan: A aceitação dos consumidores é muito boa, hoje falta carne certificada no mercado. A demanda de consumidores principalmente da Europa é muito alta e o Brasil atualmente não tem conseguido atender a procura. A divulgação tem sido feita pelo Imaflora principalmente em frigoríficos do país, e em associações de gado de corte.