Para determinação das exigências energéticas de bovinos é essencial a determinação do tamanho dos órgãos internos, pelo fato de que variações nas partes não componentes da carcaça levam a variações nos valores de exigência energética para mantença. Outro valor de extrema importância que é muito influenciado pelo tamanho dos órgãos internos é o rendimento de carcaça.
Os tecidos viscerais consomem aproximadamente 50% da energia destinada para mantença, enquanto os músculos vão consumir ao redor de 23%. O peso do corpo vazio (PCV) representa de 75 a 95% do peso vivo do animal, sendo essa variação atribuída à raça, peso, estado fisiológico, tipo de dieta e número de horas em jejum a que foram submetidos os animais. A origem do animal tem grande influência no tamanho do trato gastrintestinal, com animais de origem leiteira apresentando um maior peso de trato gastrintestinal que animais de corte.
A concentração do conteúdo do trato gastrintestinal em relação ao peso vivo tende a aumentar de acordo com o crescimento do animal. Logo após o nascimento, a relação entre o trato gastrintestinal e o peso vivo é ao redor de 50g/Kg PV, aumentando rapidamente para 200g/Kg PV para animais com 250 Kg de PV, e diminuindo para 120g/Kg PV para animais com 350 Kg PV. Ao analisarmos o desenvolvimento do trato gastrintestinal, percebemos que o mesmo atinge a maturidade antes das demais porções do corpo do animal.
O enchimento do trato gastrintestinal varia de acordo com as características do alimento, por exemplo, é maior quando os animais ingerem feno do que silagem de uma mesma forrageira, e é proporcional ao tamanho das partículas do volumoso. Sendo assim, a inclusão de concentrado na dieta diminui o conteúdo gastrintestinal.
O regime alimentar influi diretamente no tamanho dos órgãos internos de bovinos. Animais que sofreram restrição alimentar estarão com os órgãos internos menores, e conseqüentemente, grande parte do ganho compensatório está relacionado ao restabelecimento do tamanho dos órgãos internos, principalmente o fígado.
Véras et al. (2001) avaliaram o conteúdo gastrintestinal e o tamanho dos órgãos internos de bovinos Nelore com cinco níveis de concentrado na dieta: 25,0; 37,5; 50,0; 62,5 e 75,0%, base seca.
O conteúdo gastrintestinal diminuiu com o aumento da inclusão de concentrado na dieta. O peso de coração e pulmões não variou em relação aos diferentes níveis de concentrado, provavelmente pelo fato de serem órgãos vitais e terem prioridade na utilização dos nutrientes, independente do nível de alimentação.
Tabela 1: Médias de pesos absolutos (Kg) de conteúdo gastrintestinal (CGT), coração, pulmões, fígado, rins e baço para os diferentes níveis de concentrado na dieta.
Os pesos de fígado, rins e baço aumentaram linearmente em resposta à adição de concentrado na dieta. O fígado por ser o órgão que metaboliza praticamente todos os nutrientes ingeridos, responde rapidamente ao aumento metabólico.
Tabela 2 Médias de pesos relativos (Kg/100 Kg de corpo vazio) dos órgãos internos para os diferentes níveis de concentrado na dieta.
Os valores de gordura cavitária aumentaram linearmente em relação ao aumento de concentrado na ração. O aumento da quantidade de gordura cavitária está relacionado a maior ingestão de energia (tabela 3)
Tabela 3. Médias de pesos absolutos dos órgãos internos para os diferentes níveis de concentrado na dieta.
Os pesos de rúmen-retículo foram influenciados de forma quadrática pelos níveis de concentrado das dietas. O menor valor de inclusão de concentrado, com 25% da dieta apresentou o maior valor de rúmen-retículo. Os pesos de abomaso, intestino delgado e intestino grosso não foram influenciados pelos níveis de concentrado, não havendo diferença nem nos pesos absolutos, nem nos relativos (Kg/100 Kg de corpo vazio). O peso relativo do omaso diminuiu linearmente em relação à inclusão de concentrado, mostrando uma tendência de involução do omaso em resposta ao aumento dos níveis de concentrado na dieta.
Tabela 4. Médias de pesos relativos (Kg/100 Kg de corpo vazio) dos órgãos internos para os diferentes níveis de concentrado na dieta.
Referências Bibliográficas:
VERAS, A.S.C.; VALADARES FILHO, S.C.; SILVA, J.F.C. ET AL. Efeito do nível de concentrado sobre o peso dos órgãos internos e do conteúdo gastrintestinal de bovinos Nelore não castrados. Rev. Bras. Zootec., v. 30(3), p. 1120-1126, 2001. (suplemento 1)
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Muito bom o artigo em questão. O Dr. Celso Boin é realmente um conhecedor do assunto.
Eu fiz um trabalho com avaliação dos componentes corporais de vacas de corte, encontrei diferenças entre tamanho de órgãos desses animais. O seu artigo vai constar de minha revisão bibliográfica, por se adequar a minha discussão.
Abraços