A recuperação de áreas em processo de degradação é um dos temas mais discutidos entre técnicos e produtores. Nos últimos artigos desta série, foram abordados temas como métodos de controle de plantas invasoras e necessidade de reforma de áreas de pastagens. No entanto, um dos pontos mais importantes para a tomada de decisão é o efeito do nível de infestação sobre a produtividade e a capacidade de recuperação do pasto.
Dobashi et al. (2001) estudaram o efeito da taxa de infestação de camboatá sobre o processo de recuperação de áreas de braquiária. O experimento foi desenvolvido em Ribas do Rio Pardo, MS. O nível de infestação foi determinado contando-se o número de plantas por parcela e determinando-se a porcentagem de cobertura do camboatá pela metodologia da linha transecta (a cada 20 cm verificava-se a presença ou não do camboatá). Foram avaliados quatro níveis de infestação: alto (6 plantas/m2 e 49% de cobertura da área); médio (2 plantas/m2 e 35% de cobertura da área); baixo (0,6 plantas/m2 e 13% de cobertura da área) e sem infestação (testemunha). Foi verificado também o efeito da adubação com: 1,0 t/ha de calcário dolomítico; 500 kg/ha de superfosfato simples; 50 kg/ha de cloreto de potássio; 50 kg/ha de FTE BR-12; e 150 kg/ha de 20-05-20 a cada pastejo. As plantas de camboatá apresentavam, em média, dois anos de rebrota. A massa de forragem foi determinada com o auxílio de um quadrado de 0,5 m2, sendo retiradas cinco sub-amostras por parcela em cada avaliação. Os resultados obtidos podem ser verificados na Tabela 1.
Tabela 1. Produção de matéria seca (kg MS/ha) nos dois ciclos de pastejo e total em função da taxa de infestação de camboatá e da adubação.
Neste experimento, Dobashi et al. (2001) verificaram que houve um efeito positivo da adubação sobre a recuperação do pasto, independente do nível de infestação da planta daninha, mas que as respostas à adubação foram superiores nos tratamentos em que o nível de infestação era menor. Os autores ressaltam que há uma interação entre adubação e controle de invasoras, sendo que a produção total de forragem nas parcelas adubadas e sem camboatá foi 2,5 vezes superior à produção nas parcelas onde a infestação era alta e não adubada. Neste trabalho, foi concluído que há a necessidade de um manejo integrado da adubação e do controle de plantas daninhas no processo de recuperação de pastagens de braquiária infestadas por camboatá.
Comentário dos autores: apesar da importância do nível de infestação sobre o processo de recuperação de um pasto, poucos trabalhos publicados na literatura têm enfocado este problema. Os resultados apresentados por Dobashi et al. (2001) mostram, por exemplo, que a presença do camboatá só interfere na produção de áreas não adubadas quando o nível de infestação é alto (6 plantas/m2 e 49% de cobertura da área). Por outro lado, a resposta à aplicação de fertilizantes está diretamente relacionada ao nível de infestação, ou seja, as respostas são maiores nas áreas menos infestadas. Essas informações indicam que o “nível de dano econômico” está diretamente relacionado ao sistema de produção em questão. Além disso, esses dados mostram que em áreas onde se pretende intensificar a produção por meio de adubação nitrogenada deve-se, antes de mais nada, controlar as invasoras a fim de aumentar a eficiência de uso do fertilizante. A determinação de “níveis de dano econômico”, à semelhança do que foi feito para pragas de cultura, seria extremamente útil para guiar as ações de técnicos e produtores. Essa, no entanto, não é uma tarefa simples, pois depende das características das espécies envolvidas na competição (forrageira e invasoras), do sistema de produção adotado e dos fatores de produção disponíveis (fertilidade do solo, pluviosidade, etc).
Fonte: DOBASHI, H.F.; PENATI, M.A.; CORSI, M.; PIEDADE, S.M.D.S. Efeito da taxa de infestação de camboatá (Cupania vernalis Camb.) no processo de recuperação de pastagens de Brachiaria decumbens no município de Ribas do Rio Pardos, MS. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38, 2001, Piracicaba, Anais… Piracicaba:SBZ. 2001.