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Efeito da inoculação com Lactobacillus buchneri na fermentação, estabilidade aeróbica e valor nutritivo de silagens

Por Patrick Schmidt1 e Prof. Dr. Luiz G. Nussio2

Silagens de boa qualidade são mais propensas a deterioração quando expostas ao ar, após a abertura e retirada do silo, e durante a permanência no cocho. Esta deterioração é principalmente devida a leveduras, que metabolizam o ácido lático, previamente produzido por bactérias, e aumentam o pH da silagem, permitindo o crescimento subseqüente da população microbiana aeróbica, que consome carboidratos solúveis e reduz o valor nutritivo do volumoso.

Segundo Moran et al. (1996), a estabilidade aeróbica pode ser definida como o número de horas que a temperatura da massa de silagem permanece estável, antes de elevar em 2oC sua temperatura.

Inoculantes contendo bactérias homoláticas, aquelas que produzem principalmente ácido lático, têm melhorado a fermentação da silagem. Porém, esses tem reduzido a estabilidade aeróbica pós-abertura, uma vez que a produção de compostos antifúngicos, como o ácido acético, é geralmente reduzida. De modo contrário, bactérias ácido láticas heterofermentativas, como Lactobacillus buchneri, têm melhorado a estabilidade aeróbica de silagens, com acúmulo de ácido acético e 1,2 propanodiol. Esse tipo de fermentação pode ser considerada desvantajosa, devido a possibilidade de maiores perdas de matéria seca (MS) durante o processo, e porque altas concentrações de ácido acético podem estar associadas a reduções na ingestão de MS pelo animal. Entretanto, em condições onde a infiltração de oxigênio no pós-abertura do silo não pode ser adequadamente controlada ou onde pequenas perdas de MS durante a fermentação inicial são aceitáveis, incrementos substanciais na estabilidade aeróbica podem ser obtidos, durante a retirada da silagem e fornecimento aos animais, ao utilizar-se esse tipo de microrganismo.

Na Universidade de Delaware, EUA, Ranjit et al. (2002) realizaram dois experimentos com o objetivo de determinar os efeitos de L. Buchneri 40788 (LB) e um inoculante comercial (IC) homolático (L. Plantarum e Pediococcus pentosaceus) na fermentação e estabilidade aeróbica da silagem de milho, armazenada em silos experimentais e silos tipo “bag”, cujos dados e resultados são apresentados a seguir. No primeiro ensaio, foram testadas doses de LB (1×105; 2,5×105; 5×105 e 1×106 UFC/grama de massa verde) e uma dose de IC (1,5×105 UFC/grama de massa verde), em relação à silagem de milho controle. Os silos experimentais, de 20 L, foram armazenados por seis meses e, após a abertura, foram retiradas amostras da silagem para determinações de composição química, bromatológica e estabilidade aeróbica. Os resultados encontrados nesse ensaio estão apresentados na tabela 1.

Após seis meses de ensilagem, a recuperação de MS não diferiu entre as doses de L. Buchneri e o tratamento sem aditivo (controle), sendo menor no tratamento IC. Esses dados discordam dos apresentados na literatura, que afirmam que a fermentação heterolática teoricamente tem menor recuperação de MS que a fermentação homolática (Woolford, 1990).

As silagens tratadas com as maiores doses de LB e IC apresentaram pH mais elevado que o controle. As maiores doses de LB (LB5 e LB10) apresentaram os menores valores para concentração de ácido lático e maiores valores de concentração de ácido acético. O inoculante comercial (IC) não diferiu do controle para esses parâmetros. Os resultados são bem característicos da fermentação ácido heterolática e a maior concentração de ácido acético afetou diretamente a população de leveduras, com redução no número de unidades formadoras de colônias (UFC) nos tratamentos com LB, e melhorou a estabilidade aeróbica no pós-abertura (figura 1).

A silagem de milho sem aditivo (controle) manteve-se aerobicamente estável por 38 horas, não diferindo da silagem com o inoculante comercial (IC). A inoculação com L. Buchneri aumentou a estabilidade aeróbica com o aumento das dosagens, sendo que para os tratamentos LB5 e LB10, não houve aquecimento durante o período de monitoramento (572 horas). Esses resultados corroboram as afirmativas da importância da fermentação heterolática na manutenção do valor nutritivo da silagem após a exposição ao ar.

Em seu segundo ensaio, Ranjit et al. (2002) verificaram o efeito da adição de L. Buchneri à silagem de milho, em grande escala, e seu efeito nas características fermentativas e de desempenho com ovinos. Foram usados silos do tipo “bag” e a dose aplicada de LB foi de 4×105 UFC/g massa verde. Após oito meses os silos foram abertos e os animais tratados por quatro semanas. Os resultados são apresentados na tabela 2.

As mudanças na fermentação devidas à inoculação com LB foram similares àquelas obtidas no ensaio em silos experimentais. Não houve efeito da inoculação no pH e na concentração de ácido lático na silagem. A concentração de ácido acético foi mais elevada na silagem inoculada com LB, e esta apresentou uma menor contagem de leveduras, que a silagem controle. A estabilidade aeróbica foi aumentada com a inoculação. Em relação ao desempenho, o tratamento não afetou a ingestão de matéria seca (IMS); porém elevou a taxa de ganho de peso dos animais. A preocupação com a depressão da IMS devida ao alto teor de ácido acético na silagem não se confirmou.

A análise dos resultados obtidos permite concluir que a fermentação ácida heterolática mediante inoculação com L. Buchneri elevou a produção de ácido acético na silagem, reduzindo substancialmente a degradação aeróbica no material após a abertura do silo. O inoculante comercial (L. Plantarum e Pediococcus pentosaceus) não afetou a fermentação ou estabilidade aeróbica da silagem de milho. O fornecimento de silagem inoculada com L. Buchneri a cordeiros não afetou a ingestão de matéria seca, mas aumentou a taxa média de ganho diário de peso. O tratamento de silagens com L. Buchneri pode ser recomendável em situações onde a taxa de remoção de silagem do silo é insuficiente para prevenir aquecimento e deterioração, e quando a silagem é transportada ou exposta ao ar por algum tempo antes da oferta aos animais.

LITERATURA CITADA:

MORAN, J.P.; WEINBERG, Z.G.; ASHBELL, G.; HEN, Y; OWEN, T.R. A comparison of two methods for the evaluation of the aerobic estability of whole crop wheat silage. In: International Silage Conference, 11., Aberystwyth, UK. Proceedings…University of Wales, 1996. p.162-163.

RANJIT, N.K.; TAYLOR, C.C.; KUNG Jr., L. Effect of Lactobacillus buchneri 40788 on the fermentation, aerobic estability and nutritive value of maize silage. Grass and Forage Science, v. 57, p. 73-81, 2002.

WOOLFORD, M.K. The detrimental effects of air on silage. Journal of Applied Bacteriology, v.68, p. 101-116, 1990.


FIGURA 1 – Efeito dos aditivos na estabilidade aeróbica da silagem de milho. C = controle; LB = L. buchneri 1×105 UFC/g; LB2,5 = L. buchneri 2,5×105 UFC/g; LB5 = L. buchneri 5×105 UFC/g; LB10 = L. buchneri 1×106 UFC/g; IC = inoculante comercial 1,5×105 UFC/g. Barras com letras diferentes diferem enre si (P<0,05).

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1 Patrick Schmidt, Zootec., MSc.
2 Prof. Dr. Luiz G. Nussio, Depto. Zootecnia/ESALQ

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